ALELUIA! ALELUIA!

Percival Puggina (www.puggina.org)
colaborador

A eleição de Lula me faz lembrar aquelas cenas de desenho animado em que algo ou alguém cai sobre a gangorra e catapulta para cima quem está calmamente sentado na parte inferior do aparelho. Pois ali jazia Lula, há doze anos, parado nos seus bem conhecidos 32% do eleitorado, até que Roseana e Ciro despencaram, lançando o eterno presidenciável, já grisalho, para os píncaros do Planalto. E em menos de dois meses ele contabilizou a bagatela de mais 25 milhões de votos sobre seu estático patrimônio anterior.

Enquanto subia, Lula ia desfiando um novo discurso, no qual é impossível deixar de perceber o sentido messiânico. Se o presidencialismo leva o eleitor a buscar um salvador da pátria, ele estava encarnado e bem vestido no candidato petista, durante cuja passagem pelo poder os enfermos seriam curados, os desabrigados ganhariam teto, os sedentos seriam saciados e os famintos, alimentados. Bastaria atravessar o Mar Vermelho do processo eleitoral para que, sob o comando dele, o Brasil se convertesse na nova Terra Prometida, onde o maná da fartura seria espargido sobre o deserto das necessidades. E nós, brasileiros, estaríamos, enfim, libertos da servidão aos faraós representados pela plutocracia capitalista, pela globalização financeira e pelo FMI. Aleluia! Alelula!

Quem de nós não traz ainda, gravadas na retina, as imagens das jovens grávidas, descendo a verdejante encosta, com suas vestes virginalmente brancas, ventres apontando para o futuro e expostos à suave brisa que dele provinha? Pois é esse futuro que chega no dia 1º de janeiro, embora Lula já comece a dizer que ele não será tão lírico. O presidente eleito está descobrindo, nestes dias, que mulher grávida é um problema para o SUS, e que a realidade tem e continuará tendo orçamento, superávit primário, déficit da previdência e outras coisas assim, do tempo dos faraós.

Quando Jesus multiplicou os pães e os peixes, seus conterrâneos queriam fazê-lo rei, mas ele escapuliu no meio da multidão. Já o nosso messias de Garanhuns acenou com a multiplicação e foi eleito rei. Aleluia! Alelula!

Ao contrário do que alguns crêem, eu não só torço como rezo por todos os milagres prometidos. E rezo, especialmente, para que os cegos vejam! Porque se os cegos do MST, do MPA, do MTD, da Via Campesina, da DS, da ED, não virem, há forte possibilidade de que sobrevenha um período de pragas durante o qual o país estará vulnerável ao serpentário criado por seu presidente, antes da recente conversão.

Percival Puggina é arquiteto, político, escritor e presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública.


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12novembro2002
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