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Lama

Uma mancha negra se estende pelo país. Talvez seja marrom, mas sem dúvida é escura. A praia mais bonita do mundo está recebendo portentosa vazão de cocô. Não é pouca merda não. O mar, antes azul e inspirador de poetas e compositores, hoje exala odor de difícil inspiração. Ali, onde a beleza ipanemense se exibe e deita na fama, o fluxo de melífluo magma, que ia se lançar no alto mar, foi interrompido e extravasa impune e fedorento por toda a costa. Mesmo as costas quentes que não podiam ser melhores, não justificam uma continência verbal desta ordem. Mais grave ainda, quando se opõe a uma ordem senatorial. Para um povo cuja baixa estima está tão alta (ou vice versa) uma recusa em responder perguntas tem o valor de mil respostas. Lá dentro, escoando com desenvoltura, o fluxo de decisões de uma terra sem esgoto ético se mostra fétido, indo descarregar em contas bancárias muito longe dos costados do Brasil. Obstruída a verdade, a sujeira de uma administração se espraia pelas superquadras e desemboca em cada lar via embratel. Fede na tela e fede na janela. A imagem enoja. A brisa da tarde traz o odor. Espantados vemos a língua que cala quando devia esclarecer. Estarrecidos vê-se a língua negra que avança para o mar. Por sorte, o sal com o tempo destrói qualquer cocô, assim como o tempo com o tempo, nos faz esquecer de qualquer homem de confiança do presidente que cometa o deslize de ser flagrado. E nossa imagem de cidade turística fica suja. Como fazer um cartão postal marrom? Mas a imagem paradisíaca da impunidade já se globalizou. Os traficantes, corruptos, ladrões e tantas outros crápulas vão preferir nosso Brasil. Serão as melhores palmeiras para se deitar e curtir o dinheiro tão difícil de ganhar. Que venham conviver com nossos inexperientes consultores e donos de bancos! Deitar ao sol na lama acolhedora. E rolar e enrolar e rolar e enrolar...

- Sebastião Agridoce -


 
 

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28abril1999
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