e se a ministra morresse no assalto?

talvez alguém tomasse uma providência

- sebastião agridoce -

Que fique claro: não tenho nada contra a presidente do Supremo Tribunal, ministra Ellen Gracie. Muito pelo contrário. Mas ela, como membro do alto escalão do governo brasileiro, perdeu especial oportunidade de atuar em prol da melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro. A ministra, como tantos e cada vez mais patrícios de nosso país, foi assaltada em uma rua de grande tráfego do Rio de Janeiro. Os assaltantes, parece que eram dez homens e estavam fortemente armados, renderam três carros apesar de haver seguranças dando escolta à ministra. Um desaforo! Bem, perguntará o curioso leitor, o que poderia fazer a ministra? Poderia morrer, respondo eu.

Imagino o semblante de horror do leitor ao ler minha cruel sugestão. Concordo, eu mesmo me encabulo com ela. Entretanto, sensível leitor, minha sugestão é algo razoável. Vejam vocês! Como o caos já instalou em nossas terras, medidas extremas são necessárias. Estamos em pleno reinado da lei de Murici: “cada um cuida de si!”. Meu polêmico argumento se baseia na esperança que a morte de alguém muito importante retire o país do estado de letargia em que se encontra e algo seja feito contra o avanço do poder da bandidagem. Saibam que a ministra é a quarta pessoa na linha sucessória da presidência. Se uma personalidade importante da república tombasse vítima da insegurança pública reinante, talvez se faça alguma coisa. Digo isso sem muita convicção pois muito horror já aconteceu e nenhuma ação efetiva decorreu disso. Sem dúvida é muito feio eu propor aqui o sacrifício da vida da ministra, mulher, mãe de família, para resolver um problema que me atinge. Mas é justamente este motivo. Atinge a mim, a você, a milhares de mães de família e nada acontece. Todo dia morre mãe, criança ou trabalhador como vítimas de tiroteio ou bala perdida. Minha ousada hipótese é que se acontecesse com alguém da elite talvez o poder constituído se sensibilizasse.

Vejam que sobre este assunto de elites estou alinhado como o presidente Lula. Devemos seguir a linha de raciocínio do nosso grande estadista. Ele vive pregando contra as elites que chupam o sangue do povo brasileiro. Pois se alguma elite dessas, bem famosa, fosse seqüestrada? Só para começar, se o pai recebesse a orelha do filho numa caixa com a mensagem pedindo polpudo resgate. É motivante, pois não? Tenho mesmo uma indicação para o membro da elite que poderia ser surrupiado: o filho do Lula! Ele é da fina flor da elite. É milionário, um típico novo rico, sócio da Telemar, fatura milhões. O filho do metalúrgico podia ser imolado em sacrifício, sendo seqüestrado e morto. O país, as autoridades, o presidente, unidos na dor, correriam para resolver o problema.

A idéia é essa: se ficar bem claro que não adianta ser milionário ou poderoso, que todos estão no mesmo barco que afunda, talvez se busque uma solução para o problema. Conseguimos democratizar a insegurança. Lula poderia conclamar a Nação a se unir em torno dessa ameaça que ele, em seu discurso tradicionalmente superlativo, afirmaria nunca antes na história do Brasil ter se mostrado tão forte.

Pois é, não tenho nada contra a ministra ou seus colegas do Judiciário, que tanto se preocupam em aumentar seus salários, provavelmente para gastar em recursos de segurança que os afastem da terrível realidade do Brasil. Até concordo com a ministra quando diz que é difícil viver no Rio. O fato é que a sua morte no assalto teria sido útil a nós todos. Ela seria alçada à categoria de heroína da raça. O povo passearia nas praias no domingo solidarizados com sua tragédia. Seria bonito. Não vejo papel mais digno para Dona Ellen Gracie. Tampouco tenho algo contra o filho do Lula. O sujeito só está aproveitando a oportunidade que o cargo do zeloso papai lhe permitiu.

Em tempo: relaxem! Isto é apenas um exercício de imaginação. Ainda mais que o raciocínio seguido desperta triste conclusão: no fundo, no fundo, acho que nosso povo não tem jeito mesmo, a ministra ia morrer e continuaria tudo a mesma merda.




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10dezembro2006
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