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Vestígios de Justiça

Recentemente, a NASA enviou uma sonda a Marte. Este veículo espacial identificou indícios da existência de água na superfície do planeta vermelho. Assim, com esses novos dados, pode-se acreditar que houve água no planeta vizinho e, em havendo água, talvez tenha havido vida. É uma descoberta e tanto. Vida em Marte! Mas, quem ficou mais impressionado com esta milionária pesquisa foram os marcianos. Indignados com a pretensão humana de querer decidir o que pode ser chamado de vida inteligente, as geniais criaturinhas verdes resolveram enviar mais uma sonda espacial ao nosso planeta azul para verificar se encontram aqui algo que, para eles, é muito mais nobre do que a água, da qual, há milhares de anos, os marcianos já não precisam para viver.

O povo de Marte deseja encontrar a Justiça no nosso planeta. Suas outras tentativas fracassaram. As naves atingiram a Terra em locais desfavoráveis a esta pesquisa. A primeira aterrissou na sala dos sapatos de Imelda Marcos. Nem traços de honestidade foram identificados. Também tentaram, sem sucesso, pequenos países do interior da África que estão permanentemente atolados na corrupção. Índice de Justiça: zero. Outra nave foi bater no gabinete do ex-atual-prefeito Pitta. A Justiça é realmente um recurso escasso no universo. Mas este caso impressionou pelo valor científico. O homem continua solto e é o prefeito de São Paulo.

Agora, movidos pelo desafio, os marcianos calibraram melhor o ponto de descida e foram direto para a Praça dos Três Poderes, em Brasília. Vê-se logo que a ingenuidade marciana é o maior característica de seus cientistas sociais. Esta parecia ser mais uma missão destinada ao fracasso. Mas, qual não foi a surpresa da comunidade científica esverdeada, quando os sensores identificaram algumas medições positivas de aplicações da Justiça na superfície do Planalto Central e na grande área circundante que os terráqueos chamam de Brasil. O fato é que depois de milhares de anos, as criaturas brasileiras estão se deparando com a curiosa situação de verem os ricos sendo presos por corrupção. É pouca coisa. só instrumentos sensíveis podem considerar estes poucos casos como significativos. Mas, pelo menos, alguém que roubou descaradamente está sendo obrigado a passar alguns vexames e – este fato causou sensação na Academia de Ciências Sociais de Marte – passar alguns dias preso. Para alguns cientistas marcianos mais otimistas, este pode ser um sintoma de que o planeta, além do interessante desenho de suas criaturas do sexo feminino, pode vir a produzir, no futuro, uma cultura digna de se juntar à comunidade interestelar de espécies inteligentes.

Foram apenas traços da aplicação das leis, mas ver Estevão cair em desgraça é animador. Esta criatura é um alienígena oriundo do grupo do Collor, que esnobava a espécie humana se fazendo de bem sucedido vendedor de pneus, enquanto passeava de jatinho e importava artista de novela da Globo para dançar valsa com sua filha na festa de quinze anos. Seu ramo de negócio era mesmo tirar dinheiro do orçamento de prédios públicos em construção. Para isso, se aliou com ao juiz Lalau para roubar dezenas de milhões de Reais. Este juiz foi identificado, posterioirmente, como confidente de um lobista, Eduardo Jorge, que era homem de confiança do Presidente da República. Opa! O presidente não parece ter nada a ver com os trambiques do secretário, a menos do afinco com que tentou desincentivar que o caso fosse averiguado. Limpo, no conceito dos marcianos, o presidente FHC não é. Mas isso já é comum. FHC está sempre na fronteira desses casos de corrupção.

Marcianos e brasileiros estão perplexos com o fenômeno da súbita prisão de poderosos. O banqueiro Cacciola foi preso. Agora fugiu. O Rei das Quentinhas está entrando numa fria. Onde andará sua esposa, que foi capa de revistas e mereceu páginas da Veja como o símbolo da emergência da Barra da Tijuca?

Os cientistas marcianos, serenos, sem terem a sede de Justiça do povo brasileiro, vêem neste processo, um avanço significativo. Não que o governo ou o dito presidente tenha alguma coisa a ver com isso. FHC não é de assumir riscos ou tomar iniciativas. Sua especialidade é deixar rolar. Sua agilidade se restringiu a negociar sua própria reeleição no Congresso.

Mas os ricos estão pagando. Pode ser o começo. Será que é um produto da indignação popular? Pode ser que os ladrões tenham atingido níveis exagerados de corrupção? Pode ser que seja apenas notícia de ano eleitoral? Pode ser. Mas, sejamos otimistas como os homenzinhos verdes, talvez alguma coisa esteja mudando no nosso planeta brasileiro.

- Ernesto Friedman -


 
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22julho2000
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