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O Novo Poder

Na atmosfera, o ar tende a equilibrar a pressão nos ambientes. Por exemplo, se destamparmos uma garrafa vazia, onde a pressão interna é menor que a do espaço em volta, o ar fluirá rapidamente para o interior da garrafa, onde a pressão é menor, de modo a igualar a pressão do ar dentro e fora do recipiente. A Natureza tem dessas coisas. Não gosta de espaços vazios. 

Isto acontece também com as sociedades no que se refere à distribuição do poder. O poder sempre é exercido em todo o espaço social. Se um governo, por exemplo, se negar a exercê-lo em algum grupo social ou área geográfica, alguém, ou algum poder paralelo, vai se ocupar de fazê-lo. Entretanto, mesmo quando a sociedade se organiza, ainda restam espaços vazios onde o poder público não consegue atuar. As máfias que vendem proteção às pequenas empresas são o exemplo clássico do poder paralelo. São casos de ocupação dos vazios da sociedade organizada. Uma nação será tanto mais organizada quanto conseguir um modelo de governo que seja democrático e reduza ao mínimo os espaços vazios que possam ser conquistados por organizações criminosas.

Assim é o modelo. Vocês já devem estar entendendo onde quero chegar. Onde fica o Brasil de hoje na luta para minorar a força de poderosos grupos criminosos? Fica mal! A tendência observada é para a degradação de instituições fundamentais, tais como a polícia ou, mesmo, e mais grave, a Justiça. Simultaneamente, assistimos o crescimento e organização de grupos atuando em indústrias criminosas como o tráfico de drogas e os seqüestros. Vemos, todo dia, as estatísticas de policiais envolvidos em crimes aumentar, enquanto também aumentam a ousadia e estruturação das ações dos bandidos. Só para lembrar acontecimentos recentes:
- um assalto a delegacia com o objetivo de resgatar prisioneiros, fechando ruas e usando um caminhão para derrubar a parede do prédio;
- o uso de três caminhonetes Blazer disfarçadas de viaturas policiais para resgatar bandidos de outra delegacia;
- fuga espetacular com a utilização de helicóptero;
- aumento do número de seqüestros, culminando com aquele que resultou na morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel, encontrado morto numa estrada do interior em São Paulo.

Citar mais casos é redundante. O problema segurança já atingiu nível de alarme. Para tratá-lo, algumas das ações necessárias têm proporções de guerra. Nas grandes cidades, há uma questão básica: Como retomar os territórios das favelas que foram cedidos ao controle do tráfico? Nesses lugares, o poder público só chega esporadicamente. Mesmo assim, para trocar tiros com bandidos e deixar uma ou outra criança da comunidade morta. Ocupação policial não é suficiente. O governo também precisará investir em saúde e educação nessas áreas de modo a mostrar quem é poder. Mas, isto é caro e exige organização. O governo tem recursos e capacidade de mobilização para atuar? Ainda temos forças para essa luta? Fica a dúvida se existe vontade política para uma cruzada dessa magnitude. 

O crime organizado já atingiu o nível de fazer ameaças aos políticos. E cumpri-las. Não esqueçam que o prefeito de Campinas também foi ameaçado e foi assassinado. O exemplo da Colômbia, dominada pelo tráfico, é real e estamos nos aproximando dele. Há necessidade de ações e o governo parece imobilizado. 

Será que o Planalto e o governador do Rio também receberam cartas de ameaça como a que foi enviada aos prefeitos do PT? Acredito que Garotinho, como bom temente a Deus, deve desejar vencer o tráfico e acabar com os seqüestros. Verdadeiramente, acredito que os governos federais e estaduais não têm medo. Eles têm são outras prioridades! FHC tem que se concentrar em eleger José Serra. Garotinho quer porque quer fazer de sua esposa governadora. Eles vão seguir a cartilha que ensina: num ano eleitoral, não abrir novos flancos de luta contra inimigos poderosos, ainda mais se o inimigo for o tráfico, que controla muitos eleitores. Por isso, não devemos esperar mais do que discursos arrebatados. Qualquer iniciativa de verdade, se vier, deve acontecer no ano que vem. Infelizmente, acho que aí não vai dar mais tempo. Ficaremos, então, com a solução padrão para os brasileiros: Salve-se quem puder!

- Tirésias da Silva -


 
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20janeiro2002
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