Jiu-jitzu: querem cortar o mau pela raiz
Isto é inumano! É cruel! Depois da perseguição que o homem vem fazendo aos pobres animais através dos séculos. Depois das baleias, do antílope africano, do urso Panda, de Edmundo, chega a vez, agora, dos inocentes e mal interpretados lutadores de jiu-jitzu. Nossa voz se levanta para proteger uma espécie que prolifera como nunca, mas não merece ser tratada de maneira tão castradora. A proposta, em tramitação na Assembléia Legislativa, de esterilizar os lutadores desta arte marcial tipicamente brasileira, é uma violência. Não é tolerável que essas criaturas anabolizadas, com suas orelhinhas de couve-flor, que no fundo são carinhosas e que gostam mesmo é de um cheek-to-cheek na posição papai-mamãe ou, no jargão da nobre arte, "em guarda", sejam privadas de seus escrotos. Deixem os escrotos dos escrotos de lado! O deputado Senki Mono ainda tentou manobra, antes de ser subjugado, através de aditivo a lei ordinária no qual propunha a substituição da cirurgia estirpante pela obrigação do uso de focinheira. Quase foi mordido por um colega, que não abria mão, e, entre socos, pedia o enjaulamento dos animais. A presidente da Associação dos Protetores de Animais e Assemelhados, consultada, sugeriu a introdução de uma medida educativa para os rapazes briguentos: o empalamento com vara de 2 metros bem medidos. A mãe do menino Paulo Desairoso, espancado por um desses rapazes incompreendidos do jiu-jitzu, teve que sair do plenário passando em corredor polonês improvisado pelos membros e troncos de uma academia da Barra. O encarregado de relações públicas e sadomazoquistas da academia, Osmar Rento, um lutador, que vestia terno e gravata, se disse terno e que usava gravata apenas para apagar aqueles que distraidamente o olhavam atravessado na rua. Afirmou ser um intelectual reformador que seguia Nelson Rodrigues a distância e explicou: mulher gosta de apanhar e homem também. Acrescentou que só dá porrada quando provocado ou não. O garoto, nitidamente possuído por uma força interior, confessou que, em casa, se bate, debate e baba pelo esporte e, nas ruas, sem preconceito, bate em qualquer um. Bater para ele é uma necessidade. Nosso repórter perguntou se não era desagradável as pessoas terem que pisar nas necessidades que ele fazia nas ruas. Osmar declarou que, quanto a isso, está cagando, mas insistiu que os espécimes que agridem sem motivo são uma minoria radical em extinção. Nosso repórter, já confiante no equilíbrio emocional do pobre lutador, fez um trocadilho dizendo que eles devem ser chamados de brutamontes pela quantidade de cocô que deixam nas calçadas. O tempo fechou. A doce criança esclareceu que, infelizmente, pertencia à minoria radical em extinção e, ato contínuo, passou a espancar nosso repórter, que, como Kenny, é sempre finalizado no final dos artigos. Ele sofreu na pele e ossos seu ofício e, em seguida, foi adormecido por impecável mata-leão. -Ernesto Friedman - |
mais ciência Início da página | Página principal 25março1999 |