Hanseníase: Vencendo a Ignorância
a informação pode erradicar esta doença
- ernesto friedman -
Somos muito influenciados pelo cinema. Os filmes têm cenas marcantes que nos tocam profundamente e que guardamos conosco pelo resto da vida. Um momento de amor ideal ou a demonstração de dignidade de um herói ficam como referências determinantes para nosso comportamento. Entretanto, as imagens nem sempre nos deixam boas lembranças ou idéias. Entre os exemplos mais famosos da importância do cinema como formador de opinião, há a famosa cena do filme Ben-Hur, quando o herói Judah Ben-Hur, ícone da bondade e da retidão humana, interpretado por Charlton Heston, invade um leprosário para buscar a mãe e a irmã. Revendo hoje a cena, vê-se que foi construída com a sutileza do cinema da época. Pouco foi mostrado dos doentes. A imagem das mutilações provocadas pela lepra foi deixada – muito eficientemente, se diga – para o espectador imaginar. Dessa forma, na falta de uma ferida ou mutilação explícita, cada um que viu o filme preencheu as cenas com as deformidades mais temíveis que sua criatividade pôde produzir. O efeito aterrorizador dessas imagens e medos, extraídos de nós mesmos, ficou impresso na memória popular e contribuiu para reforçar o estigma da lepra (no Brasil, a partir da década de 60, a doença passou a ser chamada oficialmente de hanseníase). Até nossos dias, qualquer pessoa que ouve falar de um doente de hanseníase começa logo a se coçar e vai buscar refúgio a quilômetros de distância. O senso comum é que a hanseníase é uma doença terrível e incurável! E assim ficaram as coisas: aos doentes de hanseníase, compaixão e repulsa.
Dessa história só se pode dizer mesmo é que não há nada mais medonho que a ignorância! O fato é que A HANSENÍASE TEM CURA. Tem cura da maneira mais óbvia. Toma-se um remédio e fica-se bom. Acabou. Ponto! As incapacidades físicas são evitadas iniciando-se o tratamento aos primeiros sinais da doença. A hanseníase, hoje, não devia preocupar mais ninguém. Não deveria mais existir. Não deveríamos falar mais dela. Mas aí está o problema: falta de informação! A ignorância é que mantém a hanseníase viva. Em áreas mais pobres de países como o Brasil, a doença é completamente ignorada pela maioria da população e, mesmo, por médicos e autoridades sanitárias. Por isso a hanseníase ainda é endêmica em nossa terra. O Brasil apresenta uma média de 40 mil novos casos por ano, que nos coloca no mesmo nível da Índia ou de países pobres da África. A hanseníase tem que ser objeto de campanhas públicas de informação. Hanseníase tem que ser notícia!
Mas, há luz no fim do túnel! Atualmente, no Brasil, um forte movimento social busca vencer a ignorância e atingir o objetivo proposto pela Organização Mundial de Saúde de "acabar com a hanseníase como problema de saúde pública até o ano 2005". Este movimento conta com apoios importantíssimos de personalidades públicas como o cantor Ney Matogrosso, o ator Ney Latorraca e o compositor e sanfoneiro Targino Gondim.
Ney Matogrosso se indignou quando soube que ainda existe um número enorme de adultos e crianças doentes sem serem tratadas. Eles estão destinados a ter seqüelas para o resto da vida. Ney ficou fortemente impressionado de isso acontecer com uma doença que deixa de ser contagiosa assim que se inicia o tratamento (que é gratuito) e que os doentes podem ser atendidos em qualquer posto de saúde. Entretanto, Ney Matogrosso não se imobilizou em sua indignação. Ele não se calou. Partilhando sua notoriedade de artista consagrado, ele conclama a sociedade e as autoridades sanitárias a buscarem a eliminação desta vergonha da Saúde Pública em nosso país. Junto com o MORHAN – Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase, vai a cidades longínquas do país, visita antigos hospitais de isolamento, investindo contra preconceitos, falando e explicando à comunidade e autoridades como curar e evitar o surgimento de novos casos, principalmente nas crianças.
Outros líderes sociais - como o ator Ney Latorraca e o sanfoneiro Targino Gondim - se juntaram à luta para informar à população que A HANSENÍASE TEM CURA. São profissionais que emprestam seu nome e dedicam seu tempo esta causa. As alianças e parcerias crescem. São diretores de cinema, fotógrafos, produtores de imagem, que se juntam para produzir filmes e spots de rádios para a campanha de esclarecimento. Nos próximos dias, o estado do Piauí e alguns municípios de Pernambuco e da Bahia verão, nas principais emissoras de TV e de rádios, os Neys, Targino e outros trazendo o que mais precioso eles tem - suas vozes, sua arte - para eliminar esta doença, que só o desconhecimento explica continuar entre nós. Estes artistas nos mostram, com a objetividade e nobreza de seus atos, que a ignorância também tem cura. E a informação é o melhor remédio!
