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Fusão no dos outros é refresco

Esta é a época das grandes fusões. A inovação do final do século XX na Administração de Empresas. O ciclo completo empregado pelas gerências é o chamado Encolhe-Estica. Inicialmente, as empresas demitem para reduzir custos. Depois, se compram ou se fundem para reduzir custos internos. Depois que se juntam, ficam com muitos empregados. Então, os geniais administradores fazem o quê? Demitem novamente para reduzir custos! E o ciclo Encolhe-Estica recomeça.

Estima-se que as fusões estão movimentando da ordem de 1 trilhão de dólares por ano no mundo. O processo é fortemente desempregador e a queda de postos de emprego é de cerca de 30% ao ano. Já temos 1 bilhão de criaturas no planeta sem ter onde trabalhar, aproximadamente 20% de toda a população da Terra. A equipe de pesquisa de Polemikos, com o intuito de dar ciência a vocês, usou de técnicas sofisticadas de simulação para calcular o resultado futuro desse fenômeno que, parece, veio para resolver. O resultado é surpreendente. No ano da graça de 2058, só restarão na Terra dois empregados. Este será o momento mais humano na história das relações patrão-empregado, quando o Presidente da Microsoft (qual empresa vocês achavam que seria?) terá que demitir o Vice-Presidente. Terá que fazer isso pessoalmente, pois não haverá mais o Departamento de RH para ele dar um telefonema e dizer: - Demita!

Mr. Gates III, o solitário último executivo, apesar de já ter ultrapassado os cem anos de idade, vai aparentar apenas oitenta. Ele será o herói desse fabuloso momento da espécie. Os acionistas da Microsoft estarão satisfeitos, pois os custos de pessoal, neste ano, serão rigorosamente cortados pela metade. Este será o foco do relatório anual da empresa. Entretanto, os acionistas terão algumas dificuldades para gastar seus ganhos. Como não haverá mais empregados, não haverá mais salários. Daí não haverá consumidores. Logo, não tendo mercado, para quê oferta? Não havendo produção, onde os felizes acionistas gastarão seus bilhões?

O resto da população do planeta terá problemas de outra ordem. A qualidade de vida vai cair aceleradamente durante a primeira metade do século XXI. Mas o sistema é assim mesmo e quem está na chuva é pra se molhar. Na realidade, a última estatística, antes que o instituto de pesquisas demita seu derradeiro profissional em 2033, registrará uma massa formidável de 2,5 bilhões de desempregados sem teto, ou seja, literalmente na chuva. Os outros 2 bilhões, também desempregados, ocuparão o que restar das habitações. Vão se manter lá dentro, bem armados, defendendo seus bunkers. Mas, isso é apenas um detalhe. De resto a economia irá muito bem. Se dividirmos os 400 trilhões de dólares da poupança do Sr. Gates pela população do planeta, obtém-se a razoável fortuna per capita de US$ 80.000 dólares. Bastante razoável. A estatística não mente.

Este é o futuro que se avizinha colega! Como previsões são muito difíceis, nossos expertos computadores alertaram que outras ramificações inusitadas de futuro podem se consolidar nestes próximos 50 anos. Por exemplo, há uma probabilidade de 36,4 % de outro tipo de fusão resolver o problema. Uma fusão nuclear provocada por terroristas iugoslavos numa capital dos EUA, provocando retaliações cirúrgicas do governo americano, que vão se desdobrar na solução definitiva de todos os nossos problemas. Bum! Existe também uma probabilidade pequena (11,3 %) de que uma revolução unindo as igrejas e os antigos comunistas produzam uma reversão em todo o processo. Algo como uma combinação da Igreja Universal e o PCdoB. A Igreja Universal tratará da administração e do lucro. O PCdoB cuidará do lado religioso! O computador não ousou dizer como ficaria o mundo depois que este samba do crioulo doido político assumisse o poder. Como sempre, a grande verdade prevalece: Quem viver verá!

- Ernesto Friedman -


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09abril1999
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