Houve uma Vez Dois Verões

houve uma vez um verão brasileiro

- ernesto friedman -


cotação:  

Dois filmes brasileiros estão em cartaz em salas do Estação Ipanema: Houve uma Vez Dois Verões e Separações. A princípio, a única coisa que os une é o fato de serem brasileiros. É fato de alguma relevância já que não há tantos filmes nacionais por aí. Mas a importância dessa conjunção vai além. Vejamos. Os dois são produções baratas, coisa comum no produto brasileiro, entretanto, o baixo orçamento, nestes casos, reforça a qualidade dos filmes, obtida, não pela tecnologia, mas, pela criatividade do roteiro. Estes filmes são, enfim, a prova cabal de que cinema brasileiro não precisa subsídio, efeito especial ou seja lá o que for. Precisa apenas de competência. Por exemplo: a fotografia de Houve uma Vez é primária, é quase amadora. Em várias cenas, a resolução da imagem fica comprometida. Parece um 16 mm. Um crítico mais apaixonado poderia dizer que o efeito final empresta certo charme expressionista. Mas, parece que é mesmo problema de qualidade da película. E daí? Isto não impede que o filme agrade e venha a ser um marco deste verão para os adolescentes da zona sul. O som de Separações também é esquisito. Em muitas falas, parece que o sincronismo entre movimento da boca e a voz sofrem de incômoda defasagem. O fato do personagem de Domingos de Oliveira passar boa parte do filme alcoolizado permite imaginarmos que a causa do som precário é problema da língua enrolada causada pelo whisky. De novo, e daí? As eventuais deficiências técnicas não abalam a qualidade desses filmes porque as duas obras têm um ponto em comum que garante o sucesso: os textos são muito bons. São excelentes. Os diálogos são o que nos amarra a atenção. Seja a conversa hilariante entre dois adolescentes na explosão dos hormônios, numa praia menos conhecida do sul do Brasil, ou um papo cabeça sobre relacionamentos de um homem mais velho e sua mulher mais jovem nos bares da praia mais aristocrática do Brasil, o Leblon, os dois filmes trazem textos inesquecíveis. Vale lembrar que nesta área o filme brasileiro tem vantagem óbvia sobre o produto importado e que deve ser explorada pelos nossos cineastas: a identificação com o que está sendo dito em nossa língua mãe. Não precisamos entender os problemas e a estética de um teenager americano para ver Houve uma Vez. Também não precisamos entender as neuroses de um novaiorquino de Manhatan para acompanhar o discurso de Domingos de Oliveira em Separações. Sintetizando: em sendo brasileiros vocês estão completamente preparados para ver os dois filmes. Vejam.

Houve uma Vez Dois Verões é o primeiro longa dirigido por Jorge Furtado, diretor do premiado curta Ilha das Flores. Em entrevista ao jornal O Globo, Furtado, reforçando a importância do texto em seus filmes, disse: - Eu não sou um diretor que escreve os próprios roteiros, mas um roteirista que dirige seus filmes para que os roteiros sejam cumpridos. A história de adolescentes em férias descobrindo o sexo e um inusitado caso de amor - mais improvável do que Eduardo e Mônica - conquista a platéia. O filme tem outras coisas boas. O garoto Juca, interpretado por Jorge Furtado, filho do diretor, é um personagem de nos fazer balançar na cadeira de tanto rir. Seu jeito blasé combinado com o exótico sotaque do sul - pelo menos para nós cariocas - é hilariante. O bom rock and roll escolhido para trilha sonora cria clima para o passado contado em flashback e reforça a referência do título ao clássico Houve um Vez um Verão (Summer of ‘42), de 1971. Ainda há a musa do filme, Roza, interpretada por uma bonita Ana Maria Mainieri, que vem cavando seu lugar nas telas. A moça tem futuro.


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19janeiro2003
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