Samba Guardado
Guilherme de Brito

Achado

A nossa música popular é fecunda em parcerias. Há parcerias históricas e longevas. Há parceiros fiéis como num casamento perfeito e parceiros mais poligâmicos. A parceria entre Aldir Blanc e João Bosco durou bastante e gerou muitas músicas fantásticas. Depois de separados, nenhum deles foi o mesmo. Agora, Aldir parece ter encontrado novamente um parceiro à sua altura. O violonista Guinga. Já o letrista Paulo César Pinheiro tem vários parceiros, alguns dos quais são muito fiéis a ele. Produziu músicas excelentes com Dori Caymmi, Eduardo Gudin e João Nogueira entre muitos outros. O mesmo aconteceu com o poeta Vinícius de Moraes, que teve vários parceiros e era extremamente ciumento, não gostando que seus parceiros compusessem com outros letristas.

E há casos de compositores geniais, que por isso mesmo, acabaram encobrindo e anulando alguns parceiros. Um exemplo clássico disso foi o de Noel Rosa e Vadico. A genialidade do poeta da Vila acabou por deixar o excelente músico, parceiro seu em excelentes obras, em um longínquo segundo plano. Vadico foi autor de muitas pérolas de nossa música como Feitio de Oração, Pra que Mentir, Feitiço da Vila, e Conversa de Botequim. Todo mundo conhece essas músicas e as associam ao nome de Noel. E Vadico?

Outro importante exemplo é o que ocorreu com o grande sambista Nelson Cavaquinho e seu mais constante parceiro, Guilherme de Brito. Assim como no caso de Noel e Vadico, alguns sambas memoráveis como Folhas Secas, Pranto de Poeta e Quando eu me Chamar Saudade, são facilmente associáveis ao nome de Nelson. Mas ninguém se lembra de seu parceiro. Muita gente considera os primeiros versos de A Flor e o Espinho como os mais bonitos da nossa música:

"Tire o seu sorriso do caminho
que eu quero passar com a minha dor..."

De quem são esses versos? Guilherme de Brito.

Pois a maneira de corrigir essa injustiça é comprar e ouvir o CD Samba Guardado, lançado pelo selo Lua. Pois Guilherme foi encontrado no esquecimento de sua casa em Bonsucesso pelo compositor Moacyr Luz (parceiro de Aldir Blanc e Paulo César Pinheiro num dos sambas mais bonitos feitos ultimamente – Saudade da Guanabara) e isso resultou nesse disco. São sambas excelentes, a maioria deles em parceria com Nelson Cavaquinho e muitos deles completamente desconhecidos do grande público. É um disco do mais refinado e autêntico samba, tão raro nos dias de hoje. Não é seu primeiro disco, como andou saindo em alguns jornais. Ele já havia gravado o LP Guilherme de Brito pelo selo Eldorado em 1980. O disco passou completamente despercebido. E agora, 20 anos depois, é bom perceber que seu vozeirão continua potente e afinado.

Há duas participações mais que especiais nesse CD. Luiz Melodia canta Maria, música apenas de Guilherme e Cássia Eller canta Erva Daninha, de Guilherme e Nelson. É bom perceber que Cássia é também uma ótima cantora de samba.

Enfim, um CD que vale a pena. Pra quem gosta do verdadeiro samba. Pra quem tem saudades de Nelson Cavaquinho.

- Arnaldo Heredia  -


 

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opinião dos leitores sobre o artigo acima ( ver artigo )

19.04.2003

Estava procurando na internet a letra de um samba que eu acabara de ouvir numa rádio brasiliense especializada em "música dos velhos tempos", do qual conheço apenas o refrão:- "... porque senão ela chora e diz que vai embora, oi, e diz que vai embora..." Então encontrei esta página com um artigo de Arnaldo Heredia, sobre samba e gostei muitíssimo. Sendo carioca, mas moradora em Brasília há anos, fiquei com muitas saudades do Velho Rio e de seus velhos sambas verdadeiros. Parabéns pelo seu excelente artigo, Heredia, e por tudo de bom que ele desperta em quem o lê.

Atenciosamente. MC


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01agosto2001
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