Garotinho e o voto de Minerva

O candidato à presidência da República Anthony Garotinho é uma peça. Seu jeito traquina nos debates, forçando a barra nas críticas aos concorrentes, fazendo piadas, delineou a figura de um candidato que não se leva muito a sério. Estava ali para ocupar espaços, buscar o milagre de erros dos outros candidatos que o levasse a crescer significativamente ou, apenas, se manter aparecendo e esperar para governar junto com o fenômeno político que é sua esposa Rosinha, provável ganhadora no primeiro turno para o governo do Rio de Janeiro. Como plataforma de governo Garotinho é um exemplo de retrocesso. Seu discurso para pleitear a Presidência da República é marcado por proposições vagas na área econômica, promessas de atraentes valores para a fixação do salário mínimo e propostas assistencialistas de oferecer restaurantes, hotéis e remédios a custos populares: R$1,00. Ele consegue impressionar os pobres. É grande seu apelo junto às classes menos favorecidas, onde também falta espírito crítico. Como somos um país prenhe de menos favorecidos em todos os ramos, Garotinho consegue se manter na faixa de 10% de intenções de votos. Não é pouca coisa. Por trás da papagaiada populista, Garotinho apresenta contradições relevantes. Pairam sobre ele acusações que maculam sua estratégica vinculação à igreja. Garotinho prefere ver o diabo falando na tevê do que deixar serem tocadas as fitas dos telefonemas gravados onde se vê o santo candidato negociando prêmios em dinheiro em sorteios de seu antigo programa de rádio. Claro que isto deve ter acontecido antes de ele começar a ter visões, perceber que religião dá voto e ter se convertido. Mas, mesmo depois de assumir esta imagem carola, Garotinho continua muito distante da coerência. Recentemente, ignorou o comprovado efeito danoso que o jogo exerce sobre a população e declarou-se favorável à sua liberação no Brasil. Estudos realizados nos EUA, país com menos diferenças sociais que o Brasil, mostraram que a renda e os empregos gerados pelo jogo oficial são contrabalançados pelo aumento do crime e da destruição de vidas pelo vício do jogo nas regiões onde se instalam os cassinos. Até os suicídios acontecem mais nas cidades onde os cassinos se instalam. É estranho que o candidato dos evangélicos tenha em sua plataforma a defesa de algo tão demoníaco como o vício do jogo. Compreendemos que sua campanha está mal das pernas na área de recursos e que um apoio financeiro do lobby dos cassinos não é desprezível. Mas que pega mal, isso pega. Resumindo: todos os candidatos têm defeitos, mas o passado e as limitações de Garotinho são demais para seu caminhãozinho eleitoral numa candidatura à presidência do Brasil. Ele não tem chance.

Apesar dessa situação desconfortável, a História está sendo generosa com Garotinho. Lhe é oferecida de bandeja a oportunidade decidir o destino de nosso país! Como pode alguém perder esta chance? Pois vejam: o quadro eleitoral mostra que os 10% ou mais eleitores potenciais de Garotinho podem ser os votos de Minerva para resolver a eleição. Garotinho pode decidir esta eleição. Se o candidato do PSB desistir de concorrer e declarar seu apoio a Lula, este último pode ganhar no primeiro turno. Não seria magnífico? Depois de vezes sem conta de articulações esdrúxulas da direita para garantir o poder, a esquerda mostraria maturidade para se articular e assumir a presidência do Brasil já em outubro. Mesmo para Garotinho, a solução seria interessante. Ele poderia ter participação importante no governo Lula e teria os próximos 4 anos para se preparar para a próxima eleição. Também para o Brasil, seria bom para o cenário político um posicionamento do PSB.

A oportunidade histórica é de clareza cristalina. Por que Garotinho não demonstra altruísmo e grandeza, e pratica este gesto que não tem dimensão comparável na política nacional desde o suicídio de Getúlio Vargas?. Para vocês poderem sugerir diretamente a Garotinho sua desistência em favor de Lula indico o endereço de e-mail do candidato: garotinho@garotinho40.com.br. Vamos agir gente, façam a hora, não esperem acontecer!

- Tirésias da Silva -


 
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15setembro2002
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