É oportuno discutir o aborto


Percival Puggina coloca bons argumentos contra a simplificação do debate sobre o aborto

Percival Puggina já foi colaborador de Polemikos. Não é mais. Não precisa. Ele tem seu canal de divulgação através de seu site. Puggina escreveu
bom artigo sobre o aborto (ver
artigo
)
. Ele expõe a falta de argumentos razoáveis para a liberação do aborto. Foi bastante feliz em sua argumentação. Puggina aponta que aqueles que são favoráveis ao aborto apenas alinham motivos para cometer o crime. Os motivos ou atenuantes podem ser nobres, mas não retiram a característica criminosa do ato. Por outro lado, recentemente, aqui em Polemikos, Tirésias da Silva defendeu a legalização do aborto (ver artigo). A discussão é necessária.

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Como ganhar dinheiro com o segredo de “O Segredo”, de Rhonda Byrne

As propostas do artigo abaixo foram desenvolvidas no instigante livro A Receita – Como enganar muitos e sorrir que está disponível na Amazon.  Compre o e-book e se prepare para conseguir sucesso e fortuna (a qualquer custo).

O Segredo começa com uma citação que é o resumo do conteúdo da obra: “O que está em cima é como o que está embaixo. O que está dentro é como o que está fora.” – Tábua das Esmeraldas, cerca de 3.000 a.C.

Entendeu? Provavelmente não. Vou ajudar. Vou lhe contar como se faz. As próximas palavras que você lerá poderão mudar sua vida. Elas lhe mostrarão como alcançar fama e fortuna escrevendo livros como o de Rhonda Byrne. Segundo a autora, O Segredo é antigo e valioso. Diz ela: “Altamente cobiçado, ele foi transmitido ao longo dos tempos, ocultado, perdido, roubado e comprado por grandes somas de dinheiro.” Parece roteiro do filme Código Da Vince. Pois é mais ou menos por aí. O grande segredo é saber como escrever obras de qualidade duvidosa que tenham apelo popular e faturem milhões. Neste ramo, o livro O Segredo é exemplar. Já vendeu cerca de 10 milhões de cópias e gerou uma coleção de outros livros que pretendem tirar uma casquinha do sucesso do original. A autora Rhonda Byrne nos apresenta um modelo para se conseguir tudo que se deseja. Pelo menos, no que se refere aos desejos dela, o objetivo foi atingido. Ela e seus editores devem estar zilionários. Seja para ganhar dinheiro, curas milagrosas, sucesso profissional ou no amor, para tudo serve o dito Segredo. A apresentação do livro traz a boa nova: “Agora O Segredo está sendo revelado ao mundo.” Pois vou fazer o mesmo. Trarei a você “A Receita”, as regras mães de todos os livros de autoajuda. Vou lhe ensinar a ganhar dinheiro e usufruir de todas as maravilhas da vida. Você lerá a seguir um resumo do livro. Prepare-se, você será apresentado nas próximas linhas à definição de um projeto que pode levá-lo a fortuna. Se você for diligente, poderá conseguir até a vida eterna. Só depende de você. Pessoas espertas, como é o caso do bruxo Paulo Coelho, amealharam dinheiro e fama através do emprego da fórmula que vos passo a seguir. Enfim, A Receita se revela! Apresento aqui apenas o material básico. É claro que guardo alguns pulos-do-gato para vocês tomarem conhecimento quando comprarem e lerem A Receita. Passemos às regras de ouro:

– Regra I. Invente algo cuja eficiência não possa ser comprovada.

Isto é fundamental. Se sua ideia for realista, você está frito. Se for algo palpável, mensurável, não dá certo. Os ingênuos não acharão graça e os racionais vão cobrar os resultados. Você pode acabar na Justiça, respondendo a inúmeros processos contra propaganda enganosa. Fale sobre causas (seu método) e consequências (os resultados desejados pelos leitores), mas tome o cuidado de definir tudo de modo que uma coisa não tenha relação com a outra. Crie procedimentos que eventualmente combinam com os resultados desejados. O importante é que uma coisa possa levar à outra. Ou não! Resumindo, não há relação de causa e efeito entre o que você recomenda e o que acontece, mas você deve falar o tempo todo sobre esta vinculação. Por exemplo: se você oferecer a cura de uma doença, escolha alguma daquelas que eventualmente se curam sozinhas. Assim, você sempre terá a seu favor aquelas pessoas que se curaram e que jurarão que foi você o responsável. A homeopatia é mais ou menos assim e faz o maior sucesso. Se o sujeito se cura, é um milagre, se morre, dizem que era seu destino.

