Conselhos de profissionais 

  É através do noticiário que formamos a imagem de nossa época. As imagens impressionantes que a tevê coloca em nossa casa, dão o contorno de nossa avaliação da cidade, do país e do mundo. A leitura diária do jornal, para aqueles afortunados que têm renda e tempo para lê-lo, permite uma avaliação mais minuciosa do estado das coisas. Por exemplo: vocês já notaram como as páginas policiais de jornais de classe alta (vejam o O Globo ou JB) estão maiores. Parece que os casos de polícia foram democratizados. Os acontecimentos escabrosos, que antigamente só ocorriam em bairros (ou municípios, nem sabíamos a diferença) estranhos como Queimados, Parada de Lucas e Caxias, hoje acontecem no Leblon, Laranjeiras e, pasmem, na Miami carioca, a Barra da Tijuca. É uma profusão de sequestros relâmpagos, PMs assaltando, rapazes de classe média mutilando e assaltando também, vizinhos atirando uns nos outros. Isso dá notícia. O que era parte de uma página rende várias nos dias de hoje. A taxa de artistas e Globais passando por didáticas experiências de assalto e sequestro já bateu, pelo nosso controle estatístico, mais de um caso por semana. A história dessa semana foi com a atriz Vanessa Bueno, do programa "A Turma do Didi", que em certo momento de seu sequestro era afundada num pântano para não ser encontrada pela polícia. Mas ela agora tem algumas orientações a seguir. Os sequestradores lhe recomendaram trocar o carro, um Cherokee, por um que não chame atenção e para pôr insulfilm nos vidros. Devemos prestar atenção, é conhecimento de um profissional. A propósito, estes vidros escurecidos já foram proibidos antigamente por dificultarem a visão de quem está dentro do carro. Por sinal, outro dia, parado numa esquina de noite esperando os carros passarem, parou um carro do meu lado com os tais vidros escuros que realmente não deixavam identificar quem estava ao volante. De repente, o vidro do motorista abaixou até a metade, e a jovem que dirigia pode, então, distinguir mais claramente os carros que passavam para escolher o momento de cruzar a rua. Claro está que a questão da insegurança de dirigir com os vidros escurecidos foi colocada de lado frente à implantação radical da lei de Murici: "cada um cuida de si". Que se dane a segurança ao volante, o importante é não deixar o assaltante ou sequestrador saberem quem dirige o carro. A fabricação de insulfilm e sua instalação devem ser dos poucos setores da economia brasileira que crescem hoje. 

Para dar mais emoção à insegurança reinante, os jornais trazem os esforços (?) que as autoridades empreendem para combater esta situação crítica. Assim, vemos e lemos sobre Beneditas, Cesars Maias, secretários de Segurança e ministros da Justiça enrolando a gente com promessas de mapear o crime, usar tecnologia, planejar uma guerra contra o tráfico. Se fosse humor, dava uma boa chanchada. Parece os irmãos Marx em ação, mas, não tem graça, infelizmente, o sufoco sobra pra gente.

Já que falamos de segurança, vamos subir o nível, falemos do gestor mor da tranqüilidade nacional, o nosso estadista FHC. Esta semana, com seu jeito brejeiro de professor honoris causa de universidade estrangeira, Fernando Henrique declarou mais uma vez que se o Brasil não escolher um presidente sério, nossa taba pode virar uma Argentina. Que bonito gesto esse do presidente! Conselho melhor, só mesmo o do sequestrador da Vanessa Bueno. O que pensa o presidente? Que o país corre o risco de eleger o Enéas? Eu também concordo que isso aqui vira de pernas pro ar se o careca barbudo fosse eleito. Mas, felizmente - batendo três vezes na madeira - Enéas só quer e vai ter cerca de 1% dos votos. Então, onde está a preocupação do presidente? Ousemos pensar que ele está usando esta ameaça aos eleitores para demovê-los da preferência que têm demonstrado nas pesquisas pelo candidato do PT. Mas, se for assim, FHC está chantageando o país com ameaças veladas de argentinização do Brasil com o intuito de aumentar as chances de seu candidato José Serra. Que terrível maldade do FHC! Ele não consegue reduzir os juros, aumentar os empregos, ou seja, fazer coisas boas. Mas piorar a situação ele consegue. O presidente brasileiro não é Bush, mas é poderoso. Quando ele faz a singela declaração sobre o risco de virarmos Argentina, sabem o quê ocorre? Ouvindo isso, os investidores que trariam dinheiro para o Brasil não trazem, os que têm dólar aqui retiram os seus. Os brasileiros empoleirados em sua fortunas mandam mais dinheiro para fora do país para se protegerem do dragão da maldade que FHC pinta para o futuro com Lula na presidência. Com isso, o dólar sobe. Tudo que importamos sobe. Nossa dívida gigantesca aumenta estratosfericamente. Será que o presidente não leva em conta estes detalhes quando interfere na campanha eleitoral.

Terminamos a semana com estes dois consultores nos sacaneando: o sequestrador da Vanessa (o nome é irrelevante) e o presidente da república (seu nome é Fernando Henrique).

- Tirésias da Silva -


 
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26maio2002
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