Sincopando o breque
Nei Lopes

Samba Inteligente

Eu, que gosto muito do samba autêntico, o verdadeiro samba de raiz, costumo ficar irritado quando ouço e vejo esses bandos de pagodeiros que pipocam pelo país, entoando letras melosas e melodias sempre iguais. Iguais e ruins. Ouvir tais conjuntos é bastante desagradável, mas vê-los se apresentando beira o insuportável, com suas expressões idiotas nas faces.

Sinto muita saudade de sambas mais elaborados, mais inspirados, tanto na letra quanto na melodia. Sinto saudade dos sambas de terreiro, dos sambas de pagode, dos sambas de partido alto. E sinto saudade dos sambas de breque. Daqueles sambas que o inigualável Moreira da Silva ajudou a tornar inesquecíveis, com letras muitas vezes absurdas, mas sempre divertidas. Quem tem mais idade ou alguma curiosidade, certamente se lembra dos sucessos de Miguel Gustavo na voz do Morengueira, como O rei do gatilho, O último dos moicanos, ou O conto do pintor. Sem falar nos clássicos Na subida do morro, Amigo urso, Olha o Padilha e Acertei no milhar. Todos sambas de breque magistrais.

Pois nessa escassez de bons sambas e bons sambistas, foi ótimo encontrar nas prateleiras de uma loja, o CD de Nei Lopes, Sincopando o breque. É um disco como os de antigamente, com sambas bem sincopados e divertidos. De muita qualidade.

Nei Lopes não é só sambista. Estudioso da cultura negra no Brasil, escreveu Bantos, Males e Identidade Negra e também O Negro no Rio de Janeiro e sua Tradição Musical. É um erudito no assunto, sem ser chato. Isso pode ser facilmente comprovado ouvindo-se esse CD. Nele, Nei Lopes resgata um pouco daquela romântica malandragem carioca de antes dos bailes funks.

A antológica canção Baile no Elite, parceria sua com o saudoso João Nogueira abre esse magnífico CD. O autor de Senhora Liberdade vai nos brindando com o mais absoluto samba de raiz. Ora só, ora em fecunda parceria, vai nos mostrando suas composições com toda uma ginga e malandragem que felizmente o carioca ainda não perdeu, apesar do esforço de muitos.

Os arranjos de Cláudio Jorge dão ao disco um clima de gafieira que há muito não se ouvia. É um excelente complemento para esses sambas tão inspirados.

Enfim, um disco de samba feito com inteligência.

- Arnaldo Heredia -


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13setembro2000
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