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cinema
Star Wars é ruim, Matrix é bom
- ernesto friedman -
Não ficava bem deixar nossa crítica de cinema, a musa do celulóide, Eugenia Corazon, fazer a crítica dos lançamentos de ficção científica do momento. A moça é um pouco séria demais para tratar de assunto tão ... tão sério como Science Fiction (SF). Chamaram um especialista. Aqui estou para falar de dois filmes de SF que estão chegando: Star Wars e Matrix.
Os dois filmes têm em comum que contam a história de um predestinado, ou escolhido, ou enviado. Um destes sujeitos comuns como nós, que se vê em qualquer esquina e que não sabem que seu destino é salvar o universo ou outra coisa de importância similar. Durante a aventura do salvador, temos que ouvir muita filosofia barata dita com empostação. Relaxem, é apenas SciFi.
Primeiro Star Wars? Este eu ainda não vi e não gostei. Pra mim isso não é exatamente cinema. George Lucas é aquele diretor que encontrou nas sagas espaciais a possibilidade de fazer muito filme e muito dinheiro. Lucas ocupou o lugar da SF soft, que vem de Flash Gordon, Perdidos no Espaço e Jornada nas Estrelas. Mas ele tem uma desculpa: o fato é que não está fazendo cinema. Ele está no negócio de jogos de computador e coleção de bonecos. De quebra, vai lançar um filme. Entenderam? O negócio de Lucas é marketing concentrado. A Força está com ele. O roteiro do plano de marketing de lançamento do filme deve ser mais animado que a saga do garoto Skywalker.
Como diz o título desse artigo, Star Wars é fraco. É a quarta vez que a gente vai acompanhar a salada bem temperada da luta entre o bem e o mal com molho de efeitos especiais usando computação gráfica. A historinha vai ser bem contada e quem gosta de uma nave espacial vai sair satisfeito do cinema. Mas, mal comparando, a gente pode dizer que Star Wars é o Beatles da SF. Já, Matrix, nos cinemas neste final de semana, apesar das concessões comerciais, tem a pretensão de ser um pouco mais hard. Digamos que seja um Rolling Stones.
O que é que Matrix tem de bom? Algumas coisas. A história é uma variante de Simulacron-3, de Daniel F. Galouye. É a paranóia de que somos apenas uma simulação em computador. Quando Galouye escreveu seu livro, em 1968, era difícil entender a idéia. Hoje, depois de Sim City e os jogos de realidade virtual, fica mais fácil extrapolar a idéia de criar umas pessoinhas dentro de uma máquina. Os irmãos Wachowski pegaram esta idéia, colocaram algumas referências para agradar aos letrados (citar Lewis Carroll é sofisticado, não é?) e fizeram uma produção cara e bem cuidada. Tem mais coisas interessantes em Matrix. Tem uma boa música tecno que dita o ritmo das coreografias (excelentes) dos tiroteios e lutas. Keanu Reeves é o imberbe adequado para o papel de messias digital. O vestuário é tipo MIB com roupas de couro de estilo, muito bem preenchidas pela heroína da história. O roteiro explica, em cada cena, apenas o suficiente para passar para o próximo take. Mas quem está ali para testar a consistência da história? A grande brincadeira da SF é pegar uma idéia e conseguir estendê-la até ter um livro ou filme.
Matrix é bom para uma geração jovem que divide o tempo da TV com o joystick e o teclado. Para os nerds que sonham ser hackers, a fantasia do filme é o máximo. No mais é só isso. SF hard é apenas algo leve que a gente saboreia e descarta mais adiante.
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