Canções, Versões
Cole Porter & George Gershwin

Vontade de ouvir os originais...

O CD Canções, Versões, idealizado por Carlos Rennó (que já havia publicado, em 91, um songbook homônimo, com biografia, partituras e letras de composições e versões de Cole Porter), conta com a participação dos intérpretes: Zélia Duncan; Caetano Veloso; Chico Buarque & Elza Soares; Gilberto Gil; Rita Lee; Tom Zé; Cássia Eller; Jane Duboc; Ed Motta; Carlos Fernando; Sandra de Sá; Paula Toller; Mônica Salmaso e Jussara Silveira.

Baseado em versões das letras das canções de Cole Porter & George Gershwin, em sua maioria, de autoria do próprio Carlos Rennó, o CD vale pela excelente e divertida faixa: Façamos (Vamos amar), versão de: Let’s do it (Let’s fall in love), de Cole Porter (1928), com a ótima interpretação de Elza Soares & Chico Buarque. Impossível ouvi-la sem tentar cantarolá-la ou repeti-la à exaustão, até decorar sua letra! Seguem alguns trechos:

"Os cidadãos, no Japão fazem,
Lá na China um bilhão fazem,
Façamos, vamos amar. (...)

Libélulas, em bambus, fazem,
Centopéias sem tabus, fazem,
Façamos, vamos amar. (...)

As taturanas também fazem,
Com ardor incomum;
Grilos, meu bem, fazem
E sem ter grilo nenhum. (...)

Coelhos só, e tão só, fazem,
Macaquinhos, num cipó, fazem,
Façamos, vamos amar. (...)

Leões ao léu, sob o céu, fazem,
Ursos lambuzando-se no mel, fazem,
Façamos, vamos amar."

No entanto, soa estranho, por exemplo, na voz de Jane Duboc, a versão da linda Embraceable you (de George & Ira Gershwin, versão de Carlos Rennó & Nelson Ascher), com o título em português: "Abraçável você". Apesar do adjetivo constar em dicionário [a.bra.çá.vel (adj) m+f (abraçar+vel) 1. Digno de ser abraçado, que pode ser abraçado. 2. Abrangível], quando a letra diz: "Me abrace/ Doce abraçável você" derivado de: "Embrace me / My sweet embraceable you", tem-se a impressão de que poderia ter sido traduzido diferente...

O escritor/poeta/tradutor amazonense, Thiago de Mello, definiu, de maneira irretocável, a arte de traduzir, e, ouvindo este CD, repleto de versões de clássicos da música popular americana, lembrei de suas palavras:

"Já disse, faz tempo, que tradução de poesia é trabalho fascinante pelo simples fato de ser inalcançável na sua plenitude. Impossível dizer num idioma o que foi poeticamente sentido, pensado e escrito em outro idioma: nunca será a mesma coisa. O que mais e de mais parecido se alcança, por muito competente e abençoado que seja o tradutor, é uma aproximação feliz da criação original. É por isso que o tradutor de poesia tem de ser necessariamente um também criador, estou dizendo um poeta e, ao mesmo tempo, um recriador. Um criador que recria a partir do que foi criado. Reinventor da invenção. O resultado desse árduo e delicado trabalho artístico pode até chegar a ser belo, mas de uma beleza diferente, que tem outro perfil, outra voz, outros olhos." (extraído do livro de poemas de Pablo Neruda – "Cadernos de Temuco", com tradução de Thiago de Mello – Editora Bertrand Brasil/RJ, 1998)

O CD reflete um pouco isso. As versões não são ruins, os intérpretes, ótimos. Destaque para as faixas de Zélia Duncan, que ficou com a versão: "Eu só me ligo em você" [I get a kick out of you – Cole Porter]; Caetano com "Que de-lindo" [It’s de-lovely – Cole Porter]; Gil com "Um dia de garoa" [A foggy day – George & Ira Gershwin]; Cássia Eller com "Toda vez que eu digo adeus" [Ev’ry time I say goodbye – Cole Porter]; Ed Motta com "Fascinante ritmo" [Fascinating Rhythm – George & Ira Gershwin]; Paula Toller com "Quem tome conta de mim" [versão da inesquecível e linda: Someone to watch over me – George & Ira Gershwin], entre outras. Mas fica em mim, toda vez que ouço este CD, ainda uma enorme vontade de ouvir as letras originais...

- Clélia Riquino -
colaboradora


 

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05dezembro2000
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