O Meio
Luiz Tatit

MODERNIDADE

Era o começo dos anos 80. A ditadura militar não se agüentava nas pernas. Algumas ações terroristas, como a bomba do Riocentro, eram o último suspiro do regime. As pessoas começavam a tentar respirar e a reagir, exigindo mudanças. O país tentava encontrar um caminho político. Os operários da região do ABC paulista se organizavam, talvez sem saber que aquilo ia gerar o partido político ideologicamente mais organizado que temos hoje.

Nossa música, entretanto, começava a mostrar falta de fôlego. Sem perceber estávamos entrando num período extremamente infecundo e pouco criativo. Era essa falta de criatividade que iria dar espaço para manifestações "artísticas" questionáveis, no que diz respeito à autenticidade. Depois dessa crise de imaginação pudemos ver a proliferação dos grupos de lambada, das duplas sertanejas urbanas, dos grupos de pagode, das bandas de axé e, ao que tudo indica, chegamos agora na fase dos cantores funk, com suas popozudas e seus tigrões.

Mas no início dos 80 havia alguma tentativa de criação. E vinha da USP, em São Paulo, essa tentativa. Músicos como Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção e grupos como o Premeditando o Breque e o Língua de Trapo tentavam criar e conseguir espaço para mostrar sua música. Seus trabalhos eram muito criativos mas, pelo que parece, a década estava condenada à baixa qualidade musical. Nenhum deles vingou.

Um desse conjuntos era o Grupo Rumo. Formado por uma porção de gente com influências diversas, fazia um som muito moderno, diferente de tudo o que se ouvira até então, ao mesmo tempo que não se desprendia das mais autênticas influências musicais brasileiras. Em 81 lança um disco (Rumo) revolucionário no que diz respeito à forma de executar as músicas e logo em seguida, lança Rumo aos Antigos, resgatando parte da obra de Sinhô, Noel Rosa e Lamartine Babo.

O grupo, como os demais, não vingou, mas nos legou pelo menos 3 grandes talentos. O primeiro deles é a excelente cantora Ná Ozzetti, afinadíssima e dona de um comovente e nada caricato sotaque paulistano. Outro grande valor que desabrochou no Rumo foi Hélio Ziskind, hoje o responsável pela maioria das trilhas sonoras dos programas da TV Cultura. Um trabalho de grande qualidade.

Mas a verdadeira alma do Grupo Rumo foi Luiz Tatit. Não só a Alma. O cérebro e o coração também. Sem ter um timbre de voz especial ou belo, ele notabilizou-se pela maneira de cantar. Se é que se pode chamar de cantar a maneira que ele utiliza para "dizer" a canção.

Pois esse professor de música da Universidade de São Paulo lançou agora o CD O Meio. É um disco ótimo, com pérolas como a canção Trio de Efeitos, dele e de José Miguel Wisnik, cantada pelos autores e pela excelente cantora Suzana Sales, outra remanescente do grupo de Arrigo Barnabé. Tatit não renega sua influência de Lamartine na linda canção Serra do Mar, cheia de referências a Serra da Boa Esperança, do mestre. O CD termina com Essa é pra acabar, canção já utilizada por outros grupos na hora de terminar um show. Muito divertida.

E há muito mais. É um CD para se ouvir com atenção, principalmente as letras, cuja articulação das palavras já era sua marca registrada dos tempos de Rumo. A viola de Fábio Tagliaferri é que dá o tom ao trabalho. Sem dúvida, um CD moderno.

- Arnaldo Heredia  -


 

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13abril2001
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