– Regra II. Dê exemplos de sucesso do seu método.

Isso! O povo adora generalizar um caso de sucesso. Como diz o meu ditado: “Para um bom ingênuo, um caso de sucesso vale mais que cem fracassos.” Relate casos de curas médicas extraordinárias. É claro que não precisa ser verdade. Pode inventar. Conte de gente que ficou milionário com suas dicas. Não precisa exagerar e contar que um moto boy, depois que leu seu livro, teve um caso com a Gisele Bündchen. Vá mais devagar. Por que não dizer que VOCÊ teve um caso com ela? Se o objetivo do método for fazer fortuna, descreva como pessoas ficaram milionárias com ele. Diga que Bill Gates foi um de seus seguidores. Claro que a relação dele com você é secreta e, portanto ninguém sabia disso antes de você decidir contar ao mundo.

– Regra III. Cite sábios e cientistas que utilizaram suas recomendações.

Cite personagens antigos brilhantes (Galileu e Einstein são boas pedidas). Isso contribui para dar uma aura de científico à sua proposta, por mais estapafúrdia que ela seja. Esta respeitabilidade falso-científica é cultuada pelo leigo. Gente com títulos pomposos agradam bastante. Em O Segredo, a autora começa citando o renomado “Dr. Joe Vitale, Doutor em Ciência Metafísica”. Seja lá o que isso for, temos que concordar: essa Rhonda Byrne é genial!

– Regra IV. Não fique só na conversa, proponha um método.

Em determinado momento de sua obra, proponha um método bem rigoroso para seus seguidores. Veja o exemplo do método Dentifrício do Dr. Snow. Ele professava que a pessoa deveria escovar os dentes todos os dias, após o café da manhã, e, neste momento, olhando firme para a sua imagem no espelho do banheiro, estabelecer um objetivo de crescimento pessoal, sentimental ou profissional para atingir naquele dia. Notem que o exemplo é meio idiota. Não poderia ser de outra forma, pois inventei agora mesmo. Mas ele serve para mostrar a necessidade de você propor alguma coisa. Não pode ficar enrolando o crédulo leitor sem oferecer nenhuma proposta para ele. Proponha um modelo de ações que o leitor deverá fazer que o leve a ter sucesso no amor, no dinheiro etc.. Cuide para que haja alguma ambiguidade nas regras para seu seguidor poder explicar mais tarde seus fracassos. Ele ficará convencido que não teve sucesso por não ter cumprido as regras da maneira certa. O bom dessa abordagem é você se proteger de cobranças futuras quanto aos resultados. Se o pobre coitado não consegue criar uma nova Microsoft, concluirá que não foi bem sucedido porque não se esforçou, não acreditou o suficiente ou não seguiu corretamente suas estranhas regras.

– Regra V. Apele para o místico.

O místico não tem mesmo explicação. Nada é tão alucinado como Florais de Bach ou emanações de Reiki, mas a rapaziada acredita. Use o misticismo sem cerimônias. Como é impossível de explicar, suas explanações parecerão complexas e darão brilho e sofisticação a seu método. Acrescentar algumas práticas indianas pegam muito bem. Quanto mais distante geograficamente ou no tempo for a civilização citada, mais o povo se exalta com suas sábias palavras. Diga, por exemplo, que os originais do seu método foram encontrados em pergaminhos escritos em aramaico antigo, num deserto entre os rios Tigre e Eufrates. Pode abusar na dosagem sem se ruborizar. Você verá como sempre surgirão crentes para sua conversa.

Há uma variante dessa regra: “combinar as regras IV e V”, ou seja, misturar o pseudocientífico e o místico. O artifício mais comum é usar a física quântica. Faça declarações peremptórias sobre a teoria quântica, incluindo que ela seja o elo entre o místico e o científico. Com essa conversa você mostrará que o místico funciona e que a ciência séria não pode explicar tudo. É eficiente. A teoria quântica é excelente material. Ninguém entende direito e seu charme é irresistível.

– Regra VI. A embalagem. Atenção total para a forma.

Seu livro deve ser de capa dura. A razão é simples: todo mundo acha que um livro de capa dura é mais sério que uma brochura. E não se esqueça de escrever pouco. Seus leitores não querem literatura, querem ficar ricos e famosos. Recomende a seu editor usar títulos com letras grandes, que o texto seja em letras avantajadas e que haja boa distância entre os parágrafos. Fotos que preencham páginas inteiras também são úteis para aumentar o volume do seu livro, compensando o minguado texto.

