Brasil antecipa Y2K !

O Brasil demonstrou, na semana passada, que não quer sair mais do noticiário mundial. Depois da crise do dólar, em fevereiro, quando nossa possibilidade de dar um calote globalizado superou nossa fama no futebol, o Brasil, como um grande parque temático da incompetência, conseguiu ter uma pane em 90% do seu sistema elétrico, graças, segundo as mal explicadas entrevistas coletivas do governo, a um raio elétrico numa estação de transmissão do sul do país. O mundo ficou perplexo. O que é o problema do bug do milênio quando se tem um país como o Brasil? Brincadeirinha de criança. Depois desse blecaute de 5a feira, podemos ficar tranqüilos. Está demonstrado que o Brasil, na sua ânsia pela modernidade, está muito na frente do resto do mundo. O bug do milênio já está chegando por aqui em março. As chuvas de março chegaram em São Paulo em fevereiro. Em janeiro, explodiu o dólar que o governo segurou durante o ano eleitoral de 98. O que podemos esperar para abril? Um confisco geral? O enredo pode ser esse: Malan vai para a cadeia nacional (esclareço: a TV) e diz: - Vocês acham que o dinheiro de vocês está guardadinho nos bancos? Vocês acham que a poupança está protegida? Um sorriso maroto, silêncio e conclui: - Tá não, confiscamos tudo. Primeiro de abril!!

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No domingo de manhã, abro o jornal e me deparo com seguinte notícia: "assessoria do presidente está preocupada com sua imagem". Não fiquei surpreso por que esta preocupação também é minha. Também estou achando a imagem do FHC ruim. E não é de agora. Acho que o presidente saiu desta aventura da fixação do dólar mais sujo do que pau de galinheiro. Muito embora isto tenha sido apenas o ponto alto de uma trajetória de pequenos escândalos que nós teimávamos em relevar. Nos iludíamos com o sonho da moeda forte, preços estáveis e um mínimo de orgulho nacional, que o governo apresentava como carro chefe de suas realizações. E agora? As coisas ficaram constrangedoras para todos nós. Para ele, por ser flagrado com o nariz espichado das promessas que sabia não poder cumprir. Para nós, por termos compactuado com a farsa, aceitando-a. Nós? Nem todos. Os milionários - estrangeiros e brasileiros - tiraram os dólares deles antes da desvalorização. Esses é que sabem compactuar. A gente, sempre a gente, é que fica para pagar a conta.

Pois é presidente, sua imagem vai mal. Entretanto, numa época de propaganda sofisticada e eficiente, onde se vende qualquer coisa, nota-se que o que tira o sono de sua assessoria não é como mudar de rumo, de atitudes ou alianças. O que preocupa mesmo é a dificuldade em continuar enganando a rapaziada. O rei está nu. Está cada vez mais difícil vestir o governante que o retorno da inflação despiu frente à opinião pública. Se esse rei não está destituído de roupas, no mínimo, foi pego de calças curtas.

-Tirésias da Silva-


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15março1999
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