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A  verdadeira violência

Está havendo uma discussão muito grande pra saber se as mortes dos prefeitos de Campinas e de Santo André foram crimes comuns ou com motivação política. Essa discussão tem muito pouca importância. Mesmo que os crimes tenham tido motivação política, isso não esvazia a necessidade de que se discuta e se equacione o problema da violência nas grandes cidades do Brasil, sobretudo as do estado de São Paulo. Mesmo que tenham sido crimes comuns, o fato de terem sido praticados contra figuras públicas, acaba tendo um efeito político, principalmente num ano de eleições.

Do ponto de vista partidário, esses crimes enfraquecem o PSDB e o PT. Enfraquecem o PSDB, pois expõem a falência do sistema penal gerenciado pelo governador Geraldo Alckmin. Isso acaba resvalando na imagem do presidente Fernando Henrique Cardoso, do mesmo partido. Deixa esse problema numa grande evidência, justamente num ano em que as fraquezas e falhas do governo deveriam ficar "escondidas".

Enfraquecem o PT devido ao discurso histórico desse partido na defesa dos direitos humanos. Nesses momentos de grande consternação pública e desespero, a sociedade costuma rejeitar veementemente esse tipo de discurso. O PT já percebeu isso e está tentando mudá-lo para não correr tantos riscos na eleição, mas não há como apagar a história (ainda bem!) e mudar um discurso de tantos anos, embora o deputado José Genoino esteja tentando fazer isso. O PT tem uma legião de seguidores e simpatizantes e outra, quase do mesmo tamanho, que o rejeita. Essa mudança de discurso consegue muito mais afastar os simpatizantes do que atrair aqueles que o rejeitam.

Quem ganha com isso são os partidos mais à direita do espectro político, como o PFL e os políticos que historicamente defendem a truculência policial como solução para a criminalidade, caso de Paulo Maluf e outros. Nem eles acreditam nesse discurso, mas isso traz votos.

É muito comum, nesses momentos de grande impacto, que a sociedade comece a resgatar soluções simplistas como uma ação mais repressiva da polícia, o aumento das penas e até mesmo a pena de morte. Em 1990, numa reforma do código penal, foram definidos os tais crimes hediondos, aumentando significativamente as penas aos condenados por esses crimes. Coincidência ou não, o que se verificou foi um também significativo aumento na ocorrência desses crimes.

A única coisa que a pena de morte pode causar é o surgimento de 4 ou 5 órfãos por execução. Eles certamente não terão (como hoje não têm, com os pais na cadeia) outra opção de rendimento que não seja o crime. A história de qualquer um desses bandidos é a mesma. São relativamente jovens (é difícil achar bandidos com mais de 25 anos); abandonam a escola pra pedir esmola nos semáforos (normalmente antes de serem alfabetizados) e começam a praticar pequenos delitos com 11 ou 12 anos de idade. Se a solução é a repressão, deveríamos então começar a executar as nossas crianças. Isso é um absurdo, mas há alguns setores da nossa sociedade que encaram essa solução com naturalidade.

Os problemas de criminalidade têm que ser encarados do ponto de vista da causa e não do efeito. A raiz do problema está na desigualdade social. Esta é a verdadeira violência. As nossas crianças têm que poder ir à escola e depois disso têm que ter um mínimo de chance de conseguir um emprego. Os políticos, todos eles, sabem disso. Mas ninguém vai forçá-los a dizer isso num discurso. Principalmente num ano de eleições.

- Arnaldo Heredia -


 
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06.02.2002

Concordo com os aspectos apresentados pelo brilhante autor...contudo a operacionalização é um pouco mais complexa. Se fizermos uma analogia com a medicina, para simplificar, são necessárias medidas preventivas mas não se pode descartar as corretivas.

O problema de segurança é extremamente complexo e passa, principalmente, por um descaso das autoridades em todos os níveis e em todos os poderes. Existem diversos projetos de lei para serem votados no congresso. O problema de reformulação das polícias já criou teia de aranha no gabinete de segurança institucional....

Se esses fatos servirem para retornar de maneira séria e permanente o rpoblema de segurança no País..tudo bem. Não importa que partido ganha ou perde com isso. O importante é resolver o problema. Pois enquanto polemizamos alguém pode estar morrendo por falta de segurança...

Abraços
Fred Diniz

26.01.2002

Arnaldo,

Concordo com você  quando cita  a desigualdade social como  um dos motivos  da violência em nosso pais, e quando coloca a educação como  um longo caminho a ser seguido e " investido". Só que nossos  governantes não pensam assim. Existe uma recente lei  que proibe a reprovação no ensino fundamental. O aluno passa  de ano sem ter o mínimo de conteúdo  assimilado. Isso estatisticamente faz com que nosso país tenha um bom índice de pessoas estudando , só que o detalhe está no aproveitamento dessas crianças que acabam o ensino fundamental sem saberem ler ou escrever. Serão  cidadãos ativos politicamentes mas totalmente ignorantes em cultura   e discernimento politico.

Mas, este é o nosso Brasil. Ame-o ou deixe-o !

25.01.2002

Feliz colocação de nosso amigo Arnaldo Heredia, ação e reação não são válidas apenas nas leis da física. Cabe a nós brasileiros a grande responsabilidade de mudar nosso triste perfil político. As eleições são; nossa voz, nossa força, nossa consciência.
Façamos uso de nosso direito, ou melhor de nossa obrigação como cidadãos
com um mínimo de cidadania.

Regina Rocha


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