Dependendo do seu projeto, nesses nossos tempos modernos, é recomendado combinar várias mídias. Lance logo um DVD, que é muito bom para atender ao público mais sincero, que não quer ler nada mesmo e prefere um filme. Vídeos postados no YouTube podem ser úteis. Há que tomar cuidado, pois a vanguarda tecnológica não é bem vista para lançar “segredos” antigos que podem mudar sua vida. Ou seja, o bom e velho livro de papel ainda tem a pompa adequada para lançar um best seller de autoajuda. Eu vou fazer assim com A Receita. Rhonda fez no início com O Segredo.

– Regra VII. Não seja modesto em suas promessas.

Não se limite a dizer que o sujeito vai ganhar R$10 mil com as práticas que você recomenda. Diga logo que ele vai “bombar” e ganhar um milhão! Por outro lado, mesmo que venha a ter que responder a um processo por curandeirismo, não diga que vai curar o resfriado do leitor, diga que suas recomendações vão impedir que ele tenha qualquer doença ou vão curá-lo de um câncer terminal. A autora de O Segredo é muito ousada no uso dessa regra. São suas palavras: “Você sabe que as crenças sobre envelhecimento estão apenas em nossas mentes. A ciência explica que temos um corpo inteiramente novo em pouco tempo. Envelhecimento é pensamento limitado…” Não entendi bem o ponto de vista da esperta Rhonda Byrne, penso que ela tenha delirado um pouco nesse trecho do livro. Mas, em vista do sucesso que alcançou, ela é a prova viva (e rica) de que ousar na regra das promessas dá bom retorno.

– Regra VIII. O “efeito placebo” ou “aplacador de consciências”.

Talvez haja algo de bom nos livros de autoajuda. Use sua conversa sem sentido para fazer o bem. Desenvolva um projeto que leve as pessoas a se esforçarem em conseguir as coisas. Se seu esquema não cura nem leva o sujeito a ter qualquer tipo de sucesso, pelo menos não o mate nem conduza o infeliz a falência. Direcione para que as pessoas que caírem em sua história se concentrem em buscar o sucesso, isso pode lhes fazer bem. Se suas propostas lhes derem o foco nos problemas, será um fator indireto que pode resultar em algo de bom. Você será um fator motivacional para os leitores. A fé que você pode embutir num discípulo de sua seita de autoajuda pode levar o sujeito a trabalhar duro e vencer na vida. Também pode movê-lo a se sentir melhor mesmo estando para morrer. Pode retirá-lo de um estado de depressão que seria ruim para sua saúde. No mínimo ele poderá morrer mais feliz. É o efeito placebo, você não deu nada para o sujeito, mas, mesmo assim, ele melhora. Percebeu? Você será quase um santo! Magnífico. Você pode ficar rico e famoso e ainda dormir tranquilo por ajudar aos outros.

– Regra IX. Seja fiel àquele que lhe conduziu à fortuna. Quem? Sou eu!

Depois de ficar milionário colocando em prática minhas sugestões, não se esqueça de me escrever (por favor, use o link de comentário mais abaixo) pedindo o número da conta. Faça um depósito polpudo em retribuição aos serviços que prestei ao lhe dar esta grande ideia. Agradeço desde já.

Em tempo, o livro O Segredo é um caso de sucesso da utilização das valiosas regras que passamos a vocês aí atrás. Rhonda Byrne foi uma de nossas mais aplicadas discípulas. Ela pecou apenas por não utilizar a Regra IX. A ingrata não nos repassou nem um dólar sequer. E para terminar citamos uma pérola dos ensinamentos de Mrs. Byrne: “A única razão pela qual uma pessoa não tem dinheiro suficiente é estar impedindo com seus pensamentos que o dinheiro chegue até ela.” Pois é, deixe de ser incompetente, pare de pensar negativo, compre meu livro, use nossas regras, fique rico e deposite dinheiro na minha conta. Aguardem meu futuro sucesso de vendas: o livro A Receita.
(Ernesto Friedman)

Por que os senadores roubam?

uma explicação técnica para os corruptos brasileiros

Por que os senadores roubam? Eles têm boa vida. Ganham bem. O trabalho de liderar o legislativo de uma nação deveria ser por si só gratificante. Mesmo assim, eles buscam riqueza financeira por caminhos escusos. E fazem isso roubando o dinheiro do povo. Continue lendo “Por que os senadores roubam?”

