Podemos vender o Amapá!

obs.: e na época do artigo eu nem pensava nos créditos de carbono

- sebastião agridoce -

Tirésias da Silva resolveu se dedicar à política. Basta de ficar reclamando aqui no Polemikos. Ele inicia, agora, sua carreira em direção à presidência da república. Inicialmente, se candidatará a um cargo menor, como, por exemplo, síndico do prédio em que mora ou vereador no Rio de Janeiro. Ele já está se preparando. Alguns cargos são difíceis de conquistar pois há muita cobrança quanto à idoneidade do candidato. É o caso da eleição de síndico do prédio. Bem, Tirésias precisa de propostas relevantes que fixem sua imagem junto aos eleitores. E ele tem várias. Mas, falemos de uma proposta de envergadura nacional, que irá projetá-lo imediatamente para o centro dos debates, ou, claro, expeli-lo para o limbo dos esquecidos. Veremos.

Entendo que o instruído leitor considerará uma afronta e, quando muito, uma piada, o projeto de nosso candidato, mas, humildemente, pedimos o benefício da dúvida e a generosidade da análise. O problema foi muito referenciado recentemente por Lula e seu estabanado primeiro ministro, o Zé Dirceu, quando resumiram a dívida brasileira na bela e incalculável quantia de 1 trilhão de dólares. É isso mesmo! A dívida externa é cerca de 300 bilhões e a dívida interna atinge 700 bilhões. É mole? Bem, a questão é como resolver este trivial problema de vivermos em um país falido. Tirésias, demonstrando sua sagacidade, buscou a solução genial na simplicidade da cultura familiar, no conhecimento que as famílias desenvolveram para resolver problemas agudos de falta de numerário. O quê elas fazem? Elas, simplesmente, vendem seus anéis. É simples. Quando é uma empresa, vendem-se unidades menos produtivas, ramos do negócio que não estão rendendo bem. O propósito é obter capital para sair do atoleiro, se organizar, e voltar a funcionar, seja com renda para pagar a conta da padaria, se for uma família, ou voltar a competir no mercado, se for uma empresa. Como no mundo não existe novidade, o Brasil é como uma família perdulária endividada no cartão de crédito ou uma empresa mal administrada prestes a quebrar. Então, para resolver nossos problemas de caixa, nossas dívidas abissais, temos que agir da mesma forma. Para diminuir a ansiedade do leitor, vamos à proposta de Tirésias: o Brasil pode vender uma parte do país para, com essa grana, sair do buraco!

Explicando melhor: que tal pegarmos, por exemplo, uma ponta do Amapá, lá no norte do Brasil, e fazermos um leilão internacional onde os países poderão adquirir a soberania total sobre este território, por um prazo, por exemplo, de 100 anos. Criaríamos uma Hong Kong brasileira! Quanto vocês acham que vale a soberania sobre uma área bem localizada no norte do continente América do Sul? Eu estimo, que os árabes, de saco cheio daquele deserto, ficariam tentados a comprar um pedaço de floresta amazônica com vista para o mar. Os americanos gostaríam de ter mais um estado. Talvez nosso latifúndio setentrional valha uns 500 bilhões ou, até, quem sabe, 1 trilhão, dependendo do tamanho do país que seria criado. De posse dessa grana, o Zé Dirceu, mesmo depois de criar emprego para colocar todos os petistas profissionais desempregados, ainda teria dinheiro para administrar nossas dívidas, construir estradas, acabar o analfabetismo e, até mesmo, resgatar o já esquecido Fome Zero, lembram daquele projeto? Entendo que o orgulho nacional ficará magoado com esta venda. A velha senhora que descobre que seu marido era um trambiqueiro e que a grana da família acabou, também fica sentida quando tem que se livrar de suas preciosas jóias de estimação, mas, meu povo, este é o momento de ações ousadas. É melhor os anéis que os dedos. E nossos dedos estão sendo comidos todo dia quando morre alguém por uma bala perdida, quando um garoto ou garota não tem escola para estudar, quando uma menina se prostitui por alguns trocados, quando um brasileiro morre de fome, quando ficamos como agora, perdidos, sem esperança para nossos filhos neste país sem rumo. O tempo está passando e nossos filhos não têm boa educação, nem bom serviço de saúde. Só prosperam o tráfico de drogas, as empresas de segurança, os bancos que ganham com a dívida, ou seja, ninguém que preste. Ou fazemos alguma coisa para pegar o trem da História, ou nos deixamos ficar, deitados nos trilhos, esperando que ele passe por cima de nossos pescoços. Tirésias nos conclama a cair na real, a tomar uma decisão que dê esperança para a geração que está aí sem saber o que vai ser quando crescer: desempregado?, camelô?, sem terra?, traficante?.

Está lançada a campanha de Tirésias da Silva. A idéia dele é polêmica, mas por que não tentar? Vamos apoiá-lo moçada!



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opinião dos leitores sobre o artigo acima ( ver artigo )

14.08.2004
A idéia de Tirésias precisa ser um pouco mais elaborada mas, sem dúvida não é má. Em primeiro lugar não deve entrar na transação apenas a ponta, mas o Amapá todo. Isso incluiria o nobre senador. Aquele.
Devemos adicionar o estado do Piauí para os israelenses que, obviamente construiriam um grande muro (gerando parte nos milhões de empregos que nosso Presidente não está conseguindo gerar). Apesar do muro, Ceará e Maranhão cotinuariam unidos. Unidos pelo subdesenvolvimento, fome e miséria. A idéia é antiga, pertence a um humorista brasileiro (mas que não entregaria o Piauí de graça - teriam que devolver Teresópolis).
E, last but not least, entregaríamos parte do Nordeste para os holandeses - aquela que Mauricinho queria, para que nossos compatriotas da foz pudessem, apesar da cabeça chata e da barriga de verminose, se transformar em cidadãos europeus.
Botésias da Silva
"Com Botésias e Tirésias seu prazer será total."

19.04.2004
Nobre Tirésias
Muito me emociona seu orgulho e respeito pela integridade nacional. Mas, se pensarmos um pouco, veremos que quem deve 1 trilhão de dólares, pode não ter vendido uma ponta do Amapá, mas vendeu a Saúde, a Educação e o direito de alocar seus parcos recursos para a solução dos maiores problemas nacionais, pois boa parte dos impostos arrecadados irá para pagamento de juros.
Mas quero manifestar minha solidariedade com sua posição contrária à venda do Amapá: quem sonha em viver na beira da praia em Ipanema não pode desperdiçar uma polegada, desculpe, um centímetro sequer do litoral brasileiro.
Assim sendo, proponho que, em vez de se vender uma ponta do Amapá - até porque não quero correr o risco de vender junto um nobre senador - se venda Roraima inteiro.
Nos livraríamos de vários problemas:
1 - primeiro dos índios, que já são donos de quase todo o estado - ou seja não estamos perdendo quase nada;
2 - deixaríamos de correr o risco de ver os territórios indígenas reconhecidos como nações independentes por nossos irmãos do norte que, obviamente, seriam os compradores;
3 - os índios seriam exterminados a seguir como ocorreu naquele país-exemplo;
4 - as outras nações indígenas iriam enfiar a viola no saco ou a borduna em outro lugar qualquer, com medo de ocorrer o mesmo com elas, abrindo espaço para nossos bandeirantes;
5 - and last but not least, enterraríamos essa discussão besta, se a porra do "a" de Roraima é aberto ou fechado.
Navio no Tejo


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31março2004
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