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....Infeliz no jogo, ....feliz no voto O Brasil parou no último dia das Olimpíadas. A população estava toda a postos, cerveja gelada providenciada, as famílias atentas frente às tevês. O povo esperava ansioso pela prova de equitação, onde Romário (corrijo: Rodrigo Pessoa), nosso melhor cavaleiro, ia defender, com bravura, as cores nacionais. Era pule de dez. Rodrigo pula obstáculos pelo mundo a fora e não ia esbarrar naqueles tronquinhos que colocaram a sua frente. Elegante, paletó e gravata, o representante do esporte mais praticado em nossas terras, onde proliferam hípicas e haras, Rodrigo partiu para o sucesso. Horror! O cavalo, como tivessem esquecido de avisar que sua função era passar por cima do obstáculo, caminhou hesitante até esbarrar nas madeiras. A torcida urrou. Nas casas, os gritos de "filho de moça de vida fácil" e "senhora de fama duvidosa que pariu" ecoavam. O brasileiro era acordado definitivamente do sonho olímpico em Sidney. O pesadelo estava completo. O Brasil terminava os Jogos Olímpicos como um Vasco de dimensões continentais, só conseguindo conquistar alguns segundos lugares. Nada de ouro para os tolos torcedores brasileiros. Essa história de Olimpíada é coisa de grego. Povo que também ficou famoso por tentar prever o futuro olhando as entranhas de animais mortos. Por que não? Eu, como um bom Tirésias, também faço previsões com base em presságios e revelações que os acontecimentos simbolizam. Os leigos podem não perceber, mas os fracassos brasileiros em Sidney fazem parte de um esforço do destino em nos alertar sobre nosso magnífico futuro. Vejam só! Apesar da falta de apoio geral, da falta de recursos para os atletas, de pouca gente praticando esporte, o Brasil tem grande população e alguns bolsões de competência esportiva. O vôlei, por exemplo, tem a antipatia do Nuzman para atrapalhar, mas nossas equipes estão sempre entre as favoritas. Tudo tem seu significado. Por exemplo, o vôlei de praia brasileiro é o melhor do mundo, mas tanto no masculino como no feminino, depois de chegarem a quase ganhar o primeiro set, cederam a vitória para os bem alimentados americanos e australianas. As meninas chegaram a fazer 11x7, para perder de 12x11. Os homens estavam ganhando de 11x8 e também perderam de 12x11. Na Austrália, nossa superioridade foi pouco frente à combinação de nossa baixa auto-estima (ou seria alta baixa-estima?) com o puro e simples azar. Mas o azar não existe. Tudo faz parte do destino e já está escrito em algum lugar por aí. Nossas derrotas foram sempre emocionantes. O futebol brasileiro, da mesma forma que na Olimpíada de Atlanta, proporcionou outra grande vitória para um país africano. Perdemos na morte súbita um jogo em que tínhamos (apenas?) dois jogadores a mais que Camarões! No iatismo, os brasileiros não perceberam que largaram antes e foram desclassificados. A brasileira do salto em distância "queimou" suas três chances de saltar. A moça voltou pra casa sem ter sequer a medição de um salto em Sidney. Nossa participação olímpica foi, em geral, neste ritmo de fracassos magníficos. E o que quer dizer está miséria esportiva toda? Senhores, os astros dizem que estamos começando uma nova fase. Não estamos mais dependendo da sorte no jogo para obter uma felicidade momentânea. Logo depois da Olimpíada, tivemos a eleição para prefeitos e vereadores. Os resultados dessas eleições mostram que o povo, apesar de possuir todos os motivos para ter se desiludido e desprezar o voto como meio de mudar este país, está exercendo seu direito com uma sabedoria de surpreender o próprio Pelé. A grande marca dessa eleição foi a demonstração de competência da esquerda, que abandonou o discurso alucinado dos xiitas e passou a pregar contra a corrupção e a apresentar boas propostas de administração. Foi um sucesso. O PT foi o partido que mais cresceu no país. Em número de votos, ficou embolado com PMDB, PSDB e PFL, cada um deles com cerca de 15% do eleitorado. Além disso, o PT conseguiu aproveitar o escândalo do trambiqueiro Pitta, que minou a candidatura Maluf e, ao que tudo indica, vai dar uma vitória tranqüila a Marta Suplicy no segundo turno para a prefeitura de São Paulo. É até curioso que, depois de muito tempo, São Paulo esteja se renovando enquanto o Rio patina na influência do PFL. Em Sampa, o PT consegue, com os Suplicy, vencer a rejeição dos paulistas a votar na oposição. Já os cariocas vão para o segundo turno com uma decisão insossa a tomar: escolher entre Luiz Paulo Conde e César Maia. Conde, filho político de César Maia, qual tragédia grega, se virou contra o pai e garantiu o lugar de representante do partido de ACM no Rio. Apesar de vender o visual do Rio para a propaganda e ser associado à liberação da construção de "aperte-hotéis" de 30m2 sem garagem, tem mais chances de ficar com a prefeitura. César Maia, parece estar jogando suas últimas cartadas políticas. Originado do PDT, depois de vagar de um partido para outro, aparece com a imagem política embaçada e sua tradicional antipatia pessoal. Lhe restou apenas a fama de bom administrador para superar isso tudo. É pouco. César Maia vai para o segundo turno com poucas chances contra a máquina da prefeitura, agora aliada ao governo de Garotinho. A democracia foi inventada há muito tempo pelos mesmos gregos das Olimpíadas. O ingrediente mais importante para seu aperfeiçoamento. Depois dos 20 anos de ditadura brasileira, um Sarney e um Collor, o Brasil, talvez agora, esteja arrumando sua política. O processo é lento. Mais lento do que preparar uma juventude para ganhar medalhas nas próximas Olimpíadas, mas o prêmio é infinitamente maior. Vamos perseverar! Os ACM não são eternos. Numa visão de longo prazo, o que precisamos é escapar de oportunistas como um Fugimori, para se aproveitam da crônica corrupção das fracas instituições políticas sul-americanas para promover golpes e retroceder no processo democrático. Quanto a isso, pelo menos, Fernando Henrique parece ser fiel ao pensamento do começo de sua carreira. Rezemos para que ele também não nos peça, no futuro, para esquecer este seu passado. - Tirésias da Silva - |
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