O Jornal Nacional de 5a feira, 11 de março, apresentou uma reportagem (ou merchandising) sobre os carros dos ricos e seus vidros a prova de bala. Aproveitava o fracasso do seqüestro dos filhos do ex-dono do Banco Garantia para vender carros blindados. Parecia um shopshow em horário nobre. Para chocar, mostrou um executivo que estava pensando em instalar os tais vidros, não fez, e a esposa foi morta em uma tentativa de assalto. Trágico. Mas, o que eu tenho a ver com isso? Rigorosamente: nada. Não me chamo Manuel, não moro em Niterói ... Digo: Não sou rico. Não pertenço a maravilhosa elite brasileira. Não me aproveitei da ditadura para amealhar uma fortuna. Não votei no Collor para, a qualquer custo, preservar meu iate e a casa em Angra. Não formo grupo de apoio para o FHC usar seu mandato para garantir outro mandato. Não fui informado, antes, que o dólar ia subir e mandei meu dinheiro para fora do país. Assim, a propaganda paranóica é para eles mesmos. Aqueles que nos assistem ir para o buraco, enquanto circulam em carros importados. Um ou outro honesto que fez fortuna trabalhando, vai pagar por residir neste país miserável que nossos poderosos desenharam. São ossos do ofício. Esta é a tendência para o quintal sul-americano chamado Brasil. Mais condomínios fechados, mais guardas privados, segurança eletrônica e vidros resistentes a tiros para separar os ricos dos otários que tentam sobreviver nesta terra. A tecnologia fornece recurso para os poderosos se isolarem da violência e corrupção que o cidadão comum enfrenta no dia a dia. Nós, os otários, aqui fora, ganhamos as balas perdidas que ricocheteiam no vidro dos carros deles. -Tirésias da Silva- |
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