Villas-Boas e o papel
da imprensa
Em 26 de novembro aconteceu a formatura da turma 1999 do conceituado curso de pós-graduação em finanças PDG Exec – Top Management Executive MBA. Ali são preparados executivos destinados a terem sucesso no dinâmico e competitivo ambiente empresarial deste final de século. Uma turma com este pedigree poderia escolher qualquer dessas estrelas do Brasil globalizado para ser seu paraninfo. Poderia ser um empresário bem sucedido, um economista de sucesso no governo ou um jornalista especializado em economia. Qual não foi minha surpresa ao comparecer à festa de formatura e me deparar com a auspiciosa escolha do jornalista político Villas-Boas Correa como paraninfo da turma de 1999. O analista político do JB dedicou seu discurso a um tema algo distante do meio empresarial. Ele falou sobre a imprensa política e seu papel na definição da história brasileira. Villas-Boas tem a bagagem profissional de ter acompanhado a política brasileira por 51 anos. Enquanto nós, meros leitores de jornal, estamos sempre contaminados pelos últimos acontecimentos e perdemos a visão crítica de mais longo prazo, a experiência de Villas-Boas lhe dá a vantagem da perspectiva histórica da política nacional. Villas-Boas comentou a evolução por que passa a imprensa, quando se prevê, para os próximos anos, a acentuada redução do jornal impresso como meio físico para transportar notícias. A competitiva Internet rapidamente vem conquistando leitores aos quais é oferecido o acesso a todos os jornais do mundo sem precisar ir ao jornaleiro da esquina. Mas, no estágio atual da mídia impressa e da televisão, o Brasil exibe um poderoso aparato de informação. A revista Veja se coloca em quinto lugar no mundo em circulação. A audiência do Jornal Nacional, da Rede Globo, atinge, toda noite, brasileiros até nos mais distantes rincões do país. Apesar dos exemplos de veículos de comunicação bem sucedidos, o mote da fala do jornalista foi o mau serviço que a imprensa tem prestado ao país. Segundo Villas-Boas, com a marcante redução de quadros nas redações, a cobertura se torna cada vez mais superficial, menos analítica e sujeita ao insucesso no tratamento de assuntos de relevância para a história do país. Villas-Boas aponta a recente descoberta tardia da máfia brasileira do narcotráfico, envolvendo políticos importantes e empresários renomados que dificilmente poderiam passar desapercebidos. Mas passaram! Uma quadrilha atuando no ramo de drogas em nível industrial e nenhum jornalista para dar esse furo. Onde está o jornalista da sucursal para correr atrás das notícias? Villas-Boas Correa mencionou também o fracasso da nossa imprensa em identificar o fenômeno Fernando Collor na sua caminhada para à presidência. Afinal, toda a estrutura de corrupção já acompanhava o político em sua ascensão em Alagoas. Mas quem se importava com Alagoas? Me recordei, então, de 1989, quando fiz um curso que veio a ser o embrião do PDG Exec. O palestrante da abertura do curso, convidado para fazer uma avaliação do cenário político, foi justamente Villas-Boas Correa. Em sua palestra, o jornalista, exibindo capacidade premonitória, dizia: "... neste quadro de vácuo de poder que temos hoje, com a desarrumação dos partidos, qualquer um pode se lançar candidato à presidência. ... este moço Fernando Collor, com a fama do Caçador de Marajás, pode se lançar na aventura. Por que não?" Nós sabemos no que deu a aventura Collor e o preço que pagamos por ela. Assim, quando Villas-Boas nos alerta sobre o papel, ou mau papel da imprensa, é aconselhável que se dê a devida atenção ao aviso. em tempo: parabéns ao jornalista Villas-Boas Correa por seus 51 anos de jornalismo, completados, neste sábado, 27 de novembro de 1999. Esperamos continuar contando com sua crítica serena e perspicaz nas páginas e telas de nossos jornais. - Tirésias da Silva - |
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