Toninho Malvadeza  em ação

nota do editor: o artigo serve para lembrarmos de ACM, falecido em julho de 2007

- eugenia corazon -

Antonio Carlos Magalhães cumpre o roteiro de ousar nas baixarias políticas até dar a escorregadela derradeira, quando ultrapassará o limite da impunidade que conquistou em meio século de convivência com o poder. Agora, veio à tona outra faceta do controle feudal de ACM na Bahia. Aparece amplo esquema de escuta telefônica de opositores políticos. Solto na farra dos poderosos, ACM derrapou para espezinhar também a vida da ex-amante e seu novo e infeliz marido. Dono de tudo e de todos, não se fez de rogado, determinou que a vida da moça virasse um inferno. O senhor de todas as coisas baianas, havendo perdido seu brinquedo precioso, já enfrentando seu ocaso masculino, em avançada fase terminal, não tolera ver sua imagem de macho dominador maculada por tão grande desrespeito. Afinal, quem é esta mulher para pensar que pode deixar de gostar assim, de uma hora para outra? Deixar de gostar até pode. Se afastar é outra coisa. Eu mostro a ela quem manda! – deve ter sido a reação do magoado ancião.

A grosseria do fato deveria criar indignação geral. Entretanto, a montagem de uma estrutura de escuta telefônica de desafetos políticos e de antigos alvos do seu afeto parece estar de acordo com a expectativa do povo baiano para com seu líder. Para eles, já anestesiados pelas décadas de controle Carlista, é assim que as coisas são. É triste e sintomático o detalhe de que mesmo os pais da moça a renegaram depois que ela largou o velho imperador baiano. Pai e mãe devem ter se surpreendido com a audácia da filha em fugir de seu destino. Deve ser ruim ficar com o velhinho, mas as benesses do poder e riqueza não são desprezíveis. Para eles, deve ser melhor escolha ficar com o amante velho (imagino, já em processo de senilidade) e poderoso, do que ir buscar um marido jovem. Em tempo, o pai da moça não é inocente na história. Ele é o desembargador Amadiz Barreto, que vivia, até recentemente, usufruindo do prestígio e das vantagens das boas graças do amante da filha.

A tragédia grega do tipo "Zeus perseguindo a humana que o renegara" desperta a discussão sobre o poder de Toninho Malvadeza na Bahia. Como o povo baiano está vendo este processo? Quantos são aqueles que vêm a atitude do senador como apenas reação do amante desesperado? Não se iludam, a versão da vingança do homem ciumento costuma provocar mais pena do que revolta. A tortura que foi a vida da ex-namorada Adriana Barreto durante o período em que seu telefone foi grampeado, seus passos seguidos, sua intimidade revirada, pode ser relegada a segundo plano frente à romântica desculpa de que o velho cacique baiano fez tudo por amor. Argh! A asfixia profissional que ACM impôs ao concorrente ao coração de Adriana será mostrada ao povo como puro ciúme. Imaginem a sensação de impotência do advogado Plácido Faria – atual marido de Adriana – ao receber as ligações de seus clientes informando que foram instruídos para não trabalhar mais com seu escritório. Tão simples como! O Velho mandou, que se há de fazer? O grande Malvadeza, mais do que nunca, fez jus ao aposto. Este mesmo ACM, com a cara untada de óleo de peroba se sentiu com direito de presidir a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Era demais, teve que sair de fininho. Entretanto, a julgar pelas palavras do recém empossado presidente da dita Comissão de Justiça, o também pefelista Edison Lobão, as coisas estão caminhando para terminar em pizza, ou, no caso, moqueca. Diz Edison: "... baseado na declaração peremptória de inocência do senador Antonio Carlos Magalhães, a Polícia Federal não encontrará nada contra ele." Quer dizer que se o acusado diz que é inocente, é de praxe a PF não encontrar nada contra ele? É procedimento policial no mínimo curioso. Não acham? Quanto à advogada perseguida, Edison é cauteloso: "Talvez ela não seja a dona da verdade." Concordo. Que eu saiba, na Bahia, o dono da verdade é ACM. E ele conclui olímpico: "Não há acusação comprovada de qualquer natureza contra ninguém." Perfeito. Pra quê a gente perder tempo, não é?

Fica a expectativa de que o político baiano tenha exorbitado. Ele, como o meliante que deseja ser preso, dá mais uma chance para ser punido. Sua força política, antes nacional, se resume hoje a Bahia. Mas está enfraquecendo. A favor dele há a palhaçada nacional. Há as frases empostadas que escondem os golpes dos poderosos. Há o cinismo dos acima da lei, como o praticado por ACM, dizendo: "Acho que ela (Adriana) acusa agora é de saudade." Tudo nos deixa outra vez boquiabertos, de estômago virado. Vamos ver se dá em alguma coisa. Uma baixaria como esta podia ser o atestado de óbito político para ACM.

Aguardamos esperançosos.



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23fevereiro2003
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