O brasileiro está brocha

É a ciência que afirma.

Em chamada de capa do JB de 2 de junho, ficamos sabendo sobre a aflição da disfunção erétil, nome pomposo para um desempenho não tão pomposo assim daquele órgão que, para qualquer homem, não é mole não tê-lo duro. Ou, de outra maneira, é duro, tê-lo persistentemente mole. Bem, a matéria afirma que 100 milhões de pobres coitados têm este problema no mundo, 10 milhões deles são brasileiros! Hum... Para uma população global de cerca de 5 bilhões de pessoas, presumivelmente 2,5 bilhões são homens. Se você fizer uma continha simples, coisa que se aprende no ginásio, vai notar que 100 milhões divididos por 2,5 bilhões é a fração 1/25 e, portanto, como a população masculina brasileira é de cerca de 75 milhões de machos, deveríamos ter cerca de 3 milhões de homens (1/25 x 75 milhões) com problemas para conseguir uma boa e visível ereção. Mas, nos causa surpresa (para mim, um macho forte, atuante e preocupado com seu futuro, causa pânico) o Brasil registrar, não três, mas 10 milhões de incompetentes eréteis. Minha nossa! Quer dizer que o brasileiro é três vezes mais, como dizer, molenga, que a média mundial. O brasileiro é recordista de brochice! Não é mole. Ou seja, é excessivamente mole.

Para que se tenha a verdadeira dimensão do problema (apesar da difícil medição devido ao estado relaxado do membro), a reportagem do JB nos apresenta os tratamentos usados para corrigir a disfunção erétil. São procedimentos tão agradáveis como "uso de próteses penianas, dispositivos de constrição a vácuo, injeções intrapenianas e terapia transuretral". Imaginem. Deve doer muito! Entretanto, como a causa é nobre, não faltam pacientes para se submeter a estes tratamentos medievais.

Então era isso, a gente curtindo de gostoso, mas estávamos nas últimas. Esta deve ter sido a razão pela qual o Brasil correu a liberar o uso do medicamento Viagra logo depois dos EUA (pelo jeito, outro país brocha). O laboratório Pfizer e seus acionistas devem estar obtendo bons orgasmos (certamente precedidos de boas ereções) com o lucro proporcionado pelo Viagra, medicamento que passou a encabeçar as vendas do laboratório no Brasil.

Mas afinal o que provocou esta praga sobre o pobre e já sofrido povo verde e amarelo? Amarelo não. Com esta estatística de falha na hora H, nosso povo pode ser chamado de amarelão. A avaliação do centro de pesquisas de Polemikos, com seus resultados sempre impregnados do viés político, é de que esta conduta cabisbaixa do macho nacional se deve a uma preponderante e disseminada "depressão severa", que nos atinge em cheio nestes tempos difíceis. Nossos hipotéticos (quer dizer, fazedores de hipóteses) cientistas concluíram que não dá para manter a rigidez desde o princípio em virtude da falta total de rigidez de princípios de nossa classe dominante e, em particular, dos dominadores eleitos, os políticos. Havemos de concordar que não é mole ter uma ereção descompromissada, sabendo que o desemprego em SP atinge o recorde histórico de 20%, que os ministros ficam armando nos telefones celulares e outros tantos escândalos que concorrem para inibir qualquer possibilidade de obter a dureza do membro.

E mais, esta explicação é oportuna por que, se não for verdadeira, pelo menos dá uma desculpa político-social para a próxima brochada. Poderemos afirmar, então, compungidos:

- Querida, não é sua culpa. O culpado é o Fernando Henrique!

- Ernesto Friedman -


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03junho1999
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