Felice, Felice

Felice, Felice conta a história do fotógrafo holandês Felice Beato que retorna ao Japão em busca de seu grande amor, a japonesa O-Kiku. Fala do amor e das desventuras de uma separação. Fala da dificuldade de amar e ser amado. Da assimetria entre a certeza do amante pelo objeto do seu amor e a incompreensível indiferença que este objeto lhe dedica. O diretor Peter Delpeut escolheu uma bela metáfora para tratar o tema. A incompreensão, as dificuldades de linguagem, a visão distinta com que os amantes percebem as relações, são tratadas através do difícil relacionamento entre pessoas das culturas ocidental e oriental. Para isso, Felice, Felice contrapõe um civilizado senhor europeu com uma humilde mulher japonesa. A solução não é nova na literatura e cinema. Seu uso, no caso, mais uma vez, funcionou bem.

Felice, Felice é lento e seco em recursos como um jardim de areia. A jornada do fotógrafo através do Japão é mostrada através de seus encontros com os personagens ligados ao passado do antigo casal. Cada entrevista com um personagem compõe um quadro onde surgem as informações que vão recompondo o que aconteceu. Cada personagem é competentemente trabalhado. Os detalhes da direção de atores são preciosos. O pescador, interpretado por Yoshi Oida, e a prostituta que morre de sífilis são pérolas de interpretação.

Em Felice, Felice, o cinema é uma arte minimalista, centrada nos diálogos e expressões faciais. O filme conduz a sensações opostas conforme quem assiste: ou se fica cansado do ritmo, dos longos diálogos, da contida troca de emoções que passa na tela e vai-se embora no meio do filme; ou se mergulha encantado no preciso fluir de sentimentos da história. Fiquei no segundo grupo.

No filme, a fotografia é a metáfora da memória do amor perdido. Ela é usada com parcimônia. Alguns momentos de grande criatividade são proporcionados por cenas com pouca profundidade de campo ou com uma iluminação perfeita para os atores. O uso das fotos originais do fotógrafo Felice e seu discípulo japonês garantem a ambientação no Japão do final do século passado. O resultado é muito bom, se considerarmos que o filme foi todo rodado em Amsterdã.

A ritualidade japonesa, a etiqueta no trato social, o extremamente formal relacionamento entre as pessoas na cultura nipônica servem para realçar o significado das emoções que os atores deixam transbordar nos personagens. A estética das cenas finais, com o desfecho da história, concentra a tensão da história. Amor, desencontro, respeito, destino, formalidade, contrição compõem esta visão ímpar do tema.

Felice, Felice é um bom filme. Valeu a ousadia dos autores. Vale nossa excursão a esse universo dos amores impossíveis.

cotação:

- Eugenia Corazon -

 
 

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25janeiro2000
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