brasil
 
E agora presidente?

A Folha de São Paulo, mantendo sua tradição de jornalismo de denúncia, trouxe mais fitas de conversações escabrosas entre o ex-ministro Mendonça de Barros, André Lara Resende, presidente do BNDES, e, pasmem, o presidente Fernando Henrique. Digo escabrosas, por que se observa, em todas as fitas, o tom conspiratório de pessoas envolvidas em algum tipo de operação escusa. Simplificando: membros do primeiro escalão do governo e, agora, contando com a participação do próprio presidente da república, manipularam um leilão público de modo a determinar antecipadamente o vencedor na compra da Telebrás. Para o leitor descuidado, lembro que as quantias envolvidas excedem a casa da dezena de bilhões. Num processo dessa magnitude, para se manter a lisura, todo cuidado é pouco. Pelo que ouvimos nas fitas, não houve cuidado nenhum que não fosse o esforço para definir qual grupo deveria ganhar.

O Folha foi didática na abordagem do crime cometido. Lá podemos constatar que houve: tráfico de informação; favorecimento de empresa em processo público; uso de recurso público (no caso, a fundação Previ) para fins pessoais e as coisas vão por aí. Explico: digo fins pessoais pois não havia nenhuma lei dizendo que o ministro e o presidente devessem escolher o grupo vencedor. Muito pelo contrário.

Tem-se agora um problema mais grave para FHC resolver. No outro conjunto de fitas, quando se descobriu a incontinência verbal do Ministro das Comunicações, a solução foi demitir Mendonça de Barros. E agora? Fernando Henrique vai demitir FHC? Acho que não. Mas é fato que existe uma grande possibilidade de crise política no horizonte.

O governo não ficou imóvel. Não se sabe a porte da força que o governo federal pode usar numa hora dessas, mas é certo que ela é grande. A grande imprensa (exceto a Folha) pareceu curiosamente comedida em tratar o caso. Lendo-se o JB de 26 de maio, fica-se com a impressão de que o jornal carioca concorda com o presidente e acha que é tudo "sensacionalismo". As más línguas – benditas más línguas – já comentaram que o JB não vai fazer uma oposição forte ao governo FHC devido a sua grande dívida com o Banco do Brasil. A posição de fraqueza do governo seria o momento oportuno para o jornal negociar sua dívida em condições favoráveis.

Bem, depois do presidente mostrar que não poupa recursos – nossos recursos, não os dele – para fazer valer seus desejos, não admira se o Banco do Brasil for instruído a ser generoso com o JB para garantir uma cobertura favorável desse jornal. E a esculhambação vai aumentando. Se as bolsas ficarem inseguras e as ações caírem, não há problema, é só fazer como vimos nas fitas, FHC pode telefonar para a Previ e mandar o gigantesco fundo de pensão do Banco do Brasil entrar comprando na bolsa para segurar os preços das ações.

Temos um impasse no país. Este é um momento de decisão. Ou se parte para uma cobrança radical para que a presidência da república explique seus atos, ou se empurra tudo para baixo do tapete sob o argumento típico de que uma crise vai prejudicar todo o processo de mudanças. Engraçado é que há um cheiro no ar... e este cheiro fede. Tenho a impressão de que o governo FHC vai caminhar para o abismo das armações deste grupo palaciano que tem os Mendonça de Barros a frente. Quem sobreviver verá.

- Tirésias da Silva -


mais brasil

Início da página | homepage Polemikos

27maio1999
Copyright © [Polemikos]. Todos os direitos reservados.