Um Lugar Chamado Notting Hill Notting Hill A Princesa e o Plebeu O cinema fabricando sonhos. As histórias sobre amores impossíveis, com cinderelas e príncipes encantados, estão na origem da sétima arte. Há público certo para este filão. Gente que não quer ver violência ou sangue e também não quer filme cabeça ou hermetismos de difícil digestão. Essa platéia, a grande maioria silenciosa, quer apenas relaxar na poltrona e curtir um sonho inverossímil, mas com happy end garantido. Exemplos desse tipo de filme são Sabrina (refilmado recentemente com Harrison Ford) e Pretty Woman. Este último é pouco correto politicamente por apresentar a glamourização da prostituição feminina. Mas os sonhadores não se preocuparam com isso. O final feliz, com o príncipe no cavalo branco, no caso Richard Gere, milionário, numa limousine branca, ofuscou a discussão sobre as prostitutas. Os contos de fadas se caracterizam por serem filmes relativamente baratos. Não têm os custos exagerados dos efeitos especiais. Seu sucesso depende de uma boa idéia e roteiro. Mas quem garante a bilheteria mesmo é o artista famoso que leva o povo ao cinema. O mesmo grupo inglês que fez Quatro Casamentos e Um Funeral, acertaram em todas as frentes com Notting Hill. Fizeram um Pretty Woman às avessas. Fugiram de um tema arriscado, como a prostituição, que poderia por em risco a história. Escolheram o óbvio sonho masculino de esbarrar na atriz mais famosa do mundo. Pegaram emprestada do cinemão americano uma verdadeira superatriz, Julia Roberts – com um cachê de 15 milhões de dólares, 30% do custo do filme – e juntaram a ela um cast inglês de alta qualidade. Mas não foi só engenharia. Os ingleses colocaram o molho do seu humor para tratar a série de situações pouco prováveis. Nisto, o filme, como o sapo beijado pela princesa, ganha o brilho de uma jóia. É a brincadeira engraçada que se assiste com simpatia, prazer e - o cinema é muito envolvente - até lágrimas, percebidas nos espectadores na saída de cada exibição. Que fuga maravilhosa para a dureza da vida real! Julia Roberts está perfeita para o papel. A beleza dessa moça é algo a ser estudado. Ela não é obviamente bonita! Tem nariz comprido. Suas pupilas parecem dilatadas, como se ela estivesse saindo de um exame oftalmológico. Bocas grandes costumam compor bem, mas Julia possui, talvez, a maior envergadura bucal do cinema. Em certos momentos ela parece insípida, sem sal, asséptica. Em outros, passa uma beleza radiosa. Mas, detalhes analíticos não interessam. Perguntem e 99% das pessoas vão dizer que ela é o máximo. Com respeito a sua atuação como atriz (quase esquecíamos), ela atende muito bem. Julia convence como uma Julia Roberts perdida em Londres. Hugh Grant sabe melhor que ninguém interpretar um homem hesitante, indeciso, como também qualquer um ficaria tendo que tocar um caso com atriz de Hollywood. O resto do elenco inglês trabalha sempre melhor do que se espera de coadjuvantes comuns. A participação do grupo é para ser lembrada como especial. O personagem do amigo de Hugh Grant, Spike, é quem dita as risadas do filme. Ótimo. O final do filme tem um eficiente plágio da cena final do clássico A Princesa e o Plebeu (Roman Holiday), de 1953, com Gregory Peck e Audrey Hepburn. Só que desta vez, ao invés da princesa romper o protocolo e declarar que Roma foi a cidade que mais lhe agradou na Europa, a verdadeira princesa deste final de século, Julia Roberts (ou Ann Scott no filme), declara para a imprensa que ficará em Londres "indefinitely". Mais um sonho foi construído. -Ernesto Friedman- |
mais cinema início da página | página principal 02agosto1999 |