brasil
 
Roberto Campos conquista a imortalidade

O economista Roberto Campos foi eleito para ocupar a cadeira de Dias Gomes na Academia Brasileira de Letras. Depois de perder a última eleição para o senado, este laurel é um desagravo à carreira do ilustre oriundo de Mato Grosso.

Roberto Campos é intelectual importante do cenário brasileiro. Grande polemista, Campos tem como marca registrada a grande coleção de tiradas de raro humor e inteligência. A passagem pelo ministério do Planejamento, no início da ditadura militar, de 1964 a 1967, já foi explicada por muitos como oportuna e vantajosa para nossa história. Apreciado por toda a direita brasileira (se é que ainda podemos dividir os pensamentos dessa maneira), Roberto Campos termina o século como um economista que atingiu o sucesso como poucos em sua profissão conseguem. Isto por que ele é um economista que acertou suas previsões. Como todos sabemos, isso é raro em Economia. Aquilo que ele apregoou por toda a vida está, mais do que nunca, vencendo como prática em todos os níveis, seja entre nações, empresas ou, mesmo, entre indivíduos. Sua pregação do liberalismo, a visão realista da superioridade de algumas nações sobre outras, a necessidade de aceitar o poder ditado pelo detentor do capital, estas foram as bases do legado deixado por Roberto Campos para o povo brasileiro.

A capacidade que Campos teve de antever o futuro, de determinar com precisão o que seria a regra maior das relações econômicas e, mesmo, das relações em geral entre as pessoas, foi sua grande qualidade. A percepção da força do egoísmo como mola mestra que toca a Economia em particular e a sociedade como um todo foi genial. Roberto Campos é e se diz homem de opiniões a frente do seu tempo. É verdade. Por isso, foi crucificado pela esquerda e por outros incapazes de pensar. Para estes, ele era o entreguista, o testa-de-ferro do capital externo, enfim, um mero "vendido" que se escondia sob o manto do liberalismo e do modelo da livre competição.

Uma apreciação ampla da vida de RC mostra sua grandeza e, paradoxalmente, sua mediocridade. Sua visão realista de que aos vencedores cabem todos os direitos e honras. Que as nações que saíram atrás na corrida mundial devem encarar a subserviência com naturalidade. Que o capital deve ser o gestor e definidor da direção da economia. Esta visão crua e sensata foi seu grande trunfo intelectual. Não há mais nada a fazer. Não há outras opções. Os vencedores já foram eleitos. Não existe por que lutar para mudar a ordem das coisas.

A racionalidade persistente, que lhe proporcionou fortuna e lugar privilegiado à sombra do poder, foi, também, sua fraqueza. Roberto Campos foi como o cientista que se atendo à lei da gravidade, nunca se permitiu pensar em voar. Para ele, como reza a lei, tudo que for solto no ar vai irremediavelmente chegar ao chão. Este cômodo apego às regras não permitiria a invenção do avião. Pensando assim jamais sairíamos do solo. Mas a gravidade existe! Se é para ser cego às outras possibilidades, que seja baseado numa boa regra. Campos foi cego competente.

Campos passou toda a vida em invejável conforto pregando um certo tipo de óbvio: nós, como país, como formato de nação, estamos em missão destinada ao fracasso. Não há opções, que não seguir o líder. Aceitar um lugar no fim da fila. Por que não sermos realistas? De que serve o esforço de se opor ao destino? Somos incompetentes. O capital foi decidido inicialmente para ficar em outras mãos. Não há com o que sonhar. O capital externo tomará conta de nossa economia. São mãos mais ágeis. Que chegaram primeiro. Decidiram as regras. Então, sigamos as regras.

Não nos deixemos levar por pequenos erros. Ele foi pessoa de brilho especial. A perspicácia de Campos para perceber que há um vencedor e que este lado é ameno e fresco, foi eficaz, em particular, para sua própria existência. Assim é para os que vêem as oportunidades cedo. Ele entendeu muito antes de outros a regra do jogo. Entretanto, a mediocridade teima em se mostrar e foi sutilmente apresentada na foto que encabeça matéria do Jornal do Brasil (28.10.1999) sobre a posse de Roberto Campos na Academia. Na foto, o novo acadêmico é efusivamente cumprimentado pelo ex-presidente José Sarney. Ser recebido por José Ribamar preenche uma lacuna no currículo de Roberto Campos.

- Tirésias da Silva -


envie agora seu comentário sobre este artigo

mais brasil

Início da página | homepage Polemikos

04novembro1999
Copyright © [Polemikos]. Todos os direitos reservados.