Regras da VidaThe Cider House Rules

 
 

Clélia Riquino colaboradora

A simplicidade comove

A primeira cena de Regras da Vida (The Cider House Rules) me fez pensar na importância da escolha da primeira imagem de um filme (assim como os primeiros parágrafos de um livro). Extrair da história ou do ambiente em que ela transcorre algo que situe quem a está assistindo (ou lendo). Neste aspecto, o diretor sueco Lasse Hallström foi bastante feliz. Com a cena inicial, mostra o isolamento e a marginalização (geográfica e social) de um orfanato, que é também "maternidade" e "clínica de aborto". Irônica relação: os bebês que nascem neste lugar são lá deixados para serem adotados e outros nem chegam a nascer, pois têm sua vida embrionária interrompida. Duas formas distintas de rejeição.

O filme traz uma delicada e sensível abordagem de temas como aborto, adoção e incesto. O interessante é que não há julgamento moral da atitude das mães ou futuras mães que procuram naquele lugar a solução dos seus problemas. Esta é a ótica do médico responsável pelo orfanato, interpretado pelo ótimo Michael Caine (que concorre ao Oscar de melhor ator coadjuvante por este papel). Ser útil, ajudar as pessoas da melhor maneira possível, sem julgá-las.

Seu pupilo, o talentoso e cativante jovem ator Tobey Maguire (o mesmo de A vida em preto e branco - Pleasantville, 1999), é levado a seguir os passos do veterano médico, como se aquele lugar, aquela rotina e aquele ofício fossem sua "herança". Mas ele ambiciona mais, ele quer conhecer o mundo além daquele limitado espaço, quer ver o mar, quer descobrir e vivenciar o amor.

A atriz Charlize Theron (mulher de Keanu Reeves em Advogado do Diabo - The Devil’s Advocate, 1997) com sua jovialidade, beleza e carência, conquista o rapaz. Destaque para a bonita cena em que ela está deitada nua de costas, que me fez lembrar Helen Hunt sentada na banheira em Melhor é impossível (As good as it gets, 1997), ao lado de Greg Kinnear.

Destaque também para a interpretação de Delroy Lindo, líder negro dos trabalhadores da fazenda e sua filha, a cantora Erykah Badu, numa boa e convincente atuação.

As crianças do orfanato são encantadoras, dá vontade de levá-las todas para casa. Difícil evitar as lágrimas em certas cenas. Mas apesar de melodramático, o filme não cai na pieguice nem em clichês característicos do gênero. A intenção do diretor não é fazer chorar, mas as situações, por si, emocionam e os temas abordados requerem, sem dúvida, reflexão e envolvimento.

Inegavelmente um dramalhão. Mas dos bons.

cotação:

 
 

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20março2000
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