Renan Calheiros e seu calvário

não queremos saber quem Calheiros comeu

- sebastião agridoce -

Esclarecendo: – Não estamos interessados em saber quem o Presidente do Senado Federal está comendo. Se o senador Renan Calheiros não usa camisinha em suas relações extraconjugais, isso é questão de saúde pública, assunto da alçada do ministro Temporão. O que a gente quer saber é de onde vem o dinheiro com que ele pagava a gestante. Tanto faz se ele pagava pensão para uma moça com quem teve um caso extraconjugal ou comprou um lancha ou um iPod. A questão é saber quem fornecia os reais. Qual a fonte do dinheiro, pô? Se der para explicar que eram ganhos agropecuários do senador, ótimo. Mas a moça recebia a grana nos escritórios da empreiteira Mendes Junior. O lobista Cláudio Gontijo, empregado da empreiteira, que Renan declara ser seu amigo, era um bom amigo da onça. Como pode o bem intencionado camarada fazer os pagamentos à gestante bem dentro de uma empresa que tem contratos de milhões em obras públicas? Claro que o dinheiro lhe era regular e solenemente repassado pelo ilibado senador. Mas quem não conhecesse a boa reputação de Calheiros, poderia mal dizer que o amigo lhe cedia a dinheirama sem pedir restituição. Alguém pode se apiedar de Calheiros e dizer que Gontijo lhe dava dinheiro para amenizar seu calvário. A propósito, que porra de calvário é esse que o senador insiste em referir? Não entendi onde está o calvário. Afinal, o nobre senador se saiu muito bem. Ele comia a gostosa da Mônica, a esposa o perdoou pelo deslize e a grana da pensão aflorava regularmente nas dependências da Empreiteira Mendes Junior. Onde está o sofrimento?

Mônica Veloso não é de se jogar fora. Tem ministro do Lula - provavelmente morrendo de inveja - declarando que também comeu a ex-gestante. Acho que é puro olho grande! O senador, como bom nordestino, comia da melhor. A patroa, que podia reclamar, aceitou bem. Fez questão de dar solidariedade ao esposo e foi inpávida assistir a penitência do maridão no senado. Nos tempos atuais, esta senhora deu exemplo de boa esposa. A esposa de Celso Pitta não era assim. O mundo está cheio de esposas ingratas. Mas a mulher de Calheiros deu apoio ao senador, mesmo depois dele confessar ter ciscado no quintal da jornalista. Isto é que é mulher de fibra. Assistiu em pé a declaração de culpa do marido, que se desfolhava no plenário do Senado Federal explicando ser pai da filha da ex-gestante. Bonito. Isso sim é apreço pela família e os bens familiares.

Repito: - O que importa é o dinheiro. É a grana! Não esqueçam a grana! Ela aparecia no escritório da Mendes Junior. Até ir parar na imprensa, tava todo mundo satisfeito com o processo. Para Mônica, os reais apareciam certos, todo mês, em notas vivas. Político brasileiro só trabalha em dinheiro vivo. Quem usa cheque é trabalhador pé rapado com emprego e salário. Para a empreiteira era uma delícia. A Mendes Junior ficaria feliz em esquecer de cobrar do senador qualquer mensalidade de R$15 mil pagos à jovem mãe de sua filha. É tudo que uma empreiteira deseja. Um lobista sabe bem o valor da mesada da gestante da filha do Presidente do Senado Federal. Imaginem o valor de ter crédito no coração do viril Calheiros. Por sinal, o tal Gontijo é um personagem e tanto. Ele oferecia serviço completo. Era amigo e alcoviteiro. Providenciava até o flat para Calheiros ter seus encontros com a jornalista. Reafirmo: - Não me interessa a vida íntima desse tribuno das Alagoas. Só gostaria de saber de onde vinha a grana?

Podemos imaginar um roteiro mirabolante para esta história. Imaginem uma doce moça que fazia programas com figuras importantes da república e teve uma filha com um senador. Depois de namorar políticos em Brasília, vendo a filha crescer, resolve que é hora de se estabelecer. A solução era esfolar o famoso pai da filha. Ele hesita em soltar a grana. O incauto tribuno tenta acordo. Propõe repasse de cem mil reais para cobrir a redução da pensão e encerrar o processo. Como sempre, em dinheiro vivo para facilitar a contagem. O destino eufemístico do singelo montante é criar um “fundo para a educação da sagrada criança”. Mas a garota quer mais. Ela sabe que está na hora de dar o bote, de fazer o pé de meia. Aprendeu que o tempo passa, as rugas chegam, a gordura fica incontrolável. O que o fértil senador não der agora, outros políticos não se interessarão em oferecer no futuro a uma mãe solteira, mesmo que sua filha tenha sangue da corte. Talvez, a pragmática garota já esteja enrabichada com seu advogado. A dupla, quando o caso vem à tona, toma o cuidado de afundar o senador em denúncias. Não deixam o coitado explicar alguma coisa sem acrescentar detalhes que o deixam exposto. O golpe dá certo. A mídia expõe a bela ex-gestante da filha do senador. O Congresso tenta colocar panos quentes. Não interessa aos congressistas aprofundar investigações sobre a crônica simbiose entre políticos e empreiteiras. A solução do imbróglio é tipicamente brasileira. A Playboy se dispõe a ajudar! A revista masculina propõe mostrar ao Brasil detalhes daquilo que levou o senador à perdição. É a solução para salvar todo mundo. A bela concubina ganha da Playboy, aquele milhão de reais que desejava receber do estupendo senador. Tudo resolvido. A ética tortuosa do senador vai sendo esquecida. O assunto se perde no noticiário. Um novo escândalo tira o interesse pelo relacionamento do senador com empreiteiras. Ele se aquieta e não abre o bico com denúncias contra seus pares. O Senado se acalma. Acabamos em mais pizza. O Brasil fica um pouquinho mais merda.



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opinião dos leitores sobre o artigo acima ( ver artigo )

24.06.2007
Quase brilhante.
Esse artigo seria absolutamente brilhante se este se apresentasse imparcial cobrando do governo seu papel. Ao contrário o desfecho foi parcial e politicista. Poderia ser político, seria ótimo.


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03junho2007
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