Filme: Crime Verdadeiro, Clint Eastwood


 
 

cinema

Crime Verdadeiro True Crime

um Clint Eastwood bem azeitado

e crime verdadeiro no cinema Leblon

- eugenia corazon -

Em Crime Verdadeiro (True Crime), Clint Eastwood produz, dirige e atua na história do inocente culpado. Aquele sujeito que você sabe desde o início que não é o criminoso. O roteiro lembra o clima do livro (e também filme) Câmara de Gás, de John Grisham, mas numa versão mais comercial. O personagem é um típico Eastwood: problemas com álcool, sucesso com as mulheres, enrolado na profissão, passado problemático. Vocês lembram do Clint Eastwood guarda-costas do presidente? Pois é, ele agora é um repórter.

O filme rola gostosamente. O clima vai se formando. Depois de algum tempo a gente já é cúmplice do diretor e torce para ele não estragar a história. Nosso herói esperto, o repórter Steve Everett, saca o que ninguém viu. Só de maldade com os espectadores, tem um personagem que pergunta para Everett se não é um exagero ele resolver o crime em algumas horas? Com certeza! Mas estamos no cinema, não é?

Até aí acho que estava todo mundo gostando do filme. Os diálogos são bons. Dão chance aos atores de baterem bola entre si enquanto o filme avança. Clint Eastwood está bem como Clint Eastwood. O ritmo é lento, mas não atrapalha. Até facilita você saborear cada cena. Posso dizer a vocês que, até aonde eu assisti, o filme é muito bom. É que os últimos 40 minutos de filme eu não vi. Sabem por quê? Por que o crime verdadeiro do Rio de Janeiro resolveu participar da sessão. Teve um assalto no cinema. Eu conto.

De repente, entra um cara correndo desembalado no cinema. Vai agachado até as primeiras fileiras, pula de uma fileira para outra. Um vulto se levanta perto dele, corre também pelo cinema. Outro corre para a direita da tela e entra num banheiro, batendo a porta com violência. Vocês podem imaginar que a esta altura já havia um belo princípio de tumulto. Os espectadores já repararam que não era uma experiência cinematográfica tipo Woody Allen, com os bandidos saindo da tela. Gente corre para fora da sala, outros se deitam no chão embaixo das cadeiras. Um rapaz me disse depois que ele aproveitou este momento deitado no chão para chamar a polícia pelo celular. Eu e outros espectadores, por imobilismo, falta de iniciativa ou, quem sabe, pura curiosidade para ver aonde Eastwood ia nos levar, continuamos vendo o filme. Não adianta, a violência do Rio não vai deixar a gente, mesmo depois do susto, saber se o negro Beachum, condenado à pena de morte, morre ou não. Gritos da porta pedindo para acender a luz. Mas uma onda de desistentes correndo. E nós, verdadeiros cinéfilos (ou totais idiotas), continuamos firmes, atentos ao filme.

Bem, neste momento passam por mim dois homens andando em direção ao banheiro que, no cinema Leblon, é junto à tela. Um deles é um PM com uma metralhadora na mão, digamos assim, pronta para atirar. Lembrei-me do preparo de nossa polícia e imaginei uma cena para nossa vida real: digamos que o assaltante fosse tão burro como a gente, ainda estivesse ali no escuro e desse um tiro na direção do PM. O policial atiraria de volta na direção de ... bem, continuava tudo escuro, seria na direção de nós todos. A cena seria bastante plástica, impactante, mas a sanidade me acorreu e resolvi que era o momento de partir. Meu comprometimento com a arte também tem limite. E assim foi. Eu saí. Na porta, vários policiais empunhando armas de diversos tamanhos. Logo depois um deles pediu para nos afastarmos que ainda havia um assaltante lá dentro. Fomos todos para a porta do bar Clipper, na frente do cinema, assistir o show.

Não houve mais nada. A normalidade carioca vencera. Parece que os ladrões fugiram de moto depois de saírem junto com a primeira leva que deixou o cinema. O filminho tranqüilo da noite de domingo estava perdido. Ainda insistimos. Voltamos para a sala de projeção, mas só conseguimos ingresso para assistir o filme outro dia.

Pra não dizer que o espírito carioca se perdeu de todo, engraçado era ver a rapaziada do Clipper, de copo de chope na mão, na cara de pau, entrando para ver a continuação do filme. Eles ainda pediam para passar a fita desde o começo para entenderem melhor a história. E, depois, a cara dos malandros recebendo a devolução do ingresso. Um escracho. Esses ganharam a noite.


cotação:  


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10maio1999
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