Brasil/Polemikos

FHC é cheio de boas intenções

Afinal o que a gente quer do FHC? Nós podemos atirar a primeira pedra? Nós agiríamos diferentemente dele? Ora, o sujeito fez uma carreira política combinando um jeitão de oposição com o deslumbramento pelo poder, seja ele político ou intelectual. Na loteria da história, caiu-lhe nas mãos a oportunidade de ser a opção contra a esquerda simbolizada pela candidatura Lula. O poder estabelecido competentemente se articulou em torno dele e garantiu a primeira eleição. Da segunda vez já foi mais fácil, a esquerda estava fora do baralho. Mas, enfim, o homem está no poder. Como deve agir? Nós, os críticos, ficamos dizendo que ele tinha que se livrar da influência malévola do PFL, resolver a corrupção entranhada no governo, brigar contra o mau caratismo político e outras pequenas missões como essas. A pergunta é se nós faríamos diferente dele? Ou enfiaríamos a cabeça no buraco do chão e íamos tocando a vida? O característica do FHC é que ele, quando vê o ladrão assaltar a velhinha, não sai correndo atrás. Se estiver razoavelmente em segurança, ele corre pra casa e telefona pra polícia. É um bem intencionado cuidadoso e oportuno. FHC age conforme a dança. Se o PFL é a força do país, eleito pelo povo, governemos com ele. Se os deputados corruptos precisam ser amaciados para votar conforme os interesses do partido, façam-se algumas concessões. Não há duvida que o presidente vive no limite do ético e, mesmo, do legal. Mas – hoje eu só faço perguntas – como poderia ser de outra forma? Nós ficarmos aqui de fora dizendo que ele poderia fazer isso e aquilo é simplesmente cretino. Ele tem que atender ao poder que o elegeu. O capital, seja interno ou externo, quer preservar ou aumentar sua fatia de controle do país. Não nos iludamos, o dinheiro é o grande mandante de sempre. FHC foi eleito por uma estrutura suportada por essa gente. Se ele der uma de maluco, o pessoal dá um jeito de tirá-lo do circuito. Fernando Collor tentou se opor, queira montar uma quadrilha particular para controlar o país. Vocês viram a reação do status quo quando se sentiu agredido. Não pensem que quem tirou o Collor foram os caras pintadas. Se o FHC resolver bancar o Tiradentes e fazer alguma gracinha, o Brasil é capaz até de imitar os americanos e o presidente começar a ser atingido por balas perdidas. Chique pois não?

Assim ficamos. Nosso presidente é um deslumbrado com o cargo, gosta de uma viagenzinha e um bom vinho em Paris. Só decide quando os fatos já decidiram por ele. Não quer sacanear o país, não quer vagar a moita e também não quer botar o dele na reta. E alguém quer? Convenhamos, podia ser pior. Lembram do Sarney? Apesar dos amigos estarem exorbitando no mercado financeiro, o presidente vai bem. Mas o Brasil não! O Brasil precisa de mais do que o remerreme que FHC nos oferece. Esta boiolice executiva do PSDB não vai resolver nada. Mas – última pergunta – você, do jeito que o país está hoje, se estivesse no lugar do Fernando Henrique, corria atrás do ladrão ou deixava a velhinha sem a bolsa, fingia que não viu e ia cuidar de sua próxima viagem ao exterior?

- Ernesto Friedman-

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