Eu,Tu, Eles Vidas Secas Na primeira cena em que Regina Casé fala alguma coisa, tem-se a impressão que seu carioquês vai botar tudo a perder. Mas isso felizmente não ocorre. Ela está impecável no papel da mulher nordestina, sofrida, nascida e vivendo no sertão. Mostrar a vida nesse sertão é um dos grandes méritos do filme Eu, Tu, Eles de Andrucha Waddington. No filme, o sertão é mostrado sem estereótipos e sem romantismo. A vida dura daquela gente, a falta de opções e principalmente a falta de perspectiva faz qualquer um de nós se sensibilizar. Pra essa gente do sertão não há futuro. E é disso que o filme trata. Nos mostra os relacionamentos sem o tipo de amor a que estamos habituados na zona urbana, principalmente nas grandes cidades. Mas ao mesmo tempo, nos mostra que mesmo em meio a todo esse sofrimento, há lugar para algum ternura. É impossível não se entristecer ao ver nossa gente sofrendo tanto. Há um realismo que fere e que choca no filme mas apesar disso, através dele, mais pessoas vão poder saber e acreditar que é assim que vive grande parte do nosso povo. O filme mostra como é difícil ganhar algum dinheiro no sertão e como as pessoas lutam para não precisar tanto dele. Uma coisa interessante no filme, é perceber as opções que as pessoas têm de lazer. O forró e o som da sanfona, zabumba e triângulo, permanecem no filme quase o tempo todo. Aliás, é um grande prazer ouvir tantos baiões, alguns deles clássicos. O trabalho musical ficou a cargo de Gilberto Gil e ele entende, como poucos, desse tipo de música. Fica inclusive a dica para ouvir o CD de Gil com a trilha sonora do filme. Realmente muito bom. Mas a melhor coisa do filme é o trabalho de Stênio Garcia. Ele ultrapassou qualquer expectativa, mesmo daqueles que sabem o quão bom ator ele é. Seu Zezinho está impecável, irrepreensível. Ele efetivamente rouba a cena. Me dá sempre um enorme prazer assistir ao trabalho de um ator assim. Fiquei maravilhado. Eu, Tu, Eles é um filme desconcertante. Principalmente por nos acordar, nos mostrar como nosso país é heterogêneo e injusto. - Arnaldo Heredia - envie agora seu comentário sobre este artigo mais cinema Início da página | homepage Polemikos 03setembro2000 |