....Eu minto menos!

Uma frase dita no calor do debate. A guarda baixa. As recomendações dos marketeiros vencidas pela pressão da difícil campanha eleitoral. O prefeito Conde titubeia e sai o desabafo: "Eu minto menos." O adversário vibra de felicidade. O beiço mole treme. Conde cometeu a gafe que vai lhe custar pontos na pesquisa do Ibope e no resultado final da eleição. César Maia ataca o bovino Conde, agora, mas parecendo um alce vulnerável. É hora da hiena pular no pescoço da vítima e extrair o máximo de sangue do animal ferido. Esta campanha vai ser assim. Um Ultimate Fighting onde, realmente, vale tudo. A pancadaria vai ser nesse ritmo até o dia da eleição. É matar ou morrer. Todos os recursos serão usados. De mordida na orelha a gastar todo o dinheiro que juntaram (sabe-se lá de que maneira), os dois vão acusar um e outro de ladrão, de bater na mãe, roubar bengala de ceguinho e comer criancinhas.

Esta algazarra, a profusão de acusações, entretanto, esconde uma bela verdade: os dois são farinha do mesmo saco! Por mais que tentem se diferenciar como produtos políticos. Conde é filho de César. Foi criado por ele. Os dois se conhecem muito bem. Só a canalhice da atividade política faz com que cada um deles esqueça que, há 4 anos atrás, eram carne e unha, faziam juras de amor eterno. Enfim, não resistem a uma análise simples: Ou são canalhas que jogaram juntos, roubaram juntos, e, agora, brigam apenas por estarem em lados opostos da cédula eleitoral eletrônica. Ou, hipótese menos provável, são tão ingênuos que não perceberam, em todo o período de convivência, que o parceiro político era um canalha. Se esta última possibilidade fosse a correta, nos levaria à constatação de que o pobre coitado, honesto e traído pelo malévolo companheiro, é tão ingênuo que não se qualifica como um político para administrar a cidade. Ou seja, de um jeito ou de outro, os dois não prestam. Em resumo, aqui no Rio, somos eleitores encurralados.

Mas, a propósito de corrupção e campanhas, a revista Veja dessa semana apresenta reportagem sobre o Senador Jader Barbalho, que é uma peça antológica de acusação de enriquecimento ilícito. A revista se dedica a mostrar como o político paraense amealhou uma fortuna de 20 (ou 30, tanto faz) milhões e nem sabe precisar quanto tem ou como conseguiu atingir tão magnífica cifra. O texto é um primor de retórica para não configurar uma acusação direta. O sarcasmo, sempre presente, debocha do processo de engorda de patrimônio que Jader Barbalho cultivou em sua carreira política.

Entretanto, uma pergunta fica gritando no ar, ao longo da matéria: "Por que só agora sua riqueza foi percebida? Por que não se comentou este milagre de multiplicação de patrimônio quando Jader Barbalho atingiu, por exemplo, 10 milhões de dólares redondos? Um marco para ser apreciado, sem dúvida. Um motivo razoável para a lembrança da revista é levantado pelo pródigo senador Barbalho: a matéria sobre seu patrimônio foi encomendada pelo adversário ACM, que disputa com ele a presidência do Senado. É motivo razoável!. Ao que parece, estas acusações (ou comentários sarcásticos como os feitos pela Veja) de corrupção aparecem apenas para ter efeito durante os embates de candidatos em eleições. Daí não passam.

Nós, o povo, com nossos narizes redondos e vermelhos, risonhos palhaços, assistimos impotentes estes senhores brigarem. Constatamos sua canalhice. Nada que impeça que eles continuem a controlar nossos destinos. O Conde mente menos? Talvez. O patrimônio de ACM é maior que o de Jader Barbalho? Grande chance. Talvez, se o improvável acontecesse e ACM tivesse um momento de fraqueza, como Conde teve, ele responderia ao adversário Jader Barbalho em um imaginário debate: "Eu sei esconder meu patrimônio e tenho mais influência sobre a imprensa que você."

- Tirésias da Silva -


 
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25outubro2000
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