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Belgrado e os desempregados

A Otan bombardeou o prédio da televisão iugoslava em Belgrado. A notícia provocou surpresa. Afinal uma estação de TV não é o que se pode chamar exatamente de alvo militar. Entretanto, esta ação humanitária dos bombardeiros americanos e aliados reforça algo que ficou claro desde a Guerra do Golfo: informação é importante e está sendo tratada como arma de guerra. Vejam que o americano tomou especial cuidado em controlar como as intervenções cirúrgicas contra o Iraque seriam transmitidas para o mundo. Naquela época havia o medo de que as cenas da guerra do Vietnã se repetissem, com cadáveres de soldados americanos embrulhados em sacos plásticos aparecendo no jornal da noite, junto com o jantar das famílias americanas. Assim, não admira que a Otan aja para impedir a ação informadora (ou desinformadora) da TV dirigida pela filha de Milosevic.

Mas o que isso tudo tem a ver com o Brasil? Calma, que a gente chega lá. Vejam por exemplo a manchete do JB de sexta-feira, 23 de abril, "Juro cai mas desemprego ainda é alto". Um primor de informação. Que mensagem fica dessa manchete? Que o juro está caindo e que isso é diretamente relacionado com o preço do colégio do seu filho no mês que vem? Que o desemprego, que está numa tendência declinante, ainda mostra valores altos? Quem lê os detalhes da notícia vê qual é a real situação. A verdadeira manchete seria a seguinte: "O desemprego bate novo recorde: 20% de desempregados em SP". O índice correto é 19,9% mas, como nao estamos falando de preço de liquidação, devemos dizer 20% mesmo. O fato é que o desemprego continua aumentando na maior cidade do Brasil. Já são 1,7 milhão de pessoas desempregadas. É pouco ou quer mais? Dizem que em Sampa há cerca de 200 mil pessoas vivendo de assaltos. Deve ser um novo ramo da economia informal.

E o juro? A revista The Economist fez a conta e concluiu que o aumento de 1% na taxa de juros brasileira aplicado sobre a nossa gigantesca dívida interna, implica em uma diferença de 2 bilhões de dólares ao ano. Assim, podemos sempre ficar felizes quando a taxa baixar. Pelo menos a dívida cresce menos. Mas... voltando aquela manchete: o que o juro importa para aqueles tantos novos desempregados da semana?

-Tirésias da Silva -


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24abril1999
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