Filme: Beleza Americana, Sam Mendes


 
 

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Beleza Americana American Beauty

as belas doenças da américa

- ernesto friedman -

Beleza Americana é muito bom. Mas tem alguma coisa errada com ele. O que será?

O filme foi feito para ganhar. O tema é de alto nível. A crítica do way of life americano é coisa de quem quer agradar a intelectuais. A direção de atores impressiona. Os atores Kevin Spacey e Annette Bening fazem um pas-de-deux exuberante que consagra a dupla – com justiça – como pertencente ao primeiro time de Hollywood. O cachê dos dois vai subir! Os outros atores e personagens também estão muito bem. Este é o ponto forte de Beleza Americana. É bom assistir os atores em ação.

O filme dirigido por Sam Mendes tem o objetivo de criticar a sociedade americana. Daí que todos os personagens carregam e nos mostram facetas da neurose ianque. A luta pelo sucesso a qualquer custo da esposa vendedora de imóveis; o marido que percebe o vazio da tediosa rotina diária de correr atrás da grana; a teenager e o atualíssimo culto à beleza física; a inquietude da jovem sem perspectiva e sem comunicação com os pais; o conformismo cínico do filho de um militar super autoritário (que tal um nazista?); a esposa esmagada pela autoridade absoluta do marido. Enfim, um desfile de tipos extremos de lugares comuns da sociedade americana. Uma série de cartões postais de suas mazelas e doenças.

Pronto! É isso! O que incomoda em Beleza Americana é a busca premeditada do sucesso. É o uso de bom cinema para fazer um filme controladamente exagerado. Voltado para ganhar – e já ganhou, vejam-se os Globos de Ouro conquistados – a aprovação da crítica e cativar a pretensa inteligência dos americanos. Beleza Americana é filme construído para ganhar Oscars nos principais quesitos: melhores filme, direção, roteiro, ator e atriz. O filme se adapta, se molda, para manter este ambicioso e lucrativo objetivo. Os personagens são interessantes e perfeitamente representados, mas são sempre estereótipos, prontos para serem entendidos. Não há insinuação. Não há sutileza. São todos figuras extremas que impressionam fortemente para facilitar a lembrança na hora da escolha dos prêmios de festivais de cinema. Os personagens são todos histéricos como a mãe interpretada no filme por Annette Bening.

Beleza Americana pertence a mesma classe de filmes que Felicidade e Tempestade de Gelo. Este último também tem o obrigatório final trágico (filme sobre a sociedade americana que se pretenda sério tem que matar alguém para sublinhar a seriedade), mas é mais sutil na definição de personagens, no caso, interpretados por excelentes Kevin Kline e Sigourney Weaver. Também, pudera, o diretor era Ang Lee. Beleza Americana, entretanto, tem que mostrar tudo com cores fortes. Para estimular nossa retina e emoção coloca o vermelho de pétalas de rosas sobre o branco. Algum humor entra na receita para reforçar o formato de crítica mordaz. Kevin Spacey está ótimo. Ele, doidão, após fumar unzinho, é uma simpatia. A histeria da personagem de Bening, personificando uma estressada competitiva mulher americana, nos deixa entre se compadecer do seu sofrimento ou rir de sua rica vida miserável. Com isso, o roteiro só precisa amarrar as cenas para chegar ao final anunciado. É um bom filme, a gente sai do cinema com um gosto doce na boca. Mas fica o travo do aspartame.


cotação:  


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26fevereiro2000
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