Brasil pelas Armas

A discussão sobre a proibição da venda de armas, que culminou na eleição desse domingo, foi um show de desinformação. Nenhum dos lados desejava esclarecer o problema. Em verdade, o assunto não merecia ser tratado com a pompa de um referendo popular. Gastou-se uma eleição para saber se o povo quer deixar que armas sejam vendidas em bancas de jornal e supermercados. Se tirarmos os discursos tortos que ouvimos, e se houvesse um mínimo de racionalidade na discussão, um argumento definitivo poderia orientar nossos votos: "havendo menos armas, haverá menos chance de haver tiros e, portanto, de haver mortes." Pronto! O SIM seria o caminho natural a ser escolhido pelos brasileiros, ainda que seja praticamente impossível por em prática com rigor uma lei que proíba a comercialização de armas. Afinal, não conseguimos nem tirar das ruas estes cães ferozes, pitbulls e  típicas armas ambulantes descontroladas, nem seus donos irresponsáveis. Foi tudo uma grande lambança. Decidimos algo que terá pouco reflexo sobre o acesso às armas de quem quiser tê-las. Os assaltantes não deixarão de obter armas. Os cidadãos que moram em sítios isolados também podem dispor de armas. Como a situação não está tão calamitosa que o povo esteja comprando trezoitões e saindo por aí a abater flanelinhas nos sinais de trânsito, as coisas vão ficar do mesmo jeito. E o NÃO ganhou com larga vantagem. Por quê? Mais que votar sobre o comércio de armas, a população expressou sua descrença no papel do governo como seu representante e defensor. Este voto foi um grande “dane-se” gritado pelos cidadãos que não agüentam mais a enganação do governo. O povo está no perigoso processo de perda da esperança. O recado que esta eleição trouxe é de que não se acredita em mais nada que venha do governo. Se existe governo, eu não creio! Mesmo que não passe pela cabeça da maioria das pessoas comprar uma arma, elas usaram o referendo para enviar uma mensagem: "não delego mais nada ao governo".

Sempre fica o ensinamento a cada eleição. Por exemplo, nessa eleição foi muito criticado o uso da imagem de atores e famoso que emprestam seu nome para fazer campanhas. Tem sentido a gostosinha atriz da novela influenciar um argumento da discussão sobre armas? A opinião é dela ou ela vai ganhar uns dias de férias num balneário do Caribe, tudo por conta da Taurus? Se o argumento é válido, não precisa Chico Buarque ou qualquer outro famoso para expressá-lo. Já tivemos experiências estranhas nessa área. Afinal todo mundo recomendava votar no ético PT. Deu no que deu. Houve também a hostória do Antonio Fagundes com a propaganda do Boi Gordo na tevê. No anúncio, ele garantia o investimento. O Boi Gordo emagreceu e faliu. Como ficou o Fagundes que candidamente vendia sua confiança no negócio? Ele devia tirar do gordo cachê que recebeu e pagar os incautos e principalmente as incautas que se deixaram hipnotizar pelo seu charme e botaram a grana naquele negócio de alto risco. Talvez precisemos de mais um referendo para decidir se a classe artística pode vender seu poder de manipulação para empurrar idéias na população. Mas um referendo custa, no barato, R$300 milhões. Não vale a pena gastar essa grana para decidir bobagem. Podemos fazer um referendo para decidir se o referendo deve acontecer. Sendo claro: vota NÃO quem achar que o assunto não é sem interesse e que o referendo deve acontecer... Vota SIM quem achar que ... achar o quê mesmo?

- Sebastião Agridoce -


 
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24outubro2005
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