Será que a corrupção diminui?

Num artigo de julho de 2000 identificávamos traços de justiça no Brasil. Assistíamos deliciados o juiz Lalau e o deputado Estevão se atolando no caso do prédio do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo. Demonstrávamos nosso ingênuo otimismo. Aquilo podia ser o começo da responsabilização dos colarinhos brancos. Hoje, ainda otimistas e certamente ingênuos, perguntamos se é razoável pensar que há uma tendência para a maior apuração dos casos de crimes de corrupção no Brasil? A tevê nos mostra operações de grande porte da Polícia Federal pegando quadrilhas. Elas identificam e prendem os assaltantes dos impostos que pagamos compulsoriamente ao governo. Os propinodutos que surgem, cuja malha parece ser maior que a malha rodoviária do país, podem ser os sintomas de uma guinada na direção de alguma seriedade com o dinheiro público. Quantos empresários e funcionários públicos, enriquecidos pelas armações institucionalizadas, estão dormindo um pouco pior nos últimos dias? Eles devem estar a pensar como será deselegante sujar o terno Armani quando tiverem que passear de camburão e ficar numa cela do Ponto Zero. Pensam eles: será que já é hora de ir escolhendo advogado? Preparando a mala com uma muda de roupa para usar na prisão? Talvez seja de bom tom selecionar o restaurante que enviará a comida para o presídio? Afinal, o serviço nestes estabelecimentos – os presídios – deixa muito a desejar. A propósito, é curioso como os elegantes ladrões se sentem injustiçados por serem pegos. A imagem que eles passam quando flagrados na tevê é de perplexidade. Trata-se de mais um aspecto trágico da corrupção. Com o passar do tempo, ela deteriora os valores morais a tal ponto que os ladrões já nem sabem se são criminosos ou apenas atuam dentro do esperado senso comum. Quando são presos, ficam atônitos. Quase tenho pena dos filhos da puta. Como será que evolui esta alteração de comportamento? Será que tudo começa com justificativas na base de que o funcionário público ganha pouco e, já nos estágios terminais da doença, a gargalhada cínica e o consumo desvairado anestesiam qualquer chance de questionamento quanto ao crime cometido. Se a perseguição continuar, vamos assistir choro e até suicídios daqueles que, na hora de enfrentar a responsabilidade, não vão conseguir encarar os familiares e amigos. Pensando melhor, não esperem muita cobrança da família. A doença da corrupção já avançou muito. Estamos num estágio de degradação em que o vergonhoso não é roubar, é se deixar pegar roubando. A gangrena moral foi espalhada. São décadas de organização de quadrilhas. As esposas e filhos já foram cooptados. O carro importado e o cartão de crédito ilimitado deveriam ter chamado atenção dos filhos e filhas. Provavelmente chamaram. Mas era tão conveniente esquecer o assunto e desfrutar dos prazeres do luxo fácil. E assim foi.

Pelo que vemos, prender ladrão é um bom negócio para o Estado. As operações levadas a efeito recentemente são investimento com bom retorno para os cofres públicos. Quantos trambiques estão sendo postergados hoje enquanto a quadrilha espera para ver se a caça aos corruptos é de verdade? Se o fio da investigação chega até eles? O montante arrecadado em impostos deve crescer sensivelmente nesta época! E não falamos de pouco. Vejam que os valores envolvidos são suficientes para viabilizar ou não as contas de um estado. O que está em jogo são bilhões de reais. Ou são dólares? Bem, de qualquer modo é muita grana. Temos receio é que a malta tente o roubar o máximo que puder para poder pagar os advogados depois que forem pegos. Pois é, não tem solução, tem que tirar mesmo esta turma de circulação.

Mas a culpa é mais ampla. E a ligação entre os governantes e os responsáveis pelos golpes que trabalham dentro da administração pública? Fica difícil um governador ou prefeito não saber da evasão de bilhões. Provavelmente, a prática usual é fazer vista grossa para o ladrão. Se na hora das campanhas eleitorais, o golpista contribuir generosamente para a caixinha, fica tudo certo. Por exemplo, qual era o envolvimento dos diminutivos Garotinho e Silveirinha? Até hoje não sabemos o quanto o governador podia ter agido para impedir que Silveirinha e sua gangue assaltassem os cofres do Rio. Pois é moçada, estamos num momento da verdade. O país está decidindo pela justiça ou pela tradicional pizza? É esperar para conferir.

- Tirésias da Silva -


 
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12outubro2003
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