Só Cartola
Elton Medeiros e Nelson Sargento

Não deu pra programar

O CD player do meu carro tem uma função que nos permite escolher as músicas preferidas. O processo se resume em ir ouvindo o CD e a cada faixa que se gosta mais, apertar uma determinada tecla. Depois, basta escolher a função e através de um programa, ele toca apenas as escolhidas.

Esse recurso mostrou-se inútil quando fui ouvir o CD Só Cartola, com Elton Medeiros e Nelson Sargento. Cada faixa ouvida revela uma jóia, dando vontade de voltá-la. Vontade essa, somente suplantada pela ansiedade de ouvir a próxima, que invariavelmente se mostra tão magnífica quanto a anterior.

Cartola é um dos 5 gênios de nossa música, figurando ao lado de Pixinguinha, Noel Rosa, Tom Jobim e João Gilberto. Todos eles exerceram uma influência decisiva para que a chamada MPB tivesse a qualidade que tem hoje.

Neste CD, os intérpretes mostram canções inspiradíssimas do mestre, como já fizeram inúmeros outros artistas. Elton Medeiros e Nelson Sargento, entretanto, são do ramo. Além de terem privado da companhia do grande sambista, foram ambos seus parceiros. Sabem o terreno em que estão pisando. Foi Nelson Sargento, aliás, quem criou uma das mais inspiradas definições de Cartola. Após a morte do grande sambista, ele disse:

"Cartola não existiu, mas foi um sonho que a gente teve".

O que torna esse CD especial é a forma com que as canções são interpretadas, ou seja, com a simplicidade que a obra de Cartola exige.

Contribui muito para isso, o acompanhamento do conjunto Galo Preto, que se comporta sem exageros, como deve ser tocado o samba de raiz. Quem dera o samba fosse sempre assim executado. Bandolim, cavaquinho, flauta, violões de 6 e 7 e a percussão que se resume basicamente a um pandeiro. É divina a interpretação instrumental da canção Sol e Chuva.

O disco foi gravado ao vivo, no Teatro Municipal de Niterói, em outubro de 98. Nota-se a platéia delirando. Não aos gritos e assobios, mas gozando de um prazer gostoso que só esse tipo de música pode proporcionar.

Não é um CD que vai vender bastante e muito menos tocar nas rádios. É uma pena. Faria muito bem à nossa alma poder ouvi-lo em toda parte.

- Arnaldo Heredia -
colaborador


 

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02junho2000
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