Futuro Auto-Realizável

Importante descoberta, relatada no número desse mês da revista Science, promove relevante avanço na compreensão de áreas díspares do conhecimento tais como probabilidade, neurologia e parapsicologia. O pesquisador inglês Thomas Devours, reconhecido pela seriedade de sua pesquisa no campo dos fenômenos premonitórios, divulgou trabalho em que se combinam simplicidade com resultados de grande abrangência. O núcleo da teoria de Devours é a percepção de que as probabilidades associadas a eventos onde seres humanos tomam parte não são tão somente obra do acaso. O indivíduo é mais que o eterno observador da natureza - diz Devours - ele muda as chances do que acontece a sua volta. Segundo o estudioso, as expectativas de uma pessoa em relação ao universo que a cerca é fator decisivo na determinação dos eventos ligados a essa pessoa. A ponte traçada por Devours entre o desejo e o fato apresenta similaridades com conceitos, hoje aceitos, onde elementos antes tão distintos, se mostraram em permanente interação. Um exemplo, oriundo da física einsteniana, é a surpreendente ação recíproca entre luz e massa. Aos olhos do leigo, ainda parece surpreendente que a gravidade cause desvios num raio de luz! Por que, então, a força da vontade do ser humano não pode atuar sobre seu futuro? Anna Gustveen, articulista do caderno de ciência do jornal The Guardian, expressou sua perplexidade pelas descobertas de Devours afirmando: "podemos estar presenciando o momento em que a ciência unifica conceitos freudianos e parapsicológicos".

A peculiaridade da teoria de Devours está em apreciar atentamente (e sem preconceitos) a importância de elementos intangíveis que o senso comum acredita ditarem o futuro (ou chamaríamos de destino?), tais como a fé, a força de vontade e, mesmo, a simples distração. O fato é que, segundo o pesquisador, o ser humano possui, com diferentes graus de força, condições de moldar seu futuro. Devours não diz apenas que nos adaptamos ao cenário futuro. Ele afirma que ajustamos o futuro segundo nossa percepção interior. Segundo Devours, esta capacidade humana é involuntária e só se mostra de modo evidente em decorrência de grandes pressões psicológicas, como, por exemplo, aquelas surgidas em casos extremos de paixão ou fé religiosa. Se as idéias de Devours forem aprofundadas seria o caso de interrogarmos se estamos frente a uma justificativa científica para os milagres? Mesmo tendo boa receptividade no meio científico, alguns críticos já fizeram reparos à teoria de Devours. Afinal - perguntam eles - nós mudamos o futuro ou conseguimos, quando sob estímulo, prever melhor os resultados prováveis e nos direcionarmos a eles? De qualquer modo, são funcionalidades magníficas da máquina humana que não eram encaradas como possíveis anteriormente.

Como é comum nas grandes descobertas científicas, Devours comprovou sua teoria em uma bem desenhada experiência, onde eliminou o desejo voluntário, deixando a força interior do indivíduo fluir. A experiência foi conduzida no Departamento de Psicologia da Universidade de Lorcester, Inglaterra, durante o segundo semestre de 2001, com a participação de estudantes voluntários. Cada participante recebeu um pequeno aparelho, para ser conduzido todo o tempo por ele ou ela. O aparelho consiste em um gerador aleatório de distribuições de probabilidade que controla um sinal verde ou vermelho. Sempre uma das duas cores está sendo exibida. O tempo de exibição de cada cor varia numa distribuição uniforme com duração máxima de 1 minuto. Os estudantes foram orientados para usar o aparelho na avaliação de cursos de ação do seu cotidiano. Assim, por exemplo, se um rapaz encontrava no pátio da universidade uma garota que lhe atraia e pretendia abordá-la, ele observava se a cor apresentada no pequeno aparelho trocava até que o momento que ele chegasse junto à moça. A troca da cor seria uma indicação do seu sucesso junto a pretendida. De modo a eliminar o viés com relação ao procedimento, cabia ao rapaz definir o critério que apontaria seu sucesso na abordagem. Entretanto, foi exigido que os procedimentos considerassem a espera de uma mudança da cor exibida no Avaliador. Segundo Devours, o uso do tempo de espera cria a necessária tensão no indivíduo e ativa seu mecanismo involuntário de determinação do futuro. Devours arrisca dizer que este é o mesmo papel desempenhado pelas orações nos indivíduos tomados por fé religiosa. Como grupo de controle da experiência, utilizaram-se estudantes com aparelhos que não exibiam cores (um típico placebo), apenas com a recomendação de que fossem conduzidos todo o tempo pelos estudantes e que estes tomassem decisões importantes e anotassem seu sucesso ou fracasso. O surpreendente resultado foi a comprovação estatística de que os estudantes que trabalharam com o "Avaliador" tiveram resultados nitidamente mais favoráveis aos seus interesses.

Conforme descrito em seu livro Futuro Auto Realizável (Self-Fullfilling Futur), a ser lançado brevemente no Brasil pelas Edições Fronteira da Ciência, Devours advoga que suas descobertas podem ser usadas rotineiramente, pelas pessoas, para reforçar resultados em suas vidas. O pesquisador acrescenta que não é preciso dispor de aparelhos sofisticados para liberar o potencial humano para alterar eventos futuros. Por exemplo, para avaliar linhas de ação, um motorista pode usar seu tempo livre na direção (quando, efetivamente, está relaxado, só utilizando seus reflexos de motorista) para exercitar avaliações premonitórias baseadas no fechamento do sinal do próximo cruzamento. Alguém andando na rua pode basear seus ensaios no gênero da próxima pessoa a surgir na esquina. Se for mulher é um sinal de sucesso, se homem, um fracasso. As possibilidades são ilimitadas.

Apesar do caráter controverso dos achados do pesquisador inglês, é estimulante vislumbrarmos que a ciência esteja explorando a possibilidade do ser humano atuar sobre seu próprio destino. Será que descobertas posteriores permitirão que aumentemos nosso controle sobre as chances de sucesso na escola, na vida profissional ou no amor? 

- Carlos Ordina -

 
 

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06outubro2002
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