Próxima Parada Wonderland Next Stop Wonderland

 
 

À procura do acaso

A bossa nova marca uma época do Rio de Janeiro. É só ouvir e se transportar aos anos 60. Nostalgia, assistir aos filmes do Canal Brasil. Aqueles em preto e branco. Ver Copacabana cheia de casarões. As moças desfilando com biquínis enormes e com cabelos - melhor dizendo, esculturas – imunes a qualquer ventania. Os carros passeando devagar.

As pessoas viviam em outro ritmo. Mas isso é outra história. Aquele Brasil só existe nessas películas. Há no caminho uma enorme pedra que a ditadura se encarregou de colocar. A bossa nova traz esse país de volta, pelo menos na fantasia.

Grata surpresa foi ver Próxima Parada Wonderland. O curioso dessa história toda é que não me indicaram esse filme, nem eu o conhecia. Peguei-o aleatoriamente. Acho que ele me escolheu.

Comecei a assistir sem ter a menor noção do que me esperava. De repente... a nossa velha bossa nova. Durante todo filme ela está presente. Desafinado, Batucada, Corcovado, Garota de Ipanema e por aí vai. Do princípio ao fim. Até nos créditos!

O filme trata do comportamento humano. Discute se os fatos da vida são predestinados ou não. Explora com exatidão os encontros, coincidências e buscas das pessoas. Aquelas comuns, que vemos no metrô, nos bares e nas ruas. A solidão é sentida da mesma forma e as dores de amor também. E não precisa se estar só para se sentir sozinho.

O roteiro é muito bem costurado. Dá uma certa ansiedade presenciar os desencontros. O acaso. O quase. O estar mais perto do que se imagina da sua alma gêmea. Engraçado também é o desfile de homens tão diferentes fisicamente mas tão parecidos no temperamento e nas atitudes. Os pobres, crentes que convencem! Anos-luz atrás da perspicácia feminina.

A cada cena, uma descoberta e uma interpretação. Cada um vai senti-lo à sua maneira, mas vai senti-lo com absoluta certeza.

Para quem gosta de bossa nova, o filme é um prato cheio. Comete apenas um ínfimo deslize. O Brasil não é mostrado como realmente é. Pelo menos os erros não são os mesmos de outras produções que nos viam como a terra da maraca e do olé. Tudo bem, dessa vez desculpamos. A intenção e o argumento são muito bons.

A direção é de Brad Anderson. No elenco, muita gente nova e talentosa, como Hope Davis, Alan Gelfant, Victor Argo, Jon Benjamin, entre outros.

Divertido é tentar se reconhecer em cada um dos personagens. E olha que os "tipos" apresentados são muitos! Porém, como o ser humano não é muito criativo, há sempre um clone da gente andando por aí, mesmo que falando outra língua.

- Renata Mafra -
colaboradora

 
 

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07dezembro1999
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