para mais informações sobre a hanseníase: ligue TELEHANSEN 0800 262001
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03.02.2003
Meu nome é Cátia. Eu visito o Leprosário de Pirapitingui em Itú há mais ou menos 5 anos e tenho muito carinho pelos internos de lá. O lugar é simples mas as pessoas que lá vivem nos trazem muita paz. Estes meus amigos possuem uma beleza que nem as modelos mais famosas possuem. A beleza que vem de dentro. A vila possui casas simples mas com uma natureza exuberante. Árvores frondosas e flores lindas. Este lugar está atualmente sendo invadido por assaltantes e malandros, e os moradores que vivem sozinhos se sentem ameaçados, além de outros problemas, como o medo de serem transferidos para o hospital, já que na sua maioria são pessoas acima de 60 anos. Por esta razão gostaria de fazer um trabalho de resgate histórico destas comunidades. Resgatar possíveis imagens que existam desses lugares e dessas pessoas que ainda vivam nestas comunidades. Para que isso aconteça gostaria que me enviassem nomes de livros, filmes, fotos, material histórico escrito e visual para a montagem de um projeto de mestrado no qual eu consiga desmistificar e desconstruir essa imagem tão negativa dessa doença. Obrigado. Adorei o artigo. Cátia.
27.07. 2001
Nós daqui do sul do país também estamos na luta de vencermos a ignorância sobre a cura da hanseníase.
Há muitos anos temos tentado reduzir esta vergonha no Estado do Rio Grande do Sul. Esperamos que como vocês outros venham a ser nossos parceiros na eliminação desta vergonha em nosso país. Dizemos vergonha por que é inadmissível termos toda esta tecnologia (que até me faz me comunicar com vocês) e ainda vermos em nosso convívio pessoas sofrendo com dor por que a ignorância sobre este tema ainda é muita grande.
Obrigadão pela oportunidade.
Abraço
Alda Py Velloso
Coordenadora do pré-núcleo do MORHAN de Porto Alegre-Viamão
aldapy@terra.com.br
23.07. 2001
Prezado Ernesto,
Foi com prazer que li seu artigo, e o divulgarei em breve para mais de 1100 pessoas que compõe a rede MORHAN NET.
Quero dizer que como um dos líderes do MORHAN no país, consideramos a desinformação que acompanha a hanseníase, minimamente criminosa.
Acho que juntamente com a formação de Recursos Humanos, descentralização do tratamento e talvez até mais importante que tudo isso, a informação deveria ter um trato especial.
Informação é um instrumento importante na conquista da cidadania real, e desta forma não deve existir conceitos ( ou desculpas) de áreas prioritárias. INFORMAçÃO PARA TODOS, ao nível de entendimento de cada um, e se utilizando todos os meios. Ela deve chegar inclusive para quem não lê, para quem não tem rádio e nem TV. Para aqueles excluídos, em que sobreviver é mais importante do que a mancha dormente. E por fim esta informação deve ser mobilizante, capaz de produzir CURA! de mudar conceitos e vencer pré-conceitos. E um dos maiores preconceitos é o da LEPRA ou o Leproestigma... Nem a hanseníase ainda conseguiu vencer isto!
A pouco lendo um livro de Jô Soares ( O Homem que Matou Getulio Vargas), existia um capítulo, descrevendo um encontro com leprosos na Ilha Grande, e a descrição é de dar inveja a Ben Hur, Papillon, Dom Quixote e outros... Isto não mudaremos na Cultura Mundial... é preciso construirmos sim o conceito da hanseníase, que tem tratamento e cura!
Um abraço
Artur Custódio Moreira de Sousa
Coordenador Nacional do MORHAN
Membro do GT CONASEMS
arturmorhan@uol.com.br
01.07. 2001
Como o Dr. Jair Ferreira, parabenizo a contribuição de Polemikos para divulgar este tema. Somente com a participação de todos venceremos a ignorância que ainda faz tantas vítimas de hanseníase no nosso país.
Vera Andrade
Coordenadora do GT/HANSEN/CONASEMS
28.06. 2001
Com prazer li seu comentário, tão lúcido, sobre o problema da hanseníase no Brasil e sobre a importância do engajamento de artistas de renome no combate a essa doença. Falo na condição de membro do Conselho de Especialistas em Hanseníase da OMS e de médico sanitarista que sempre se dedicou à eliminação da moléstia em nosso país. Seu artigo ressalta com propriedade o papel que a ignorância exerce na disseminação da doença. Por isso, os órgãos de comunicação social devem se aliar aos serviços de saúde pública na divulgação dos conceitos corretos sobre essa grande endemia nacional. Seu artigo é um exemplo. Parabéns.
Jair Ferreira - Prof. de Epidemiologia - UFRGS
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