Agora, matam os juizes

O novo estágio do terror no Brasil 

Novos tempos no Brasil! Agora começaram a matar os juizes também. É um progresso. O crime mostra que avança em organização e ousadia. Imagino que o grupo de Fernadinho Beira-Mar tenha enviado uma patrulha a Presidente Bernardes para executar o juiz e pressionar o governo a negociar os termos de um acordo para que seu negócio de tráfico de drogas continue operando com um mínimo de liberdade. Para quem vive no Rio de Janeiro, foi mais um frio a percorrer a espinha avisando que a calamidade se aproxima. E sobe nossa taxa de indignação latente, porque, em virtude do estado de dormência civil que atingimos, parece que não vamos fazer nada contra este estado de coisas além de nos trancarmos em casa. Uma passeata com um punhado de revoltados dará o retrato da pouca participação popular. Provavelmente, a ausência de articulação dos cidadãos se deve à falta de percepção do tamanho da mazela que tomou conta das cidades. Uma avaliação mais pessimista é de que o povo já está com medo de expressar reação ao banditismo, em particular, ao braço armado do tráfico. Tomara que não tenhamos chegado ainda a este estado terminal de sociedade!

É maior a indignação dos razoavelmente esclarecidos que podem ler um jornal e se aprofundar na visão do problema. Para os miseráveis, que sabem das coisas pelas manchetes em tom dramático do Jornal Nacional, as coisas se simplificam em uma luta entre bandido e mocinho, bem contra mal. O hipertenso ou que tem úlcera sofre a tortura sofisticada de perceber a canalhice da dupla Garotinho&Garotinha. Ele sofre ao ler sobre as trapalhadas e show de interesses pessoais desses políticos que, pretensamente, deviam zelar pela cidade. Garotinho, quando era o governador oficial, tinha o discurso de que o problema do tráfico era federal. Dizia ele algo como: - O Rio não produz cocaína, não fabrica AR15. O Governo Federal é que tem resolver este problema. Bem, o tal Governo Federal se propôs a assumir o problema. Não sei por que interesse político dos Garotinhos, mas a oferta foi recusada. O fato é que a Garotinha está atolada e deixa o estado e a cidade do Rio afundarem. Diga-se de passagem, ela tem muitas preocupações. As marolas do caso Silveirinha já molham os tornozelos da evangélica família e apontam que Garotinho tinha conhecimento do esquema de roubo na fiscalização no Rio. Essas dificuldades familiares e escolher qual o próximo corte de cabelo já é trabalho bastante para a medíocre apresentadora de programa de rádio que a sandice do povão elegeu no primeiro turno, fazendo-a governadora e testa-de-ferro do marido Menininho. Marido este, grande administrador, que, quando era governador, se lixou para o problema de segurança no Rio. Um belo indicador de seu desleixo com o problema da bandidagem foram as antológicas cenas, passadas na tevê, da sala de controle das visitas a presos em Bangu I. Parecia uma casa abandonada com um aparelho de televisão velho jogado num canto. O ex-governador e assistente de cama e mesa da atual governadora não percebia que deixar o sistema presidiário no abandono era fazer sombra para o crescimento do riquíssimo poder dos traficantes? Cabe a pergunta: Era conivência, simples incompetência ou medo de ser assassinado pelo tráfico? Bem, ele se declara competente e, enquanto crente em Deus, não teme a morte. Podemos concluir então ...

O que vem agora no processo de deterioração do Rio de Janeiro? Pela cartilha do terror, o próximo estágio serão os carros-bomba. Ficaremos mais parecidos com Bogotá. De vez em quando, numa rua importante da cidade, um carro cheio de explosivos vai pelos ares e mata um punhado de cidadãos. Como o brasileiro é criativo, talvez sigamos pelo aperfeiçoamento da prática dos ônibus incendiados (com os passageiros dentro, é claro). Apesar da criatividade, o efeito é o mesmo, a qualidade de vida da cidade vai para o espaço. Mais gente vai se armar. Mais empresas vão sair da cidade. Os turistas, mesmo os mais aventureiros, vão pensar duas vezes antes de visitar esta terra de ninguém. Com menos negócios e menos turismo, mais serão os desempregados que estarão disponíveis para serem agenciados pelo tráfico. De todo modo, os canalhas ficarão bem protegidos. O carro da governadora será blindado para que ela possa ir ao cabeleireiro em segurança. Resolvido o problema maior, a vida e as mortes continuarão.

- Ernesto Friedman -


 
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28.03.2003

O que fazer então? Manter a postura cômoda e inerte para o que acontece a nossa volta? Continuar  espectador, vítima da vontade alheia? Ser personagem de uma história escrita por poucos e fingir acreditar que ela não atingirá muitos? Esperar que chegue a nossa vez (que não tardará a chegar)?

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16março2003
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