Somos pela Liberação do Aborto

Feriado da Páscoa. A Igreja, através de seus sacerdotes, aproveita a visibilidade para atacar o movimento pela discussão da legalização do aborto. Notem bem: a Igreja, tradicionalmente contrária ao aborto, não quer discutir o problema, procura atuar para impedir que o assunto seja tratado pelo povo através da maneira mais democrática: um plebiscito sobre a legalização do aborto. Portugal, recentemente, teve seu plebiscito e o aborto foi legalizado.

Mas parece que as coisas não serão tão fáceis para os religiosos. O novo governador do Rio, Sergio Cabral, deu a deixa. Ele se declarou a favor do planejamento familiar. Mais precisamente, ele considera que a discussão sobre o aborto deve acontecer. O Ministro da Saúde José Temporão também defende a realização de plebiscito sobre a legalização do aborto. Para ele esse é um assunto de “saúde pública”. O tema “legalizar o aborto” aparece com força nas agendas políticas e na imprensa. Zuenir Ventura usou seu espaço na página de opinião para comentar sobre as meninas-mães. Trata-se do enorme índice de mulheres, ainda crianças, que ficam grávidas em nosso país. Ancelmo Gois também tratou do assunto na edição de domingo do jornal. Miriam Leitão, faz algum tempo, declinou a estatística crua que mostra o perigoso caminho que nosso país está seguindo. É mais ou menos assim: as mulheres brasileiras mais miseráveis têm muito mais filhos que aquelas que têm condições de criar bem seus filhos. Uma mãe na faixa de renda abaixo de um salário mínimo tem em média mais de cinco filhos. A taxa para as mulheres com renda superior a 10 salários mínimos é de apenas 0,6 filhos por mulher! Assim, como bem registra Zuenir Ventura, o país está crescendo através de crianças geradas sem uma perspectiva de vida minimamente descente. Esses filhos e filhas, na maioria das vezes, vão compor um lar onde o pai foge de sua responsabilidade, deixando a mãe jovem para cuidar da criança. Essas famílias (ou semi-famílias) são o celeiro de crianças violentas, sem estrutura para freqüentar escolas, destinados desde sempre à marginalidade. E depois ficamos reclamando da violência das cidades? Todos conhecem a mais comentada das sacações do livro Freaknomics, que defende que a causa da diminuição da violência em Nova York não foi a política de repressão mais rígida. O motivo real foi a aprovação da legalização do aborto em 1973, que impediu a geração das crianças indesejadas, aquelas mais prováveis de se tornarem os marginais.

Então, este é o assunto do dia. A Igreja já disparou seu discurso contra o aborto ou qualquer prática de planejamento familiar. Sua orientação passa pela solução mais óbvia e pouco eficaz de ser implementada, que é o puro e simples celibato. Sexo, fica para procriação. Sem dúvida, uma proposta atual e alinhada com os anseios e realidades dos cidadãos e cidadãs. De nossa parte, ficamos com a posição radical. O aborto deve ser aprovado no país! Que seja legalizado o direito da mulher sobre seu corpo. Que não tornemos marginais as mulheres que realizam abortos a cada ano. Fiquem surpresos: o número de abortos supera o número de partos. O trabalho não é pequeno. Além do aborto, um grande projeto de educação é a solução maior para esclarecer os jovens do impacto em suas vidas se gerarem filhos indesejados ou não planejados. Entretanto, que se tome vergonha: comecemos, legalizemos o aborto em nosso país.

a problemática do pau grande

Alguém tinha que botar o pau na mesa. Um tinha que se arvorar de macho e tomar de providência. E num é que a iniciativa veio bem de uma criatura pertencente ao sexo frágil. A moça, trabalhando na Saúde, representante do povo vigoroso do Nordeste, veio a público reclamar do tamanho das camisinhas. Continue lendo “a problemática do pau grande”

Vamos discutir, droga!

Aproveito a deixa. O tema da descriminalização das drogas voltou à agenda de discussão. Arnaldo Bloch, em sua coluna semanal de O Globo, comentou o assunto há cerca de duas semanas. Chico Buarque, na entrevista sobre seu novo disco, também abordou a necessidade de retomar a discussão sobre o problema das drogas no Brasil. O deputado Gabeira costuma abordar o assunto. É auspicioso que eles tragam o tema para o debate. Infelizmente, em geral, o assunto drogas é tratado entre a hipocrisia e histeria. Continue lendo “Vamos discutir, droga!”