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Amnésia Memento

Amnésia é um filme do tipo conceitual. Daqueles que se prendem a uma idéia de roteiro e constroem toda a obra em torno e dependentemente dessa característica. Dos filmes recentes que podemos colocar nesse grupo, Corra, Lola, Corra é um exemplo marcante. Nele, são explorados, repetidamente, possíveis desdobramentos de uma história. Corra, Lola, Corra quase cai na armadilha da proposta repetitiva. Mas se salva e é interessante. Outro, como o Dia da Marmota (Groundhog Day) criou um cult, onde a repetição da história e suas variantes mostram criatividade finamente lapidada. Filmes desse tipo enfrentam o desafio de juntar, à proposta da forma de contar a história, o recheio que torne o filme mais que o exaustivo repetir da idéia básica. Para não esquecermos de citar, Rashomon, do mestre Kurozawa, é a expressão do conceitual tratado com máxima competência para mostrar diferentes versões de uma história.

Amnésia trabalha com a ordem com que a história é contada. Pulp Fiction, de Tarantino, também inverteu a apresentação do tempo. Almodóvar, em seu Carne Trêmula, apresenta uma trama onde só sabemos aos poucos a interligação entre os personagens. Mas a coisa é tão natural que nem nos damos conta do refinamento da forma. Para nos apresentar um homem cuja memória recente é volátil, Amnésia usa o artifício de contar a história de traz para frente. É eficiente. Ficamos com a sensação de desinformação parecida com a do personagem. É o ponto alto do filme.

Amnésia? Bem, o nome brasileiro do filme, de modo a garantir a atenção imediata do público, substitui o belo e correto nome em inglês: Memento. Curioso, é que Memento é palavra latina e está no Aurélio. Em latim quer dizer "lembra-te". Uma das definições do dicionário é plenamente afinada com o tema do filme: "Papel ou caderneta onde se anotam coisas que devem ser lembradas." Amnésia conta a história de um sujeito que, depois de um acidente, perde a memória dos acontecimentos recentes. Ele precisa, então, se guiar por um memento que lhe ajude a saber sobre seu passado próximo, o que ele fez, quem são as pessoas que o cercam e qual o propósito de sua vida. Sem dúvida, uma "condição" curiosa e que o leva a estranhas situações. O conceito adotado pelo diretor Christofher Nolan é contar a história do fim para o começo confirma que anunciar uma morte não inclui dizer, desde já, tudo que levou àquele acontecimento. O uso radical da idéia garante lugar para Nolan como referência futura no cinema. Sua brincadeira não será olvidada. A radicalização do estilo, entretanto, é também seu ponto fraco. A história contada não tem valor algum a não ser se adaptar a narração no complicado formato reverso e alguns espectadores devem ficar completamente aturdidos com o formato. Entretanto, vale apontar que Nolan consegue curiosas situações derivadas da fluida memória recente de Leonard.

Não há muito mais a falar do puzzle Amnésia. O filme é para assistir atento como se estivesse jogando videogame em modo acelerado. Cada detalhe é necessário para reconstruir a história conversando depois com os amigos e ajustando todas as partes do quebra-cabeças. Pode-se dizer do ator principal Guy Pearce que ele tem o físico adequado para o papel. A bela Carrie-Anne Moss (Matrix) chama atenção pela beleza e o conhecido segunda linha Joe Pantoliano é um parceiro enigmático do personagem principal. Na verdade, uma história deste tipo permite que os personagens sejam qualquer coisa. Quanto menos o ator expressar melhor, facilita as surpresas.

Uma nota curiosa é que o personagem central de Amnésia é cópia descarada de outro que aparece em Wintersleepers (Inverno Quente - Wintersleepers), filme alemão, coincidentemente do mesmo Tom Tykwer, de Corra, Lola, Corra. Em Wintersleepers, o personagem René tem a mesma deficiência de memória obtida em um acidente, como o Leonard de Amnésia. Ele também tira fotos para saber sobre seu passado. Mr. Nolan fez um belo plágio. Mas como ninguém lembra mais de Wintersleepers, não há problema, lembraremos de Nolan

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23setembro2001
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