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Fundir ou não fundir?

Eu sou burro mesmo. Olha que eu tento. Mas não adianta. Por mais que me esforce, não consigo entender a política econômica brasileira. Nossos economistas e o governo em geral decoraram um discurso sobre competição, cheio de frases de efeito, que é repetido até nossos estômagos não agüentarem mais. A conversa, todos conhecem. Nossa indústria tem que ser competitiva! Para isso, têm que ser desmontados os monopólios. É necessário haver várias empresas competindo para garantir qualidade aos produtos e serviços; para forçar a disputa através do preço; para dar agilidade às empresas; para, enfim, proporcionar preço e qualidade ao nosso mercado.

Pois é. Eu sou chato. Sempre demoro a me acostumar com essas teorias econômicas muito simples e óbvias. Com estas soluções de competição que são ditadas pelos competidores que já ganharam a briga e estão apenas garantindo seu lugar de líder. Afinal, em competição vale tudo. É válido, então, os vencedores convencerem os outros competidores que eles devem seguir as regras que lhes são (aos ganhadores) favoráveis? Boa estratégia, pois não?

As coisas caminhavam dessa maneira. Eu, já meio idiotizado e cansado de ver a trapaça, ou o jogo de influência dentro do governo ou, mesmo, a pura falta de soberania nacional que é crônica no Brasil, começava a acreditar na regra do jogo. Decorei direitinho. O setor de telecomunicações tinha que ser fatiado para que houvesse várias empresas competindo, oferecendo serviços cada vez mais baratos e melhores para conquistar consumidores. Um belo modelo de economia de mercado.

Segundo esta estratégia industrial brasileira, se é que existe isso, a Petrobrás, por exemplo, também deveria ser repartida para haver mais competição no mercado de combustíveis. Este argumento na área do petróleo não é muito forte pois a tendência mundial é as empresas se juntarem e verticalizarem suas áreas de atuação. Agora mesmo, em 5 de julho de 1999, a Totalfina ofereceu cerca de 40 bilhões pela Elf francesa. Mas isso não interessa! O Brasil é um país a frente do seu tempo! Um celeiro de experiências de administração. É o fervoroso seguidor da cartilha do FMI e de outras pressões a que tem que se sujeitar um devedor terminal. Assim, por exemplo, como o petróleo é algo de interesse internacional, o Brasil tem que entrar vendendo.

Mas, para minha surpresa, semana passada, estoura a novidade: as maiores cervejarias do Brasil, Brahma e Antarctica, vão se fundir para criar uma enorme cervejaria a nível mundial. Puxa vida! Meu espírito verde-amarelo ficou emocionado com esta nova conquista brasileira. Foi então que ... pera lá! Como é que fica o discurso que é preciso competição? E a história de que monopólio é ruim? As duas empresas juntas vão concentrar mais de 70% das vendas no setor.

Bem, voltei a minha tradicional ignorância. As duas cervejarias têm hoje 18.000 empregados. Com a fusão, vai boa parte disso para a rua. Com nosso mercado de trabalho de merda, o pessoal vai é ficar na rua mesmo.

E sobre os preços? Há cerca de 10 anos eu ouvi de um professor de curso de administração e negócios a afirmação de que aquela competição predatória entre fabricantes de refrigerantes e cervejas era suicida. O melhor era as empresas se acertarem, montarem uma política de preços em conjunto. Ou seja, o discurso de competir é bom até certo ponto. Com a fusão, fica tudo mais fácil. Se as duas grandes cervejarias não precisam brigar pelo cliente, fica bem mais fácil cobrar um pouco mais pela cerveja. O consumidor se dá mal. Mas isso não é problema. Os donos e arquitetos da fusão de Brahma e Antarctica, por exemplo, devem estar bastante satisfeitos com a bolada que ganharam com o aumento das ações: foi 20% em um dia. Not bad!

O presidente já deu sua opinião de que acha muito boa a fusão das duas empresas, o que, por si só, já é motivo para preocupação de nossa parte. Para ele, este é um passo importante para que possamos competir no mercado internacional. Será que também não seria importante competirmos com uma empresa forte na área de petróleo? Será que uma Embratel forte e competitiva não era interessante para o país? Esta última possibilidade na área de telecomunicações está tão longe que parece impossível. Sem dúvida, com os governos que temos, construir alguma coisa ia ser difícil.

Olha, eu acho que está uma esculhambação. O objetivo parece ser este mesmo. Temos que nos acostumar. Mas me impressiona esta perseguição com a minha pessoa. Logo agora que eu começava a achar que estava entendendo alguma coisa!

Saco!

- Tirésias da Silva -


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07julho1999
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