Tudo sobre minha mãe Todo sobre mi madre

Almodóvar e o cinema nacional

Sexta-feira, 17 de setembro de 1999, primeira sessão no novo cinema Odeon, depois da reforma e, agora, sob administração do grupo Estação. É evento histórico. O Odeon é o símbolo da Cinelândia. E se a gente ainda conseguir prestar atenção no significado desse nome vai ver que a Cinelândia deveria ser a "terra do cinema". Entretanto, para mim, aquela praça do Centro era apenas uma área decadente cuja referência mais importante com o cinema foi aparecer como cenário de um filme de Hitchcock. Eu nunca tinha ido ao Odeon. Pois é, só agora, depois que o cinema passou por esta reforma é que eu estreei sua sala de projeção. Não ficou nada muito luxuoso, mas está arrumadinho. O local tem estampa. Com a tendência para os cinemas pequenos, o pé-direito do Odeon chega a impressionar. Enfim, um bom cinema, com boa programação, no Centro, vai permitir que se desenvolva o programa de "pegar um cineminha" após o trabalho. Grandes possibilidades!

A organização do festival trocou o filme inglês que iria passar pelo novo Almodóvar: Tudo Sobre Minha Mãe. Foi boa troca. Pedro Almodóvar é mais solene para iniciar o Festival de Cinema do Rio e reabrir o Odeon.

Os filmes do espanhol podem ser identificados sem que vejamos os créditos. Um Almodóvar tem profusão de personagens femininos; tem interiores com cores berrantes; tem personagens extremos, beirando a breguice; reviravoltas no roteiro; tiradas engraçadas. Dentro desse espaço próprio, o diretor domina todas as peças do jogo. Ele sabe fazer as coisas. Assim foi com Minha Mãe. Como em Carne Trêmula, o roteiro também entrelaça as vidas dos personagens, só que desta vez, criando uma família com um inusitado patriarca de ombros largos e seios de silicone. Os relacionamentos se tecem como um Tarantino sem violência. Almodóvar nos conduz pelo seu universo de mulheres e travestis prestes a terem um ataque de nervos. Os homens são meros coadjuvantes.

A fotografia cuidada e, em particular, o jogo de cores fazem parte do estilo Almodóvar. O colorido forte e a Barcelona de Gaudi reforça a textura do filme. Há uma original seqüência para um atropelamento. Nada de efeitos especiais, apenas criatividade.

Vocês não devem ter reparando mas o título desse texto é "Almodóvar e o cinema nacional". Por que? Eu digo. É que sempre que assisto um filme como esse me vem uma forte sensação da incompetência do cinema brasileiro. Filmes do tipo de Tudo sobre Minha Mãe poderiam ser feitos aqui com baixo orçamento. Almodóvar não precisa mais economizar por que já é famoso e tem dinheiro para investir na produção. Mesmo assim o filme é barato. Para fazê-lo, não precisa todo esse choro para obter recursos do governo ou seja lá de quem for. Por que não fazemos? Falta o roteiro? Falta o diretor? Falta a competência?

cotação:

-Eugenia Corazon-


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19setembro1999
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