Coisas que se pode dizer só de olhar para ela 
Things you can tell just looking at her

Quadros numa exposição

Rodrigo Garcia, que dirige e escreve este Coisas que se pode dizer de uma mulher só de olhar para ela, iniciou sua carreira no cinema como operador de câmera e, mais recentemente, foi diretor de fotografia. Esta é a primeira oportunidade como diretor desse filho do escritor Gabriel Garcia Marques (o filho não esquece de citar o pai: o livro Cem Anos de Solidão aparece, discreto, numa cena). Provavelmente, a experiência atrás da câmera influenciou a idéia central que distingue o filme. Através do uso de close-ups de atrizes em atuações excelentes, Rodrigo nos leva a observar os detalhes dos sentimentos dos personagens. Cada contração da face, mudança de olhar, sorriso contido, nos traz um pouco mais de informação sobre as tantas mulheres que o filme mostra. É emocionante. A combinação da competente atuação das atrizes, com o artifício de personagens descreverem outros personagens "só de olhar para eles", fornece munição para o proposta de aprofundar mais e mais o retrato das personalidades e sentimentos das mulheres mostradas no filme. 

A qualidade especial do filme está nos momentos de extrema sensibilidade passados pelas competentes atrizes que desfilam suas atuações. Glenn Close abre o filme com um ensaio sobre a ansiedade da espera. Calista Flockhart – a antipática magérrima da série de tevê paga Ally Macbeal  – compõe tocante representação da dor da perda da companheira. Holly Hunter apresenta uma Rebecca fria, dominadora, controlada, que transborda de desespero após fazer um aborto. A solidão de uma rua dos EUA, o descolorido da cena e a dor interpretada por Holly Hunter compõem momento perfeito do uso de imagem como interprete de uma emoção. Tem-se também a bela Cameron Diaz, como uma cega que diz tudo sobre as mulheres "só de olhar para elas".

Rodrigo Garcia nos fala sobre relacionamentos, solidão, perdas, amor e usa mulheres como nobres depositórios de emoções. Ele tem o crédito de ter juntado uma constelação de atrizes (dizem que elas trabalharam quase de graça) e arrancado do grupo uma série de densas representações. O roteiro funciona para criar os pontos altos onde cada atriz mostra o que sente ssua personagem. Já a história da escritora de livros infantis Rose (Kathy Baker), sua excessiva intimidade com o filho e a atração pelo vizinho, um anão, são um pequeno e curioso conto dentro do filme. 

Uma personagem, Carmen (Elpidia Carrillo), aparece persistentemente nas diversas histórias, criando uma ligação entre elas, apesar de pouco sabermos sobre sua vida. É a sensitiva cega Carol (Cameron Diaz) que sugere uma história comovente e plausível para ela. Entretanto Rodrigo Garcia exagera no tom e generaliza o entrecruzar de histórias, fazendo os personagens aparecerem a toda hora nas vidas dos outros. Alguém pode desculpar o autor dizendo que é uma referência à semelhança entre a solidão e desencontros das vidas das mulheres do filme, mas fica uma solução frouxa que tende a confundir o espectador que busca um motivo para tantos encontros. Afinal, o intrincado jogo de aparece-aparece se mostra apenas uma pretensiosa demonstração de estilo do autor. Não precisava! Outra dúvida fica com o uso, por Garcia, de uma sombra escura na parte alta da tela, em vários trechos do filme. Era para escurecer o céu? Passar uma sensação sombria? Concentrar a atenção nos rostos na região inferior da tela? Eu não captei. Pensei que o projetor do Estação Botafogo estivesse com defeito.

Bem, no cômputo geral, Rodrigo Garcia se sai com saldo positivo. O velho Gabriel pode ficar orgulhoso de alguns parágrafos de cinema que o filho produziu. Com esta estréia na direção, Rodrigo entra com o pé direito no clube dos diretores. Aguardamos o próximo capítulo.

cotação:    

- Eugenia Corazon - 


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28julho2001
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