Já em dezembro do ano passado alertávamos para a baixaria que seria a campanha com o PFL montado no lombo de Roseana Ribamar Sarney. O partido ficou todo fogoso com a chance de tomar o poder e sair da sombra do PSDB. Os latifundiários, os gestores da coisa pública em benefício próprio, as famílias encasteladas no governo dos estados do nordeste, todos babam de desejo por meter mais a mão nesse poço de riquezas desprotegido que é nossa terra. Entretanto, diferentemente do jovem Collor, que tinha pouco passado e que não interessava ao poder desvendar, dona Roseana, em parceria com o às vezes marido Jorge Murad, tem muito passado para ser escancarado.

O evento da investigação da Polícia Federal no escritório da empresa Lunus, pertencente a Jorge Murad, foi emblemático. Encontraram-se provas indiscutíveis de que há mutreta por ali. Foi uma profusão de documentos associados a projetos fantasmas da Sudam, empresas suspeitas e, o mais fácil pra gente entender, apareceram 1,4 milhões de reais em dinheiro vivo. Olha que não é todo dia que se vê tanta nota de R$50 junta. A reação da quadrilha mostrou que não temiam um flagrante. Afinal, no nordeste não se mexe com família importante. Imagine investigar a família Sarney? Um abuso! A corja não teve nem a preocupação ou capacidade de manter alguma coerência nas explicações. Foram espertos para juntar tanto dinheiro, mas, na hora de se explicar, parecem débeis mentais. Primeiro, não sabiam contar: eram só 100 mil reais, diziam. Depois, não era deles: o dinheiro era de outra empresa. O gerente da Lunus pontificou: eu não sei a origem dessa grana! Por último, disseram que era para comprar uns chalés. Também não colou. Mentira apressada é um horror. Os preços não batem com os do mercado. Seria um óbvio péssimo negócio para os Sarney. Como Murad e sua esposa não são bestas de dar dinheiro por aí, nós, apesar da histórica inocência, somos levados à conclusão de que tem algo de criminoso na área. Em tempo, se ninguém quer essa dinheirama toda, por favor enviem aqui para Polemikos que nós estamos necessitados.

Mas, e o Collor de saias? A santa Roseana é de uma cara-de-pau estraordinária. A moça herdou a veia política do pai e aprimorou as técnicas de desinformação em que Collor foi um expert. No mesmo Jornal Nacional, na rede Globo, em que vimos os Sarney entrarem na Justiça para impedir as investigações, Roseana aparece de cara limpa, segundos depois, para dizer "quero que as investigações vão até o fim". A crítica política aponta o caso como o começo do fim da campanha de Roseana. Eu não. Desculpem-me a paranóia, acho que o povo não entende nada mesmo. O povo brasileiro médio que conhecemos, anestesiado por Big Brothers e afins, é capaz de não relacionar Roseana com o estranho caso do dinheirão que ninguém quer. Daqui a pouco, Roseana dirá que o dinheiro era para comprar leite para as criancinhas pobres do Maranhão. Acham a justificativa ridícula e fantasiosa? Esperem para ver as explicações que vêm por aí.

E o PFL? O partido que mais ama o poder foi obrigado a fazer aposta alta no pôquer da eleição. Pressionados pela musa Roseana, os ministros entregaram os cargos. Sentiu-se a consternação dos pefelistas tendo que largar os cargos em que estavam confortavelmente aboletados. Mas o jeitinho brasileiro veio em socorro do PFL. Saíram os ministros, mas ficaram os escalões mais baixos. Se o governo Fernando Henrique aceitar esta palhaçada, ficará evidente que a força do PFL continua. A saída do governo seria só para fazer marola e dar manchete no jornal buscando salvar a enlameada Roseana? O PFL continuará mandando através do pessoal de baixo que, sabemos, é quem faz a máquina funcionar. 

Notem que a aposta do PFL em Roseana é válida. Ali só tem macaco velho. Se Roseana ganhar, eles ficam com o Brasil. Se ela afundar, o PFL sempre poderá voltar ao colo de FHC e José Serra para negociar o apoio contra Lula. De qualquer maneira, seria uma bênção tirar Roseana do cenário. O melhor que podia acontecer era as pesquisas começarem a mostrar queda na intenção de voto na suspeita Roseana. Seria magnífico ver a população sair do coma usual e perceber que Roseana é imagem de santa na frente com dinheiro vivo rolando por trás. Que agradável seria ver os ratos (e são muitos) começarem a abandonar o navio da campanha de Roseana. Se Deus é brasileiro, a gente podia ter esse prazer. Coloquemos, portanto, este desejo em nossas orações.

- Tirésias da Silva -

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10março2002
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