Garotinho, o Carola 

  A semana foi de Garotinho. O ponto alto foi o evento realizado para marcar sua saída do cargo de governador do Estado do Rio para disputar a presidência da república. O rechonchudo político patrocinou um culto nas Laranjeiras, com direito a choro no estilo Bam Bam, muito em moda ultimamente entre os famosos ou pretendentes ao estrelismo, haja vista a lacrimejante entrevista do preterido jogador Romarito. Garotinho foi lançado para presidente do Brasil. Infelizmente, não foi lançado para longe, mas para o meio da disputa. Depois que a musa do populismo, Roseana Sarney, foi derrubada pela mesa cheia de dinheiro vivo achada em sua empresa no Maranhão, a candidatura de apelo para o povão se deslocou da mulher guerreira do nordeste para o político evangélico do Rio de Janeiro. A religião é a grande força do ex-governador do Rio. O rebanho crente é manso e ordeiro. Os políticos da bancada evangélica são organizados e ambiciosos. Garotinho também manobra com esperteza para criar fatos políticos além dos grandes eventos religiosos. Para dar demonstração de transparência, saiu do governo colocando suas ligações telefônicas e contas bancárias à disposição da Justiça. Isso é relevante! Significa que qualquer maracutaia existente já está bem escondida. Mas, a tal transparência não aconteceu no episódio da gravação do telefonema onde Garotinho negociava prêmios em dinheiro em sorteios de seu programa de rádio. Nesse caso ele esperneou feito cordeiro prestes a ser castrado, não se explicou direito e entrou na Justiça para impedir a divulgação da fita. Ou seja, é transparente, mas não tanto.

A mistura de religião e política é o que o Brasil não precisaria. Mas religião ganha voto e é ferramenta fundamental em eleitorado pobre. A falsa idoneidade avalizada pelas igrejas constitui material de grande força para manipular eleitores. Entenda-se que candidato religioso é aquele a quem menos interessa o esclarecimento da população. Afinal, colocando-se Deus na discussão, fica tudo nebuloso. Como cobrar resultados de governo de alguém guiado pelo divino? A realidade mostra que Deus está pouco interessado em por ordem no seu terreiro. Imaginem a qualidade da administração de um preposto dEle. O estilo do político de base religiosa, onde se enquadra Garotinho, é criar ações para ludibriar o povo oferecendo soluções falsas (se não ridículas) para seus problemas. Afinal o eleitor é um crente. E quem crê é porque tem fé. E quem tem fé não se importa que os fatos sejam reais ou não. A fé prescinde de justificativas ou evidências. E não precisar se explicar ou ser realista é música para os ouvidos dos políticos em campanha eleitoral.

Para dar uma forcinha na ingenuidade popular, como manda a cartilha das campanhas, as informações que chegam aos eleitores podem ser as mais absurdas, mas têm que ser simples para que o povo lobotomizado pela miséria geral (mal alimentado, sem educação, sem justiça, sem moradia decente) possa entender. Daí que Garotinho, por exemplo, propõe resolver o problema da fome com restaurante de R$1 a refeição. Para o problema da habitação - vejam a originalidade - ele criou um hotel de R$1 a diária. Paradoxalmente, o mesmo Garotinho sai do governo sem exibir nenhuma melhora no estado. Tirando o progresso da indústria de petróleo, este sim um milagre de Deus, que encheu a Bacia de Campos de petróleo, a economia do estado anda de lado ou afunda. O outro negócio que prosperou no Rio de Janeiro foram as drogas, que cresce a cada dia e que ganhou status de exército revolucionário. Nesta área, o incentivo do evangélico governador veio através da omissão, impotência ou incompetência em resolver o problema do tráfico. Com isso, segurança é uma miragem para os cidadãos do estado. Também não melhoraram as escolas. As crianças estão nas ruas jogando bolas pelo ar e esmolando. Os hospitais pioraram. A dengue foi um sucesso como epidemia. Enfim, não há motivo para se rezar missa.

Bem, mas estamos em campanha. As surpresas virão. O estilo Garotinho deve nos proporcionar alguns milagres até novembro. Acompanhado da esposa e santa Rosinha, o candidato vai sair pelo país rezando missa e pedindo voto. O pior é que o povão desesperado tem grande chance de embarcar na conversa e choro desse santinho de missal. Rezemos para que não aconteça. Que Deus tenha piedade de nós!

- Tirésias da Silva -


 
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07abril2002
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