Uma sugestão para Lula

Bem, o cara foi eleito. Assistimos, em suas peregrinações pelo Brasil, a população hipnotizada que quer seu autógrafo, pede para tirar uma foto ao seu lado ou, apenas, tocá-lo. Está virando um messias, um santo, o Salvador da Pátria. Ai meu Deus do Céu! Isso dá um medo que eu me pelo. O homem tem uma tarefa hercúlea para tocar. É pior que os doze trabalhos do mitológico Hércules. A expectativa é proporcional às tarefas. O povão tá esperando que a coisa vai mudar. E logo. Eles tão esperando mudanças pra melhor e pra já, né? Qu’é que o Lula vai fazer?

Eu, aqui no meu canto, imbuído da responsabilidade de quem votou no metalúrgico, decidi trazer minha humilde contribuição. Já que o novo presidente não teve uma formação administrativa acadêmica, temos que lhe oferecer sugestões, que se juntem à sua decantada capacidade de negociar, para que os resultados práticos de seu mandato sejam os melhores possíveis. A questão principal de um gerente é o foco. Onde concentrar as energias do governo? Lula cansou de dizer que sua maior preocupação seria gerar empregos. Concordo. Também iria melhorar a Saúde. Quem pode discordar? E buscar maneiras de resolver o déficit habitacional. Claro, morar ao relento, mesmo com nossa natureza generosa, é o retrato de nosso fracasso social. E, ainda, tratar o dragão da violência. Tudo bem! As balas, com rumo ou perdidas, são um desafio à cidadania.

Mas, e aí, como fazer? Gerar emprego por decreto não costuma dar certo no médio e longo prazo. As contas públicas estão uma zona e aumentar despesa sem receita para bancá-la vai, apenas, acelerar a inflação que já anda alta. Trago, então, uma proposta de visão de governo para o gerente Lula. Minha solução é fácil de definir - como uma visão deve ser - e meu argumento básico é que, através do seu tratamento, as outras facetas do problema serão naturalmente consideradas. Não fazendo mais suspense, apresento o tão magnífico conselho: Lula deve centrar seu governo na Educação! Pô, era isso? Dirão os perplexos leitores. Essa é velha. Todo mundo sabe disso. Ao quê eu retruco, candidamente: Pois então, se sabemos todos, por que não acontece?

Deixa eu defender a causa. A questão é a seguinte: O Brasil não pode se isolar do mundo. O Brasil tem que movimentar sua economia, atrair investimentos, criar empregos, aumentar a renda do povo para que este consuma melhor, tenha acesso a mais saúde, educação, enfim, qualidade de vida. O ponto – reconheço que pouco original – que defendo é que com a educação da rapaziada os outros problemas tomam rumo na direção de se resolverem. Se não, vejamos. O jovem mais educado estará mais preparado para ser o operário ou o prestador de serviço que o mercado procura. Mais conhecimento básico, português e matemática, permitirão que nossa gente se integre a um mundo onde as coisas se passam muito rapidamente. Com o português na mão, o acesso aos jornais fica mais fácil. A discussão sobre direitos e deveres se aprimora. Um técnico tem que saber português para ler manuais. E precisamos de decisões ousadas. Português só não basta, tem que saber inglês (por favor, sem intransigência contra com os EUA) que é a língua da Internet, para atuar na informática, no turismo ou qualquer outra área. Com a educação, o Brasil tem mais chances para captar os investimentos que geram os tão presisados empregos. A educação também é um bom argumento para retirar da rua as crianças que estão crescendo nas esquinas das grandes cidades, esperando que um traficante venha adotá-las. Para isso, tolerância zero. O custo não é grande para obrigar as crianças a ficarem em escolas o dia inteiro antes de voltar para casa. Os reflexos de um projeto de educação radical aparecem em todas as áreas. A concentração no esforço de educar crianças influi, por exemplo, na explosão demográfica produzida, em muito, pela gravidez nas adolescentes. A escola pode ser o caminho de instruir os jovens para a importância de evitar a gravidez e, em paralelo, se proteger da Aids, e já estaremos falando de saúde pública. Vocês devem imaginar que eu estou sugerindo que se distribuam camisinhas por todo o canto? Pois é isso mesmo! O preço de camisinhas é infinitamente menor do que o tratamento dos doentes de Aids ou da interrupção do estudo da menina grávida de treze anos que tem que largar a escola e procurar um subemprego para manter seu filho, que terá ainda menos chances do que ela.

Lula tem a intenção de separar o ensino básico das universidades, colocando-os em ministérios diferentes. Parece correto. O ensino tem que ser direito e dever dos jovens até a maioridade. Parênteses: Nos EUA - aquela terra maligna onde moram os donos do século XXI - se um vizinho percebe que uma criança em idade escolar é mantida em casa, pode denunciar à polícia que esta vai investigar os motivos para a anomalia. Criança tem que ir à escola. É obrigada. Fecha parênteses.

Ia esquecendo a Saúde. Não seria mais, ou tão, importante que a educação? Um médico de renome internacional, recentemente, fez a seguinte declaração: - Eu achava que Saúde era a prioridade de um governo. Hoje, penso que a Educação tem que vir na frente. Um povo tem que ter Educação para exigir qualidade na Saúde. - Tô com ele. Vamos concentrar nossos esforços em educar a galera.

Tenho certeza que nosso novo presidente, onisciente que é, vai ler esta humilde matéria de um cidadão que teve a sorte de ter acesso a muito mais educação do que ele. Acho que Lula entende a importância daquilo que lhe foi negado. É nossa esperança. E que Lula se saia bem na prova!

- Tirésias da Silva -


 
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22.01.2003

Concordo plenamento com Tirésias da Silva, e quero adiconar mais itens. As escolas deveriam pelo nome literal, ensinar coisas que as pessoas vão usar como:
- Matemática usando uma 12C, por exemplo
- Ingles - conversação
- Aulas de Sexo (só para marmanjos) para eles se ligarem no problema que vão ter se forem pai ou mãe prematuramente.
- Aulas de Agricultura - outro dia um menino me perguntou se aquela trepadeira na parede era feijão (doeu).
Enfim parar de ensinar besteiras, perder tempo com um monte de matérias que nunca vamos usar.
Obrigado
Mário Jorge


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